Capítulo 4

1736 Palavras
A carcaça rígida do corpo truculento levantou o machado sem muito esforço, pressionou a musculatura na ponta do cabo e o elevou com força, desferindo o choque contra a tora grossa do toco de madeira. O objeto rachou de uma única vez, fazendo as lascas respingar e enviar um filete para a beirada da boca fina do homem, o obrigando a cuspir com o resultado. Bravo suspirou, elevou os olhos para o vento frio que bateu contra o couro do camisete encardido, apoiou o corte do machado e puxou o suor da fronte com as mãos. O trabalho dobrou, isso o obrigou a se aplicar mais, ordenar mais e até incomodar a paz de Marduk, seu irmão. Provinha de uma família dos picos altos dos frios selvagens do Norte, era o mais velho e, por consequência, o responsável. Era o responsável pelos bastardos que sua mãe enfiou na barriga e os colocou no mundo, o responsável por quase matar o pai, o responsável por ser o carrasco, o responsável por manter a maldita linhagem que tinha dentro de si em controle, para não estourar o couro surrado de cada um que habitava sua casa. Ele era o responsável por manter a responsabilidade, que nenhum m****o tinha. Por sorte, tinha um homem com a cabeça, por enquanto, no lugar. Marduk, ou Ira se preferir. A boa fama não rondava a família, mas Bravo era o último a se importar com estas tolices, pois estava mais interessado em dar jeito à paz que nunca teve à se importar com a índole que as más línguas lhe empregavam. Para não piorar os rumores evitava até mesmo as entregas, coisa que não teve muita escolha em fazer nos últimos dias. E quando parou para descansar, puxou do canteiro o cantil redondo que continha uma boa dose de um alcoólico quente, molhou a garganta, lambeu a ponta da barba e limpou o suor do bigode com as costas da mão. Foi quando ouviu a distância barulhos interessantes. Os gêmeos pequenos carregavam na frente da casa as toras para secar, empilhavam os cortados no tablado coberto, estas boas peças o irmão enviar-lhe-ia aos marceneiros interessados na matéria pré-pronta. Então, Bravo olhou para trás e constatou que não era os gêmeos quem causava os barulhos, o que fez ele afinar os olhos e entender que se tratava de gemidos. Bravo fincou a ponta do machado no toco da árvore que usava de apoio, bufou impaciente e puxou uma galha do chão, limpando a vara das folhas penduradas e olhando seco para o rumo de onde vinha os barulhos. Kaléu, seu irmão, era um i*****l que vivia a cozinhar a maldita paciência que Bravo não tinha. Estava na flor da juventude adolescente, com os pêlos do saco ainda baixos e, como ele supôs, estava a praticar um ato s****l em meio a relva, com a neta de Delfine. Bravo já havia batido no garoto, lhe dado uma surra pelos rumores e os problemas que teve de segurar por causa da falta do moleque e o prazer em se enfiar em vagabundas; agora, o miserável tinha o traseiro nu para fora, enquanto a sirigaita rameira gemia de olhos fechados. Kaléu nem mesmo percebeu quando o primeiro filete de vara bateu em seu traseiro, o fez gritar e encolher os músculos do quadril para dentro, ainda no ato com a moça. Bravo, na força de sua raiva segurou o jovem pelas mangas e o puxou para cima, de um jeito torto. A pobre moça gritou e encolheu-se envergonhada enquanto via o amante levar outra varada, esta que o lenhador não sorvia de nenhum compadecimento para desferir contra o garoto. — Bravo! — gritou Kaléu, tentando se tampar ou se proteger, caindo no chão, com as calças arriadas. — Suma daqui, sua vagabunda fedelha, ou vou enfiar varas nesse seu traseiro redondo para manter suas malditas pernas fechadas! — rosnou Bravo, enquanto a menina tremia e se arrastava para dentro, ajeitando suas saias — E você!? — gritou o corpulento homem arrastando o mirrado magrelo pelo colarinho, enquanto o menino tremelicava puxando suas calças — Seu bastardo! — Ele desferiu outro golpe enquanto o garoto tentou fugir, totalmente em vão. — Vou capar-lhe como um maldito porco, seu filho da p**a! Bastardo inútil! — Ira! — gritou Kaléu, sentindo as dores dos filetes contra o lombo ossudo, tentando se livrar da nova surra. — Porcaria, Bravo! Pare de me surrar! — berrou o magricela, chorou envergonhado e gritou de encontro a outro golpe. — Bravo?! — chamou Ira, segurando o braço do irmão, impedindo-o de descer as mãos e golpeá-lo com a vara. — Que diabos está havendo? — Vai se f***r, Bravo! — rosnou o magricela, cuspindo uma pelota de sangue, mostrando que um filete da vara pegou a beirada da boca do garoto. Kaléu limpou o rosto, segurou as amarras da calça e passou a ajustar o cinto, sob o olhar cuidadoso dos dois irmãos mais velhos. Tinha vergonha em seu olhar, um pouco de choro, mas raiva também. Afinal, ele era um descendente selvagem. Mais magro e menor que os irmãos, mas tinha calor no sangue