"O Gosto do Sangue"

1678 Palavras
A boca dele estava na minha garganta. Não com delicadeza. Com fome. Como se quisesse arrancar um pedaço. O corpo de Dante me pressionava contra a parede de pedra. Fria nas costas. Quente entre as pernas. A palma da mão dele subia pela minha coxa como uma promessa. O quadril dele me mantinha presa. Pelada. Tremendo. A respiração dele batia entre os meus s***s. Eu arfava. Quente. Molhada. Um gemido escapou quando os dentes tocaram meu mamilo. Não havia tempo. Nem pensamento. Só o calor. O toque. A urgência. A mão dele foi para minha nuca. Os dedos afundaram no meu cabelo como se puxassem o que restava da minha razão. A língua desceu pela minha pele. Salgada de suor. Latejante de desejo. — Me odeia? — ele sussurrou, com os lábios na curva do meu seio. — Odeio. Ele mordeu. Arqueei o corpo. Ele segurou. Entrou com os dedos entre minhas pernas. — Então me mostra — rosnou. — Mostra como se odeia alguém assim. Eu mostrei. Cravei as unhas nas costas dele, puxando até ouvir o rosnado escapar da garganta. Cruzei as pernas em sua cintura e arqueei o quadril, esfregando contra ele com fome. A fricção era suja, brutal. Pele contra pele. O calor entre nós era líquido, pulsando entre minhas coxas. Ele me tomou. Me arrastou contra a parede como se precisasse sentir tudo. A língua, os dentes, os dedos. O beijo não pedia permissão. Era um mergulho, um choque, um naufrágio. Um estalo escapou da minha garganta quando ele me prensou mais forte. O ar sumia. O gosto dele. O cheiro. O sal. O suor. Eu absorvia Dante como se fosse d***a. E ele me consumia como se me conhecesse desde antes de mim. No fundo, sabia. Desde o início. Desde a primeira vida. Desde antes de tudo dar errado. — Dante… — sussurrei, sem ar. Ele cravou os olhos nos meus. Irados. Bonitos. Devastadores. — Nunca vou deixar ninguém te tocar. Uma promessa. Ou uma mentira. Eu não sabia mais distinguir. Desabei com ele no chão. O calor da pele ainda grudado no meu. O peito subia e descia. O coração ainda socava as costelas. A mão dele traçava círculos na minha barriga nua. Silêncio. — Você confia em mim? — ele perguntou, baixo. Demorei. Os olhos no teto. A garganta seca. Confiança era um luxo. Um erro que eu já tinha cometido antes. — Estou tentando — menti. Foi aí que os olhos dele mudaram. As pupilas dilataram num estalo. O corpo inteiro ficou tenso, como se tivesse ouvido algo que eu não podia. Não precisava de mais nada. Alguém estava falando com ele. Pelo link. Ele se afastou. Não disse nada. Só ficou ali, olhando pra mim como se eu fosse uma maldição que ele acabara de descobrir. — Dante? — chamei, o peito apertado. — O que foi? Ele avançou. Antes que eu recuasse, os dedos dele estavam no meu pescoço. Apertando. Quentes. Fortes. O ar sumiu. — Estão dizendo... — ele rosnou baixo, a voz tomada pelo lobo — que você tá me usando. Tentei falar. O aperto aumentou. — Que você tem ligação com os malditos do Norte. Que tá se enfiando na minha cama pra arrancar informações. Pra me enfraquecer. Meus olhos ardiam. Ele soltou. Empurrou. Caí de costas no colchão. — Isso é loucura! — gritei, arfando. Ele andava de um lado pro outro, o peito subindo e descendo, as veias saltadas no pescoço. A raiva dele era física. Bestial. Aquele não era só Dante. Era o lobo também. — Você é boa, Aurora. Finge dor, finge medo, finge t***o. Me fez acreditar. — Não? — Ele girou, me encarando. — Você não me conta de onde vem. Some por dias. Tem documentos escondidos. E agora aparece aqui… me dizendo o que quero ouvir. Me fazendo acreditar. Me fazendo baixar a guarda. — Eu não tô te manipulando, Dante. — Então o que você tá fazendo? Por que eu me sinto um i****a quando tô com você? — Porque você quer sentir. E isso te assusta. — Não fode, Aurora. Isso não é sobre sentimento. Isso é sobre você inventar inimigos invisíveis e esperar que eu acredite. — Eles não são invisíveis. Eles existem. — Não. Eles não existem. Você é que é louca. A palavra caiu como um tiro. — Sai da minha casa — ele disse. — Dante... — Agora. Fiquei parada. Nua. Vulnerável. O peito arfando. Ele hesitou na porta. Me olhou. Por um segundo, o Dante que me desejava ainda estava ali. Mas não venceu. Ele foi embora. A porta bateu. O silêncio preencheu tudo. Me encolhi na cama. As pernas contra o peito. A respiração falhando como se o próprio ar doesse. A mão foi até o ventre. A pele morna. O coração batendo ali dentro, tão frágil. Tão novo. Sussurrei, com a voz falhando: — Eu nunca confiei o bastante pra te contar… porque você não guardaria esse segredo. Fechei os olhos. E chorei. Me vesti em silêncio. A pele ainda ardia do