Rafaela on . . .
Acordo com a desgraça do despertador no meu ouvido. Ontem, depois que acordei, já era de noite e o povo quis comprar pizza. Eu só comi um pouco e subi pra dormir de novo. Dormir é muito bom.
Me arrasto até o banheiro, faço minhas coisas e coloco uma roupa com a blusa do uniforme por baixo.
Eu amo esse moletom porque foi a Lu e o Gui que mandaram do Canadá. Eles estão vendo se conseguem vir nas férias. Tô morrendo de saudades deles.
Desço encontrando Erick “morto” na cozinha e minha mãe fazendo alguma coisa.
Eu – Bom dia. – abraço minha mãe e me sento ao lado do Erick.
Erick – Nem bom, nem dia. – murmura, e minha mãe dá um peteleco na orelha dele. – Aí, mãe!
Valentina – Para de graça, menino. Bom dia, filha. Tô fazendo teu misto.
Eu – Tá, mãe. Cadê meu pai? – pergunto comendo uma uva.
Valentina – Já tá na boca. Ele quer vocês dois lá depois da escola, acho que é pra falar sobre a ONG.
Eu e meu irmão queremos montar uma ONG em um galpão abandonado. As crianças daqui quase não têm oportunidade de fazer certas coisas, e eu amo dar essa chance pra elas. Sem contar que os meninos querem dar aula pros adultos também, então é um projeto de todo mundo.
Erick – Falou. – tomamos nosso café rápido e eu fui direto pra escola. Não vou com o Erick porque ele para na casa do Gabriel, e já basta aguentar ele o resto do dia todo. Imagina de manhã.
Chego e já vejo as meninas quase dormindo em pé. Aproveito que estão distraídas e decido assustar.
Eu – BOOOM DIAAAA! – elas dão um pulo. Liv e Carol, que estavam em pé, caíram no chão enquanto Eloísa arregalava os olhos. Eu começo a rir da cara delas, chamando a atenção do povo. Não foi pela queda, mas pela minha risada. – Se...nhor, vocês tinham que ver!
Lívia – FILHA DA p**a! AGORA CÊ VAI VER! – ela se levanta e eu saio correndo. – VOLTA AQUI, RAFAELA!
Eu – SAI, GAROTA! – corro morrendo de rir e bato de frente com um ser, caindo no chão. – p***a, garoto! Tá com o olho no cu?
Gabriel – Tu que tá correndo, e eu que sou o culpado? – me levanto e vejo a Liv chegando. Sem pensar duas vezes, me escondo atrás do meu irmão, que não entendia nada.
Lívia – Para de se esconder, p***a! Minha b***a tá doendo por sua culpa, desgraçada! – começo a rir e ela vem pra cima de mim de novo, mas eu fico girando o Erick, fazendo dele escudo.
Erick – PARA, RAFAELA! TÔ FICANDO TONTO, c*****o! – grita, e Gabriel ria da cena.
Eu – Então manda a tua amada parar de tentar me bater por eu ter assustado elas. – falo, e Liv para na hora. Erick me olha. – Que foi, gente? Ah, meu Deus, todo mundo já sabe! – o sinal toca. – Falou pra vocês. – saio correndo e vejo Liv atrás de mim. – Sai, carrapato!
Fernanda – Que isso, menina? – chega minha tia Nanda, e eu dou glória a Deus. Minha tia Nanda e minha mãe ainda trabalham no hospital, mas às vezes a madrinha vem aqui na escola ajudar na enfermaria.
Eu – Segura tua filha, madrinha! Ela tá querendo matar esse nenê aqui. – faço bico e ela ri. Tá vendo como me tratam?
Lívia – Claro, viada. – tia Nanda levanta a mão pra dar um tapa na Liv, que ri segurando a mão dela. – Não, não, mãe, desculpinha!
Fernanda – Olha lá, menina! Agora, as duas pra sala, que os outros já foram. Beijinhos. – deu um beijo na nossa testa e entrou na escola. A p**a da Lívia me olhou e me meteu o tapa.
Eu – AI, c*****o! – grito alisando o lugar do tapa. – Agressividade.
Jailson – Bora, meninas. A aula já começou. – Seu Jailson tem 67 anos e é uma graxinhaaaa. Ele sempre tira a gente das roubadas e vira e mexe traz pão pra escola, aí tomamos café com ele.
Eu – SEU JAILSOOON! – pulo nele, que ri. – Quer me salvar da aula não?
Jailson – Vai estudar, menina. – ri. Fui pra sala com a Liv.
