Capítulo 16. Atento

533 Palavras
O salão do hotel cinco estrelas brilha com luzes douradas, taças de cristal e o murmúrio constante de conversas refinadas. Músicos de terno tocam um jazz suave, enquanto empresários e políticos circulam com sorrisos ensaiados. Henrique, impecável em seu terno preto, observa tudo de uma distância estratégica. O olhar analítico percorre as saídas, os guardas, o público. Mas, inevitavelmente, sempre retorna para ela. Virgínia está no centro da atenção vestido de seda vinho, cabelo preso com delicadeza, joias discretas mas valiosas. Ela ri, conversa, flutua entre os convidados com uma naturalidade que poucos herdariam sem sangue de Mancini. Ao lado do bar, Antônio observa a cena. Taça na mão, semblante neutro. Mas o olhar… o olhar não é o de um pai relaxado. É o de um homem que mede tudo inclusive o modo como Henrique se comporta a poucos metros da filha. Henrique se mantém em posição, sem demonstrar nada. Apenas segue a distância adequada. A postura, o olhar, os gestos tudo calculado. Até que um homem se aproxima demais de Virgínia. Alto, elegante, com um sorriso fácil. Toca o braço dela, inclina-se para falar algo ao ouvido. Virgínia sorri, mas o desconforto é nítido. Henrique dá dois passos à frente. Não diz nada, não precisa. A simples presença dele faz o homem recuar um pouco. Virgínia o percebe e lança um olhar breve, quase um agradecimento discreto, mas sincero. Antônio vê tudo. Ele se aproxima devagar, deixando o copo sobre uma bandeja. — Vejo que já aprendeu o significado de vigilância constante. — diz, parando ao lado de Henrique. Henrique o cumprimenta com um leve aceno. — Ela está segura, senhor. Antônio observa a filha conversando novamente, agora com um grupo de meninas da sua idade. — Ela parece estar. — responde, a voz calma. — Mas às vezes, o perigo vem disfarçado de charme. Henrique entende o recado, mas permanece impassível. Antônio vira o rosto levemente, estudando-o. — E quanto ao seu próprio charme, Henrique? Está sob controle também? Henrique mantém o olhar fixo à frente. — Completamente. Um sorriso quase imperceptível cruza os lábios de Antônio. — Espero que continue assim. Já vi homens muito mais frios se perderem por menos. Henrique não responde, apenas observa a filha do chefe rir entre os convidados, o reflexo das luzes dançando no vestido dela. Antônio continua, o tom agora mais baixo, confidencial: — Você sabe o que acontece com quem cruza a linha, não sabe? — Sim, senhor. Antônio coloca uma mão firme no ombro dele, um gesto que poderia parecer amistoso a qualquer um que olhasse de fora mas a pressão dos dedos denuncia o contrário. — Não me faça repetir o teste. Henrique apenas assente. Antônio o solta e se afasta, voltando a sorrir e cumprimentar os outros convidados como se nada tivesse acontecido. Virgínia, do outro lado do salão, troca olhares rápidos com Henrique. Ela percebe o leve endurecer de sua expressão, mas não entende o motivo. A música muda, o ambiente parece mais leve mas dentro de Henrique, a tensão cresce. Porque ele sabe que, naquela noite, não estava apenas sendo vigiado por seguranças escondidos nas sombras. O próprio Antônio Mancini estava testando sua alma outra vez.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR