Capítulo 03 NH

1937 Palavras
NH Narrando Sair fora assim, sem nem ter uma despedida decente com a única mulher que eu amei na vida, é f**a. Saí da sala do chefe na moral, sem falar muita coisa, porque ele já tava decidido. Só me resta chegar lá e assumir o corre na favela. Mas como é que eu vou explicar isso pra minha loira? O jeito vai ser ir, ver como a parada desenrola, e aí sim aviso quanto tempo vou ficar. Deve tá no corre das provas dela ainda, fechando os últimos dias pra voltar pro Brasil. Vou tentar me organizar pra tá aqui quando ela pisar. Mesmo que seja só pra ver de longe e matar a saudade daquele corpo que deixou gosto de “quero mais”. Caralho... quem diria que o NH ia tá assim? De quatro por uma mina. Sempre foi amizade, ela era toda certinha, dizia que tinha namorado. Enquanto isso, eu tava na rua comendo geral, juntava os cria e fazia a festa. Até que, do nada, comecei a olhar ela diferente. Já não via mais só a amiga… comecei a ver a mulherão que ela é. Quando fez 18, já vazou pra gringa. Foi aí que a saudade bateu e a ficha caiu: ela não era só amizade… era a mulher que eu queria pra minha vida. Levanto, limpo a calça, pego a moto e volto pro morro. Fui direto pro meu barraco, mente girando nela, sem saber se ela vai entender que eu precisei sumir. Arrumo minhas parada, não vou levar muita coisa. Se precisar, compro por lá mesmo. Separei meus ouros, minhas peça, botei na necessaire. Como é jatinho particular, é suave levar o armamento. Termino de fechar tudo, vou pro banho. Cansadão da resenha da noite passada, então só comi rapidinho, fiz minha higiene e deitei. Nem consegui dormir direito, mas na madruga o sono venceu. Mensagem On “NH, amanhã vou pessoalmente te buscar e te levar até a pista. Não quero erro. Vai ser uma boa experiência pra tu ficar à frente de um morro diferente. Precisamos evoluir. Boa noite. Até amanhã.” — Chefe Só leio e desligo a tela. Tentei dormir, mas o pensamento me cobrando. Demorou, mas o sono bateu. Dia seguinte Despertador apitou, olho no celular: 9h. Dou um pulo da cama e vou direto pro banho. Jogo uma blusa branca no corpo, calça preta, cinto na cintura, tênis da Nike preto. Corrente de ouro com meu vulgo no peito. Passo desodorante, perfume, e desço. Minha coroa tava na cozinha fazendo café. Larguei a bolsa no chão e fui pra cozinha. Meu coroa entrou logo atrás. — Bom dia, meu filho! Vim fazer teu café. Já imaginei que tu não ia dormir direito. — A coroa solta isso e eu já olho torto. Mãe tem radar, parece que lê mente, aff. — Vim comer também, pô! Ia perder essa? — O coroa larga sentando do meu lado, daquele jeitão. Sei que cada um tem seu caminho, mas não achei que o meu ia ser tão longe. Longe da minha coroa, do meu coroa, do meu morro... da minha loira. Tô com a mente pesada. Algo me diz que essa missão tem treta. Mas será que é só neurose minha? Tomamos o café trocando umas ideia sobre o corre do morro. — Sei lá, coroa... tava pensando. Tem homem bom no nosso bonde, preparado também. Por que logo eu tenho que sair do Rio pra ir segurar favela pros outros? Mas ordem é ordem, né? Não se discute... se cumpre. — Soltei e ele só me encara e balança a cabeça. — Você vai, e a gente vai se falando. Isso é só até eles arrumarem outro pra assumir. Para de nóia, tira isso da cabeça. — A coroa fala tentando tranquilizar, mas esse sentimento r**m dentro de mim tá pesando. Logo ouço uma buzina lá fora. Saio com a mala na mão. Dou um abraço no meu coroa, e dona Adrielle já gruda no meu pescoço, apertando como se fosse a última vez. — Lembra que eu tô aqui, qualquer coisa. Vai com Deus, meu filho. Fica bem. — Minha coroa falou e dei um beijo nela, entro no carro... e quando a gente passa pela barreira, não acredito no que eu tô vendo. — Para aí só um pouquinho, jogo rápido. — soltei, e o motorista freou na moral. Desci no veneno, coração a milhão, e fui na direção dela. Quando abracei, senti logo de cara um volume estranho na barriga. Passei a mão devagar… ué, cadê aquela barriga chapada que eu conhecia? Negativo, não era mais lisa, não. Me afastei na hora, e ela me olhou com os olhos cheios d’água. Pior que não podia ter feito isso comigo… Verônica meteu que eu comi ela e eu nem lembro de nada. E agora, depois de seis meses esperando essa mulher, ela brota aqui grávida? Prra, é pra fder com a mente do bandido. Ela até tentou explicar, mas falei que nem precisava. Entrei no carro bufando. — NH, tá de boa? Que que tá pegando? Quem é aquela ali? Tua mulher? Até onde eu sei, tu não tem fiel... ou tem e eu não tô ligado? — perguntou o chefe, jogando aquela indireta. E eu nem soube o que responder, porque na moral? Pra mim, ela era a única que eu queria de verdade. Mas agora… agora nem eu sei de mais nada. Também não dava pra abrir o jogo pro chefe. Ele pode ser o cabeça do bagulho, mas nem todo mundo dá pra confiar. Melhor blindar minha loira. Ela tá grávida, acabou de se formar… não merece essa guerra. Fechei os olhos, respirei fundo. Tudo que eu queria era olhar pra ela, beijar, falar o quanto senti falta, dizer que ainda amo. Mas talvez, sei lá… talvez não era pra ser. — Tô de