Entrei e vi a cara da professora de geografia. Essa mulher parece que pegou mil fitas isolantes e colou na cara, repuxando pra trás. Botox vencido é o nome daquilo que ela chama de rosto.
Geraldina – Atrasadas de novo?
Lívia – Cuidando da nossa vida de novo, fessora? Já tem ruga demais pra se preocupar com nós. – a sala toda caiu na risada, e a professora ficou com cara de cu.
Geraldina – Pros lugares agora, se não quiserem ir pra diretoria logo no começo!
Eu – Preferia mesmo. – dou de ombros e me sento no meu lugar com os malucos. – Bora sair hoje?
Eloísa – Pra onde, menina? Tô morrendo de sono. – essa vaca tava deitada no Arthur. Tô falando: eles ainda vão namorar.
Gabriel – Dorme aí no teu namorado, ué. Cês já tão quase sendo um só. Manda um papo pra vocês: tudo p*u no cu.
Erick – Liiiih, Eloísa vai namorar não, rapá. Minha priminha é virgem.
Eu/Eloísa/Lívia – Sonha, Alice! – meu irmão fecha a cara e a gente ri dele.
Gabriel – Rafaela já deve ter dado, com o fogo no cu que tem.
Eu – Ih, garoto, tá cheirado, é? Sou igual azeite, meu bem: extra virgem. – eles tentam segurar a risada, mas falham, chamando a atenção da sala toda.
Geraldina – Vocês tão aqui pra estudar, não pra conversar! Então calem a boca!
Arthur – Fessora, que eu saiba tu tá aqui é pra dar aula. Agora, se tomar conta da nossa vida tá no contrato, eu desconheço. Regras de privacidade e segurança dos alunos dizem que não pode. – esse garoto tem probleminhas kkkk.
Geraldina – OS SEIS PRA FORA DE SALA, AGORA! – grita. Nós nos levantamos e fomos saindo com a sala toda rindo das palhaçadas do Gabriel e do Erick, que saíram desfilando.
Eu – VALEU, FESSORA! – mando beijo, vendo ela se irritar toda. Amoo.
Jailson – Já saíram da sala, crianças? Vocês não têm juízo. – aparece rindo.
Eloísa – Seu Jailson, o senhor comprou pão hoje? Tô morrendo de fome.
Jailson – Vamos lá no meu quartinho pra gente tomar café.
Mano, comidaaa!
Eu – Aaah, te amo, seu Jailson! – ele ri, e fomos pra sala dele. Comi MUITOOOO! Seu Jailson faz uma geleia de morango dos deuses. Aquilo lá eu poderia comer pro resto da vida, até morrer. E de quebra, queria até no meu caixão. Deus me livre!
[...] 12:40
Mano, nossa turma deu calote em todas as aulas. Seu Jailson, tadinho, ficou louco com as merdas que a gente fazia.
Eu – GLÓRIA A DEUS, SENHOR! LIVREEES! – giro com os braços abertos e escuto a risada do meu pai. – Paiiii! – pulo nele, que estava com meu tio DT e meu tio Miguel.
Terror – Oi, minha princesa. Como foi o dia hoje?
Arthur – Como não foi, né. – diz rindo.
Miguel – Que p***a vocês fizeram o dia todo?
Eloísa – Comendo pão com o seu Jailson, ué. – dá de ombros, e meu tio DT dá um peteleco nela.
DT – Deixa tua mãe descobrir que vocês tão matando aula... Ela arranca a orelha de vocês na hora! Cadê tua irmã?
Eloísa – Tá doido, pai? Ela saiu mais cedo com o Heitor hoje, já foi faz tempo. – Carol e Heitor não são da mesma sala que a gente, por isso saem mais cedo às vezes.
Terror – Já que vocês tão aqui, vou adiantar o assunto da boca. O galpão já tá limpo. É só começar a organizar as paradas e fazer a ONG.
Erick – Falou, pai. A mãe tá em casa?
Terror – Tá na Amanda, com o Otávio. Quero vocês na rua não. É direto pra casa, entenderam? – bufamos e ele dá um peteleco na nossa testa. – Não vem bufando pra mim não, hein.
Eu – Tá, pai. Falou, tchau, tios! – beijo a testa dos meus tios e saio correndo com as meninas. Erick, Arthur e Gabriel ainda iam ficar, já que algumas meninas estavam olhando eles. Que nojo.
Lívia – MEU TÊNIS! – olho pra trás, assim como a Eloísa, e caímos na rua de tanto rir. O tênis da Lívia voou pra dentro da casa da vizinha fofoqueira. – ÔH, DONA MEIRE! JOGA MEU TÊNIS AÍ!
