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902 Palavras
**Capítulo 4 - Serena Narrando** A escola em que eu estava agora era bastante inferior às instituições em que havia trabalhado anteriormente, mesmo as da rede pública. Era um local precário, com poucos recursos e instalações antiquadas. Mas eu estava preparada para enfrentar qualquer desafio. No fundo, meu interesse pelo morro era muito mais profundo, mas confesso que ao chegar na escola, me deparei com um desafio gigantesco. Meu amor pela profissão sempre falaria mais alto, e é claro que eu daria minha vida pelos meus alunos enquanto estivesse aqui. Eu já havia tido um encontro direto com Yan, e ver alguém tão parecido com Antônio foi desconcertante. Peguei meu celular e revisitei nossa galeria de fotos, relembrando os momentos que tivemos juntos. As memórias da nossa última viagem, nosso jantar especial, e outros momentos compartilhados eram dolorosamente vívidas. O acidente aéreo que levou a vida de Antônio foi um golpe devastador. Por que ele teve que ir para a Colômbia? Um meio de transporte tão confiável, e ainda assim, o destino foi c***l. Eu havia preparado a sala para receber os alunos, colocando um saquinho de doces e um recado fofo em cada mesa. A ideia era que os alunos se sentissem acolhidos. Eu estava dando aula para as turmas do 8º ano. Fora do morro já era difícil, imagine dentro dele. Muitos dos alunos não tinham interesse em estudar; Maísa já havia me alertado sobre isso. Ela mencionou que, quanto mais velhos os alunos se tornavam, menos frequentavam as aulas porque eram atraídos pelo mundo do crime, que no final lhes custava a vida. Os alunos começaram a chegar após o sinal. Da lista de 30 alunos, apenas 10 estavam presentes na sala de aula. — Bom dia — digo, tentando parecer acolhedora. — Meu nome é Serena e serei a professora de vocês a partir de agora. Mas, cadê os outros alunos? — É só a gente, professora — diz uma garota. — Como você se chama? — pergunto, sorrindo para ela. — Karina — ela responde, sorrindo também. — Por favor, se apresentem — peço. — Julia. — Luiza. — Carlos. A apresentação dos poucos alunos presentes prossegue. — E os outros alunos? — pergunto, intrigada. — Ah, estão matriculados apenas para fazer número — explica Karina. — Estão todos trabalhando no morro. Eu já esperava encontrar uma situação assim e estava preparada para lidar com isso. Não seria eu quem mudaria essa realidade sozinha. Quando minhas aulas terminam, percebo que a principal turma que eu estava assumindo era o 8º ano. Como não havia professores suficientes que subissem o morro regularmente, uma única professora assumia todas as matérias para garantir que, pelo menos, alguns alunos fossem formados. Estava arrumando minhas coisas quando vi um homem com uma arma na cintura, parado na porta da sala. Ele me observava. — Professora? — pergunta ele. — Serena, né? — Sim, e você? — questiono. — Caio — ele responde. — Sou o sub do morro. — Prazer, Caio — digo, tentando ser o mais educada possível. — Me contaram que você questionou a ausência de alguns alunos — ele diz. — Sim, achei estranho haver tantos na chamada e somente alguns na aula. Mas algumas alunas me explicaram. — Explicaram que todos eles frequentam a escola? Mesmo não estando aqui? — Como assim? — Todos precisam ter frequência e notas altas. Dentro desta escola, ninguém pode reprovar. — Mas eles não frequentam as aulas — falo. — Isso é um detalhe que ninguém precisa saber — Caio afirma, colocando a mão na arma de forma ameaçadora. — Entendeu? Até mais, Professora. Ele se retira da sala e eu solto um suspiro, chocada. Não imaginava que a situação seria tão difícil. Pensava que seria um desafio, mas estava percebendo que seria muito pior. É claro que o tráfico quer novos recrutas. Quanto mais adolescentes, mais drogas são vendidas. Eles não se importam com a vida dos jovens; só querem dinheiro. Saio da escola e encontro Maísa, que abre um sorriso ao me ver. — E aí? — pergunto. — Onde tem um lugar bom para almoçar? Estou morrendo de fome. — Tem um lugar na Janaina — ela responde. — Vamos. — Sim — concordo, sorrindo. — Ontem fui a um lugar, não sei se é o mesmo. — Pode ser — diz Maísa. — Lá é o melhor restaurante que tem. Começamos a subir até o restaurante e eu observo os vapores, imaginando se eles poderiam ser os alunos que faltaram. — O que está achando da escola? — pergunta Maísa, enquanto paramos na fila. — Sei que não é a melhor escola do mundo, mas sei que pode-se fazer muita coisa para melhorar. — Ah, muita coisa — respondo. — É um desafio gigante querer melhorar aquela escola, mas com um trabalho conjunto pode-se conseguir alguma coisa. — Muita coisa como? — Não dá para questionar as condições. — Realmente, as condições da escola são razoáveis — diz Maísa. — O que esperar de um lugar onde o crime é o principal e a educação não? — pergunto. — As condições são precárias, os alunos não frequentam, e eu ainda sou ameaçada com uma arma para garantir a frequência e notas boas. — Bom dia, Maísa — uma voz me faz levar um susto. Olho para trás e vejo um homem com um semblante nada simpático me encarando.
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