boa, chefe. Segue o fluxo. Quanto mais rápido a gente chegar lá e eu assumir o bagulho, melhor. Já vai agilizando aí outra pessoa, que eu não tô afim de ficar muito tempo nessa missão não. Todo mundo sabe que o meu negócio é aqui no Rio. Nunca pretendi sair daqui… podia até expandir, mas largar o Rio? Jamais. — falei firme, encarando ele. O chefe arqueou a sobrancelha, tirou um beck do bolso, acendeu e me passou. E era tudo que eu tava precisando naquele momento. Minha sorte era que ia de jatinho particular, sem precisar encarar ninguém. Quanto mais rápido chegar naquela favela desconhecida, mais rápido eu boto a mente pra rodar. Talvez amanhã, com a cabeça fria, eu mande mensagem pra Laura. Só de pensar nela, o coração dá umas batidas erradas. Chegamos na pista. Desci com minha bagagem no braço. — É isso aí, mano. Quando chegar, avisa. Já vai ter alguém te esperando. E qualquer fita, é só comigo que tu troca ideia. Tu foi escolhido porque consegue entrar e sair de qualquer situação sem deixar rastro. Seja você mesmo. Fé. — falou o chefe, me entregando outro beck. Dei uma tragada, joguei o pitoco fora, passei o toque com ele. — Pode deixar, chefe. É nós, sempre. Fé. — respondi entrando no jatinho. Me sentei e fiquei admirando o céu pela janela. Deixei a mente voar. Fechei os olhos, e só via ela… linda, com aquele cabelão loiro, pelada na minha frente, como naquele fim de semana que a gente teve junto. Três dias inteiros colado nela. A gente esqueceu da vida, do mundo, até de comer. Só existia o prazer, só existia nós dois. Meu corpo gritou por ela todos esses meses. E agora ela tá aqui… e eu indo embora. Preciso focar, aliviar a mente e o coração, senão não vou conseguir segurar essa responsa onde tô indo. Duas horas depois Pousamos. Desci do jatinho e já tinha um Citroën C4 Pallas preto blindado na pista. Do lado do carro, um cara moreno, troncudão, parecia uma muralha de músculo. Fui andando na moral, cheguei perto, fiz o toque e me apresentei. — Eu sou o NH, vim do Rio a mando do chefe. Satisfação. — falei, encarando ele. O cara só concordou com a cabeça, sério que só. — Eu sou o Macaco, ex-dono da favela que tu vai assumir. Vou ser teu subordinado agora. Vamos nessa, que tenho muito a resolver. E ó: não vem achando que sou teu empregado, só pra deixar claro. Entra aí. — ele disse, já virando as costas. Porra… o chefe só pode tá tirando comigo. Me manda pra assumir favela e ainda bota o ex-dono pra vir me buscar? Isso tá com cheiro de encrenca. Ele entrou no banco da frente. Eu fui logo atrás. Fui sentado no banco de trás e seguimos em direção à favela. Mas vou te falar… essa p***a toda não tá me cheirando bem, não. Colocar o ex-dono da comunidade, o ex de frente, pra ser meu subordinado? Tá de s*******m, né? Mas fazer o quê… se a ordem veio de cima, bora trabalhar. Só que já vou logo avisando: a banda agora toca do meu jeito. Eu tava quietinho no meu canto, e vieram me tirar de lá. Então agora que tiraram, vão ter que me engolir. Não sou cria de morro à toa não, p***a. Vou mostrar pra esses caras que trabalhar eu sei, que comando eu tenho. Mas pisa no meu calo não, que eu não sou o****o. O Macaco vem o caminho todo no carro com a cara fechada, me olhando torto pelo retrovisor. Quer meter marra? Bateu na porta errada. Ele não sabe de onde eu vim, não tem ideia do que eu já fiz. Aqui não tem espaço pra sangue doce. Se for mole, eu passo por cima sem nem olhar. Favela não é Disney. Crime não é creme. Aqui é guerra todo dia. E se ele foi destituído, é porque vacilou. Eu não tenho culpa. Só tô aqui pra fazer o que precisa ser feito. Chegamos na entrada da comunidade. Ele abaixa o vidro e um dos menor já cola com o fuzil cruzado no peito, pique militar. — E aí, seja bem-vindo. As coisas tão meio bagunçadas por aqui, mas vamos ajeitando. Qualquer fita, é só me acionar. Tamo junto. — disse o menor, batendo continência. O carro segue devagar, entra na quebrada, até parar em frente a uma casa que parece mansão de novela. Pique casa de patrão no Rio. Coisa linda. — Essa é a casa que o chefe mandou separar pra você. Por mim, tu dormia em qualquer cafofo como qualquer outro. Mas quem manda é o chefe, né? Tá entregue, boneca. — soltou o Macaco, com aquela cara de quem tá engolindo a marra. Não deu. Puxei minha pistola e encostei geladinha no pé da orelha dele. O vapor que tava dirigindo arregalou os olhos e levantou as mãos na hora. — Cuidado com a língua, mané. Tu é meu subordinado agora, então baixa essa bola. Aqui é respeito, tá entendendo? E eu não tô aqui pra fazer amizade, tô aqui pra fazer história. Se fosse pra brincar, eu tinha ficado no Rio. Então anota aí: me respeita que eu te respeito. Pisa fora da linha, e já era. Valeu aí pela hospedagem. — falei frio, saindo do carro com minha mala. O carro arrancou dali cantando pneu, como se tivessem visto o próprio capeta. Pensando o quê? Que eu ia atravessar o estado pra dar ousadia pra vacilão que não segurou o cargo? Tá maluco. Pegaram logo eu no pior dia… vai se f*der geral. Aqui ninguém quer saber de gracinha. Continua.....
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