Meire – Onde já se viu uma coisa dessas... – resmunga, mas joga o tênis.
Lívia – Brigadinha! – vem correndo até a gente. Minha barriga doía de tanto rir. – Sai do chão, suas piranhas!
Eloísa – Na... não dá... teu tênis... – fala rindo. Minha risada já é estranha. A da Eloísa, então... parece uma foca engasgada, eletrocutada no meio da rua por um fio de hidrante.
Eu – So...corro, meu Deus... aí, minha barriga! – morri de rir ainda caída. Nossa risada tava tão alta e descontrolada que o povo da rua olhava como se fôssemos malucas. Mas, no fim, começaram a rir também.
Lívia – Para de rir, suas cabritas berrantes! Vambora! – nos recuperamos um pouco. Elas foram pra casa, e eu segui sozinha até o topo do morro, minha casa.
Gabriel – Sozinha, Rafinha? – me dá um susto, me fazendo pular pra trás, enquanto o i****a ria.
Eu – Tomar no cu já foi hoje?
Gabriel – Não, só comi mesmo. – fiz cara de nojo e saí andando. – Tu que perguntou.
Eu – E tu é um babaca de ficar comendo as putas desse morro. Tá com doença ainda não? Tudo rodada.
Gabriel – Ciúmes, Rafinha? Esquenta não, tem Gabriel pra todo mundo. – se faz, e eu ri. Não posso negar: Gabriel é um gato. Aquele tanquinho deixa minha calcinha estilo dilúvio.
Eu – Nunca, meu bem. Agora, já que cê tá aqui, me leva nas costas até em casa. Tô mó cansada.
Gabriel – Tá me achando com cara de quê?
Eu – Cavalo, que vai me levar. – ele cruza os braços e eu reviro os olhos. – Se me carregar, eu faço brigadeiro daquele que você gosta.
Gabriel – Tá começando a ficar interessante, mas ainda não é suficiente.
Eu – O que tu quer, desgraça? – olho pra ele, que me encara malicioso. – Não vou dar pra você não! Sou extra virgem, já disse.
Gabriel – Não ia pedir isso, mas não seria nada m*l. – dou dedo pra ele, que ri. – Quero um beijo, beeeem demorado.
Eu pego no rosto dele, e ele já se prepara. Então beijo a testa dele, beeeem demorado.
Eu – Você disse beijo, mas não disse onde. Eu prefiro esquerdo. Agora vira. – ele vira. – Agora senta.
Gabriel – Vai pra p***a, garota! – caio na gargalhada e subo nas costas dele.
Eu – Sempre quis dizer isso. – rio, e ele aperta minha b***a. Meto um tapa na cabeça dele, que ri. – Abusado.
Fui pra casa nas costas dele mesmo. Tava com preguiça da p***a de andar, e ele é forte, pode me levar sem problema nenhum.
Valentina – Que isso, gente? – fala dando um susto quando entramos em casa.
Eu – Aí, mãe, que susto! Meu pai disse que você tava na tia. – saio do colo do Gabriel, que beija a testa dela.
Valentina – E tava. Teu irmão ficou lá e eu voltei. Mas por que vocês vieram assim?
Gabriel – Essa preguiçosa não pode andar três ruas que já cansa. Mas tá me devendo brigadeiro. – minha mãe n**a rindo e mexe nas panelas.
Valentina – Vai almoçar aqui, Gabriel?
Gabriel – Valeu, mas tô indo. Minha mãe tá me esperando. Falou. – abraça minha mãe e me dá um tapa na nuca. – Tchau, mandada.
Eu – Teu cu! Olha a Lei Maria da Penha, hein! – ele sai rindo, e minha mãe me olha maliciosamente. – Tira essa cara daí, viu! Eu e ele nunca vamos ficar. Nem beijo teve... talvez uma vez... ou três no máximo.
Valentina – O dia que você chegar pra mim e disser que tá gostando dele, vou repetir essa mesma frase, ouviu? Agora lava essa mão e vem comer, garota.
Ri e fui lavar a mão. Voltei pra cozinha e comi muito. Eu sou magra, mas como que nem porco. Onde tem comida, eu tô. Ainda mais se for coisa que eu gosto e se for minha mãe que fez.
Subi pro meu quarto, joguei as coisas no chão e fui tomar banho. Lavei o cabelo, me troquei e nem mexi no celular. O sono tava tão grande que só me joguei na cama de bruços e apaguei...