capitulo dois

1278 Palavras
— Não é o que parece! Ele grita. Ele se levanta da cama, coloca rapidamente as cuecas, as que dei no ano passado no seu aniversário, e gesticula com força. Olho para ele de maneira repulsiva, olho para a mulher do mesmo jeito. Ela está enrolada no edredom. Tem o cabelo loiro desbotada e os olhos muito abertos com a surpresa. — Não é o que parece! Gael repete, como se eu não tivesse ouvido a primeira vez. Por um segundo, eu quero acreditar. Seria muito mais fácil engolir a suas mentiras do que aceitar que o meu noivo, o homem com o que tenho passado todos os domingos aninhada nos últimos dois anos, está me traindo da pior maneira. Mas não se pode negar, porque é exatamente o que parece. A ira enche minhas veias como se eu fosse um tanque de gasolina. Tudo o que eu preciso agora é de um fósforo. — Então o que é? Exijo, com os olhos muito abertos. — Vocês estavam conferindo quem tinha piolhos? Ou ela perdeu um brinco dentro das suas calças? Gael se aproxima correndo. O seu cabelo loiro avermelhado está confuso em mechas selvagens e tem a boca manchada de batom. — Ah, querida, deixe-me explicar! A visão desses lábios, os lábios que eu achava que eram só meus, para beijar, me ferve o sangue, ferve a minha pele de dentro para fora. Ele tem os olhos grandes e tristes. Lembro-me de ter me apaixonado eles. Tudo me vem na mente, o jantar à luz das velas no restaurante italiano que ele me levou no nosso primeiro encontro formal. Mesmo agora, uma parte de mim quer absorver essa emoção e perdoá-lo. Coloquei essa parte de mim numa caixa, fechei e tirei a chave. — Saiam daqui. Exijo com frieza, apontando com um dedo para a porta principal. — Os dois têm que ir agora mesmo. Tenho um nó na garganta. Sinto que vou vomitar. Como foi possível ele fazer isso comigo? Estou a dois segundos de desmoronar por completo, e eu não quero de jeito nenhum, fazer isso na frente dele. Gael franze o cenho. — Mas é o meu apartamento. — Eu já disse para sair! Ou vocês querem que eu chute vocês daqui? A minha voz se torna elevada. Com um gritinho, a mulher passa correndo por mim para a porta principal. Gael se vira procurando as sua calças. Acho que não fui clara! Eu digo dessa ves, mais forte. — Você está surdo? Eu disse para você sair. Agora! Se você ainda quer sair daqui vivo! Ao ouvir o veneno na minha voz, Gael abandona a busca pelas calças e sai correndo pela porta. Dois segundos depois, ouço que a porta principal fechando num golpe. Eu caio no chão do corredor, como uma marionete cujos fios foram cortados sem piedade. O quarto parece ressoar o eco das batidas do meu coração. Permaneço imóvel e em silêncio durante muito tempo, com a mente felizmente em branco. Eu fico olhando para a parede, ouvindo o meu pulso ecoar. Lembro-me de ter escolhido a pintura do corredor. A cor se chama Cinza aço. Depois que eu me mudei para cá, eu queria fazer esse apartamento se transformar no nosso lar, em vez de ser apenas de Gael, mas ele gostava de tudo como estava. Não me deixava mover os móveis, ou redecorar a sala de estar ou reorganizar o guarda-roupa. No final, cedeu e me permitiu pintar o corredor, onde as paredes já estavam suja em alguns lugares. Me deu uns poucos metros quadrados para que eu tornasse meus. Naquele momento, agradeci. Como não pude ver que Gael não estava disposto a fazer um buraco na sua vida para mim? Os meus olhos ficaram nebulosos com as lágrimas. Eu lancei a minha cabeça contra a parede. Eu acreditava que íamos casar! Depois de todos os sacrifícios que eu fiz por ele, todas as vezes que coloquei em primeiro lugar, e agora descubro que a nossa vida juntos, não significava nada para ele? Eu começo a chorar e a soluçar miseravelmente. Lágrimas grossas rolam por meus rosto, os meus ombros tremem, o meu peito fica agitado, enquanto me esforçou para respirar. Não sei se choro a perda de meu noivo ou a perda da vida que eu tinha planejado com ele: casamento, bebês, uma família própria. Seja o que for, hoje eu perdi alguma coisa. E m*aldito seja, dói, muito! .... Eu não tinha o mínimo desejo de sair da cama pela manhã, mas sei que o trabalho é o único que vai tirar da minha cabeça a imagem da boca manchada de batom carmim do Gael. Assim que me dirijo ao jornal termino o artigo do centro comunitário. E em seguida, é hora de ir ver a exposição canina. Estou feliz por não ter que fazer nada. Para variar, sinto-me realmente grata que a Debora goste de me dar ordens sem sentido. Eu não tenho a capacidade cerebral para lidar com um drama real ou uma reportagem de investigação profunda. Um show de cães imitadores de celebridades é o máximo que posso processar neste momento. Como era de se esperar, é muito brega. O meu favorito é um pastor alemão vestido como Ziggy Stardust, que uiva num microfone sob as ordens do seu dono. Não acaba ganhando nada, o que é decepcionante. O vencedor da categoria de melhor disfarce é um poodle de sorriso estranho. O segundo lugar é para um cão salsicha com um terno brilhante e uma peruca ruiva que o dono quer fazer crer que é Elton John. Eu tenho certeza que o pastor Alemão foi roubado, ele merecia o prémio. Volto para o jornal para começar a escrever o artigo, me perguntando se isso é tudo o que há para mim. Estou condenada a passar o resto dos meus dias escrevendo artigos que ninguém vai ler até que eu me aposente e me transforme na senhora dos gatos que vive com raiva e não tem filhos? Tem que ter algo mais que isso. Durante o dia, enviar uma mensagem de texto a minha melhor amiga, Clara, para colocar ela a par das novidades na minha vida amorosa. Ligo várias vezes durante o dia, mas ela não atende. Quando saio do trabalho às cinco e meia em ponto, eu ligo novamente. — Finalmente! Eu me queixo. — Estava começando a me preocupar com você. — Desculpe. É que o dia foi muito agitado. Eu bufo e pego uma barra de chocolate e começo a comer a caminho do metro. — Eu não posso acreditar Gael. É um porco nojento. — Eu sei. Suspiro. — Olha, em breve vou perder o sinal vou entrar no metro. Posso te ligar mais tarde? — Não é necessário! Clara diz com alegria. — Eu estou no caminho da sua casa agora. — Claro... Realmente não tenho vontade de companhia esta noite. É sexta-feira, o que significa que haverá um filme na televisão e que posso ter toda a ressaca que quiser pela manhã. Há uma garrafa de vinho na prateleira que o chefe do Gael nos deu de presente pelo nosso compromisso, supondo que íamos esperar até o casamento para beber. Esse menino mau será aberto hoje. Também tenho um pouco de sorvete no congelador. A minha noite está pronta. — Eu estou perdendo o sinal. Eu grito com Clara no telefone. — Não posso... — Clara! — Nós... em breve! Eu amaldiçoei em voz baixa. Clara é muito boa, sábia que eu ia inventar uma desculpa para ficar sozinha. Clara é muito controladora, e acha que pode controlar a vida de todo mundo, até dos pais dela.
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