para dar e vender. — Ei, cale a sua boca, frangote! — Ira interveio — Tens boca para xingar o irmão, mas para apanhar grita como uma mulherzinha? — rosnou Ira, fazendo o irmão se envergonhar ainda mais. — Que merda aprontou agora, Kaléu? — Esse bastardo inútil estava com o p*u dele socado na neta de Delfine. — rosnou o lenhador, jogou o filete de vara no chão e apontou o dedo. — Se esse i*****l trazer uma vagabunda prenha pra dentro de casa, vou capar o maldito saco juvenil que ele não consegue segurar. Ele ainda terá muita sorte se viver para ver o bastardo dele nascer. — De novo, Kaléu? — bradou Ira — Eu devia ter deixado Bravo arrancar suas bolas, vagabundo. Vá para dentro, agora! Vá trabalhar para ter juízo! Ira era um truculento tão grande quanto o irmão, ambos partilhavam da mesma doutrina — vez ou outra discordavam, mas como bons descendentes dos picos selvagens, se resolviam em boas brigas dando o assunto como resolvido. Era por esse e outro motivos que Bravo mantinha pesados punhos para redigir a casa, porque se dependesse dos impulsos dos outros, estavam todos mais afundados na lama. Alguém teve de tomar o posto carrancudo, e este alguém era Bravo. — Vou me casar com ela, seus idiotas! — retrucou o magricela — Não podem me impedir! — E vai enfiar o r**o dela aonde? — Bravo deu um passo à frente, Kaléu um passo para trás. O rapazote estava intimidado, mas tinha o mesmo sangue quente que os irmãos. No entanto, Ira impediu Bravo de dar mais um passo, pois sabia que um deles iria passar dos limites se não se contentasse com o assunto por ali. — Penteie os pentelhos do teu saco primeiro, você não tem onde cair morto! — bradou o loiro corpulento. Sem aviso, Kaléu levou um supetão grosso de Ira, sentiu o pé da orelha doer e olhou torto para o irmão. — Vai trabalhar, vagabundo! — ordenou Ira, adiantando a bronca. — Você não vai casar com ninguém! Bravo deu as costas vendo o mirrado caminhar bicudo, voltou para o tronco onde estava ancorado seu machado, bebeu mais uma dose do álcool de seu cantil redondo e suspirou pensativo. O homem de olhos cinzas viu a casa distante, percebeu o olhar de sua mãe advindo do vidro da janela e sentiu o compadecer triste da senhora. Ignorando o olhar penalizado, ele puxou o machado pelo cabo, alinhou uma tora grossa sob o toco da árvore cortada e desferiu um golpe. Os músculos advindos do trabalho pesado o fez se acostumar com o serviço rígido, dando à ele precisão e competência. Ira se colocou ao seu lado, roubou-lhe um pouco de seu cantil e também olhou para a janela. — Não dei sorte quando casei. — resmungou o cabeludo de guinchos nos fios e a barba um dedo menor que a de Bravo. Ele limpou a boca, fechou o cantil e continuou olhando para a janela. — Você precisa encontrar uma mulher para colocar nesta casa, uma que seja sua. Somos um bando de maltrapilhos fervorosos e Kaléu só está fazendo o que costumamos fazer nessa idade. Uma hora não conseguirei mais ninguém para cuidar da casa. Ninguém vai f***r o que é seu e esses moleques precisam de uma mulher que os diga, ao menos, a importância de uma dentro de casa. — De qual está falando? — rosnou Bravo, desceu o machado e sentiu outra lasca grudar na barba — Se elas já não foram fodidas pelo bastardo do nosso irmão, o que espere que eu faça? Vá passear como uma marica com tempo de sobra para caçar uma desgraçada pela praça? Só um i****a disponibilizaria sua filha para com um de nós. Margot só foi entregue à você porque estava doente. Em plena saúde, o pai a teria usado para algo mais vantajoso. Eu não tenho paciência, e não acho que devo castigar ninguém ao peso dessa desgraça. — f**a-se. — retrucou Ira, ele olhou duro e devolveu o seu cantil, observando o irmão separar as toras. — Arrume a droga de uma mulher ou entupo uma outra vagabunda nesta casa. E, quando Kaléu encher o bucho de alguém, você vai se arrepender de não ter enfiado alguém "intocável" lá dentro. Rezemos para que não seja uma rameira de quinta, nem alguém igual a mamãe. Se eu já estivesse viúvo o faria, mas ainda não estou. Nem nisso tenho paz… Bravo bateu o machado contra a tora grossa e o partiu com tanta facilidade que Ira notou a raiva nos olhos do irmão, mas não se importou. O lenhador tomou a frente da família quando impediu o pai de matar a mãe, quando quebrou as pernas do velho Will, o tornando um doente inválido. Como castigo, condenou a própria mãe a cuidar do pai. Era isso, ou ele matava os dois… Bravo tomou as rédeas da família e agora precisava fazer alguma coisa. Outra vez. — Não vou me casar, esta necessidade não existe. — retrucou seco. Ira ignorou a reclamação, saiu a passos pesados e pôs se a fazer sua parte. Trabalho tinha de sobra, tanto para ele quanto para Bravo, ao menos nisso não podiam reclamar.
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