Pré-visualização gratuita I - LUCIANO
Eu estava indócil, faltavam poucos dias para o casamento de minha irmã e eu ainda não havia conseguido alguém apto para me acompanhar.
― Madeleine, minha querida, como você está?
― Oh, Luciano! Muito melhor agora ― nós rimos ― Pelo visto você ainda não conseguiu alguém para levar ao casamento de Alice.
― Sim. Conto com você para me salvar ― digo descontraidamente.
― Deixe-me ver ― ela faz uma pausa ― Creio que a Carmen esteja à altura deste projeto. Ela é muito educada e discreta.
― Hummm. Ela é nova?
― Não! Você deve lembrar dela. Ela tem uma tulipa lilás tatuada no ombro direito.
― Madeleine, minha querida, eu preciso de uma acompanhante e não de um relacionamento. Essa moça é muito carente. Além disso, ela é loira!
― Traumas, amor?
― Não!!!
― Certo. Se precisar de um terapeuta para lidar com isso, eu posso lhe indicar, querido ― ela gargalha do outro lado da linha. Respiro fundo, enquanto ela se recompõe.
― Infelizmente eu não tenho nenhuma novidade para você neste momento, darling. Te mando notícias.
Desligo o telefone sem responder, iniciando uma nova ligação logo seguida.
― Diga irmão! ― ele atende no segundo toque.
― Matheus, tudo bem?
― Se melhorar, estraga! ― ele fala rindo. Eu respiro pensando na melhor forma de abordar o assunto. Diante do meu silêncio, ele questiona ― Aconteceu alguma coisa, irmão?
― Matheus, você ainda tem o telefone do Mike? ― vou direto ao ponto.
― Você ainda está obcecado com isso? ― continua rindo ― Relaxa, irmão! Tenho certeza que você pode ser bem desprezível quando quer.
― Eu já te expliquei que não é fácil assim. Você tem ou não?
― E você vai apelar desse jeito? Se Alice descobrir, você está morto!
― Você tem ou não? ― repito.
― Você é quem sabe. Vão sobrar mais madrinhas para mim ― ele ri descaradamente ― Vou te enviar pelo w******p. Beijo, irmão!
― Obrigado, irmão ― rio das palavras dele.
Assim que recebo o contato, ligo para o Mike, que não demora a atender.
― Ora, ora! A que devo a honra? Acabaram as modelos de Paris, Dom Luciano Lauder? ― Nós rimos juntos.
― Como vai Mike? Tô numa missão impossível.
― Qual o evento?
― Casamento em família.
― Putz!
― Preciso de uma desconhecida. Tem alguma novidade?
― Anna, loira, 29 anos.
― Que não seja loira.
― Trauma?
― Vai se fuder, Mike!
Ele gargalha.
― Diana, morena, cara de anjo. 20 aninhos, um...
― Muito nova!
― Regina, ruiva, 30 anos, um corpo...
― Qual a formação dela?
― Cara, você tá mais exigente que o normal. Ela tem segundo grau.
― Passo. Próxima.
― Você está achando que eu tenho uma locadora de veículos? Porque não leva a Thais?
― Melhor não.
― Então vou ficar lhe devendo, meu chefe! Se em Paris não tem ninguém a sua altura, porque achou que eu poderia te satisfazer? ― ele zomba de mim e eu rio.
― Valeu, Mike!
Desligo o telefone e viro para a janela ao lado da mesa. Passo a mão pela cabeça, enquanto penso em alternativas.
― Sr. Luciano? ― minha secretária entra me tirando do transe.
― Sim, dona Marlene?
― Trouxe os contratos para o senhor assinar e a agenda da semana que vem. Estamos bem apertados! Além disso, sua irmã já ligou duas vezes para confirmar sua presença na quinta-feira.
― Nem pensar!!! ― ela segura o riso e eu prossigo.
Alice vai casar e quem está ficando louco sou eu! Nem pensar! Suspiro e confesso em voz baixa ― Ainda nem sei se vou a esse casamento.
― Como assim, Sr. Luciano?!? É o casamento da Alice! Já imaginou como ela vai se sentir se o senhor não for? E a sua mãe? Já pensou nisso?