toque dele. O pescoço carregava a marca dos dedos. Mas o que mais doía… era o vazio. Dante me deixou. Não só a casa. Me deixou como se nada tivesse existido. Como se eu fosse mesmo só uma farsa. Uma ameaça. Um erro. Fechei o zíper da jaqueta com as mãos trêmulas. Peguei a bolsa. Respirei fundo antes de sair pela porta dos fundos. Ninguém sabia que eu estava ali. Só ele. Desci os degraus, o vento cortando minha pele como navalha. As ruas estavam vazias. Não eram ruas, eram trilhas. E mesmo na escuridão… meus sentidos avisavam. Algo estava errado. Olhei por cima do ombro. Nada. Mas o instinto gritava. Apertei o passo. Entrei na trilha de terra batida que cortava pela floresta. A loba dentro de mim se remexeu. “Corre.” O frio da noite mordia meus tornozelos. As árvores pareciam se fechar em volta. Cada folha rangendo como se denunciasse minha fuga. “Estão perto. Sente.” Senti. O cheiro. Feromônio estranho. Umidade. Ódio. Corri. Uma raiz me fez tropeçar. O joelho arranhou. Me levantei. Continuei. A mão no ventre. O instinto era mais forte que o medo. Eu precisava salvar o bebê. Meu bebê. A loba uivava dentro de mim, “Transforma, agora!”, mas antes que eu pudesse ceder ao impulso… A flecha veio. Rasgou o ar com um chiado sibilante. Enterrou-se na minha coxa com um estalo seco. Gritei. O impacto me lançou contra o chão. A perna ardeu. O cheiro de metal e ** invadiu minhas narinas. A mão foi direto à haste cravada na carne. A dor explodiu. Açafrão. Açofel. Não. Aconito. O veneno se espalhava como fogo líquido. Queimava. Paralisa. Enfraquece lobos. Feito pra m***r os da minha espécie. “Levanta, p***a. Levanta!” Me arrastei com as mãos. A terra entrando sob as unhas. Galhos cortando a pele. A boca aberta num soluço. Eu não conseguia gritar. Os passos vinham atrás. Cinco. Seis. Oito? Cercando. Capuzes pretos. Roupas sem cheiro. Máscaras de pano. Olhos ocultos. Fantasmas. — P-por favor… — sussurrei. — Você é maldita — disse um deles. A voz era grossa, sufocada. — O que…? — O que você carrega… não devia existir. Meu sangue gelou. Eles sabiam. — É só um bebê. — Minha voz m*l saiu. — Só… um bebê. O primeiro golpe veio rápido. Uma faca. No ventre. A lâmina afundou como se perfurasse papel. E então outra. E outra. Meu corpo se envergou no chão. O grito saiu dilacerado. As mãos tentaram proteger, mas os braços falhavam. Eles me esfaqueavam. Não a mim. O bebê. A vida dentro de mim. — PARA! — eu gritei. — PARA! — A linhagem precisa morrer com você. — EU IMPLORO! Lágrimas se misturavam ao sangue. A terra absorvia tudo. A loba se calou. O corpo não reagia mais. Só tremia. Eu via as estrelas por entre os galhos. O céu n***o. A morte vindo. E então, um deles se agachou. A luz da lua tocou o pescoço dele. E eu vi. A corrente. A maldita corrente de prata. A que eu dei a Dante. Um nó se formou na garganta. Minha mente implorava para estar errada. “Não pode ser… não ele…” Mas era. Meu corpo não tinha mais forças. A dor era outra agora. Era traição. Era abandono. Ele ficou ali. Parado. Me olhando. Assisti meu sangue escorrer pela raiz da árvore, enquanto meus olhos buscavam um motivo. — Dante… — sussurrei. — Não… Mas ele não se moveu. Não tentou impedir. Não disse uma palavra. Os olhos dele… estavam vazios. A dor se apagou. O mundo escureceu. A última coisa que senti foi o ventre frio, vazio, silencioso. E a certeza: Dante… assistiu matarem o filho dele. … Acordei morrendo. A mão foi direto para o pescoço, pressionando a pele como se pudesse estancar o sangue que escorria. O corte. O calor. A dor. A mesma dor. As pernas se debatiam em busca de solo. A garganta arfava, tentando respirar. Engasguei. Sangue. Tinha sangue por toda parte. No gosto. No cheiro. No medo. "Acorda!" A voz surgiu dentro da minha cabeça — forte, rasgada, urgente. "Olha ao redor, i****a. Olha!" Ofegando, abri os olhos por instinto. A escuridão não era mais da floresta. Era o teto de madeira do meu quarto. O teto do quarto que eu não via há três anos. A respiração falhou por outro motivo. — N-não... Me sentei com um tranco. As mãos tremendo, ainda presas no próprio pescoço. Corri até o espelho, tropeçando nos lençóis. A luz da lua atravessava a janela e me mostrava... inteira. Sem corte. Sem sangue. Toquei o ventre. Nada ali também. A imagem no espelho não fazia sentido. O reflexo parecia mais jovem. Mais inocente. Os olhos ainda não estavam gastos. "Morremos." A voz. A maldita voz. "Mas a deusa achou por bem nos arrastar de volta. Como se dissesse: tenta de novo, cadela." — Isso é um pesadelo. "Não." A loba rosnou. “Isso é punição.”
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