Respiro fundo e jogo a cabeça para trás. Dona Marlene tinha décadas na empresa e mesmo conhecendo toda a família sempre soube separar o pessoal do profissional. Por isso, e também por sua dedicação e eficiência, permanecia ali desde a época em que meu avô a contratou. Mesmo não sendo nada profissional naquele momento, ela estava certa.
― Eu sei dona Marlene. Mas estou ficando sem saída. Estou evitando a perda de um parceiro comercial. Tenho certeza de que, se eu aparecer sozinho, Suzan vai usar contra mim os meus negócios com o pai dela. Ou seja, se eu for indelicado o bastante para desagradá-la, ela se fará de vítima novamente. E, ao que me parece, o pai só se importa com a felicidade da filha, mesmo que eu não esteja interessado em um relacionamento amoroso com a filha dele.
Ela me olha chocada.
Suzan era filha de um grande industrial com quem tínhamos contratos. Eu a conheci em um evento social tedioso, o qual ganhou novo sentido quando ela apareceu. Linda e divertida, ela destoava do ambiente. Passamos a sair juntos, incluindo almoços em família. Mas percebi que nossa relação era baseada apenas no s**o e todas as nossas conversas se resumiam a participações em eventos sociais.
Ao sentir meu distanciamento, armou para mim. Ela me convidou para jantar e pediu que a encontrasse no restaurante. Ao chegar lá, vi nossas famílias reunidas na mesa aguardando um pedido de noivado. Desfazer esse m*l entendido, quase custou milhões em contratos para o grupo Lauder. Não iria permitir que ela preparasse outra cilada.
― Veja bem, dona Marlene, não posso ir sozinho ao casamento da minha irmã. Também não posso levar qualquer moça para se passar por minha namorada, pois Alice me mataria se soubesse que eu contratei uma acompanhante qualquer. Preciso de alguém habilidosa ― fiz uma pausa ― Então, me diga: que desculpa eu teria para ir ao casamento sem a namorada, se ela de fato existisse? Logo, temos esse impasse. Preciso de uma moça que tenha entre 25 e 33 anos, educada, discreta, com boa aparência (lógico) e que esteja disposta a se passar por minha namorada por uns dois dias.
― Devo dizer que o senhor está muito encrencado mesmo ― ela me olha com dó e se levanta ― Logo, venho buscar os documentos.
Meu telefone toca e aguardo dona Marlene sair da sala para atender.
― Diga, Matheus.
― Teve sorte?
― Não. Aonde você vai hoje à noite?
― No Juan. Você quer ir?
― Te encontro lá.
― Ok.
Passei o resto da tarde revisando documentos e assinando contratos. Pego minha agenda para verificar os compromissos de amanhã, mas não deixo de observar que o casamento será em duas semanas. Tenho que resolver isso rápido, pois não posso magoar Alice.
Dona Marlene adentra minha sala para pegar os contratos que assinei. Só que, para minha surpresa, ela deixa os documentos sobre a mesa e puxa uma cadeira à minha frente para se sentar, fazendo com que eu a encare com espanto.
― Senhor Luciano ― ela diz de forma cautelosa ― Acho que conheço alguém que o senhor pode levar ao casamento da Alice ― faz uma pausa ― Mas o senhor vai precisar ser bem persuasivo para convencê-la a fazer esse papel delicado.
Eu a avalio com calma e pergunto-lhe quem seria.
― Juliana.
― Quem é Juliana, Dona Marlene?
― Sua segunda secretária! ― ela me olha espantada ― Nós trabalhamos juntas a seis meses e ela está na empresa a dois anos!
Eu franzo o cenho e tento me lembrar das feições dessa moça, pois m*l troquei palavras com ela pessoalmente ao longo desse período.
― E porque a senhora acha que ela cumpriria bem esse papel?
― Porque ela atende a todos os seus requisitos. Além disso, ela é uma moça séria, focada no trabalho e com princípios bem sólidos, talvez por isso ela nem aceite.
Que alternativa eu tenho? Não custa checar.
Chame-a aqui.
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Desde que comecei a publicar os capítulos deste livro, tenho recebido muito carinho e incentivo nas redes sociais de pessoas de diversos locais. Assim, deixo minha imensa gratidão a todos que adicionaram O Casamento de Alice em sua biblioteca da Dreame, bem como aos que leram e aos que pretendem ler.