Oliver acordou tarde naquele dia sua primeira folga em semanas mas a sensação não era de descanso. Era como se tivesse dormido com o peito apertado. Ele ficou alguns segundos deitado, olhando para o teto, enquanto a luz da manhã atravessava as frestas da cortina.
Clarice.
Era o primeiro pensamento.
E o segundo.
E o terceiro.
Ele passou a mão pelo rosto, frustrado consigo mesmo.
— Isso não é profissional, FrankWood… — murmurou sozinho.
Mas não adiantava. Desde que a vira sorrir daquele jeito tão espontâneo, tão aberto, tão vivo, tão...doce, era como se aquele gesto tivesse se agarrado a algo dentro dele. Um sorriso inocente que tinha abalado seu autocontrole de forma que ele não queria admitir.
Tentou levantar, fazer café, colocar uma música, qualquer coisa para desalojá-la da mente.
Não funcionou.
Enquanto colocava a água para ferver, percebeu que estava distraído, encarando a parede sem realmente vê-la. A cena dela no quarto repetia-se em sua memória como um filme:
Clarice virando o rosto para ele, os olhos azuis brilhando, as sardas marcantes no rosto, o cabelo encaracolado cor de fogo, e aquele sorriso… como se estivesse feliz só por vê-lo entrar.
A lembrança fez seu coração bater mais forte.
Incompreensivelmente mais forte.
— Estou enlouquecendo — ele disse em voz baixa, apoiando as mãos no balcão.
Ele nunca se envolvia emocionalmente. Nunca aconteceu. Nunca
Era regra.
Era profissionalismo.
Era estratégia de sobrevivência.
Mas Clarice… Clarice parecia atravessar suas defesas com uma suavidade perigosa. Não sabia se era por causa da vulnerabilidade dela, do mistério ao redor do ataque, ou da força silenciosa que ela carregava. Talvez fosse tudo isso junto.
Ou talvez fosse apenas ela.
Ele tentou se distrair lendo artigos médicos, depois caminhou pela sala, arrumou coisas que não precisavam ser arrumadas. Até saiu para correr, como fazia quando precisava clarear a mente. Mas, a cada quilômetro percorrido, a imagem dela persistia.
A curiosidade sobre seu passado.
A dor escondida nos olhos.
O medo silencioso quando Henry se aproximava.
E principalmente… aquele sorriso de ontem.
Quando voltou do treino, suado e com a respiração pesada, sentou-se no sofá com o celular na mão. A tela bloqueada refletia seu próprio rosto cansado, irritado consigo mesmo.
Sem pensar muito, desbloqueou e digitou uma mensagem para Corvo:
“Alguma novidade?”
Apagou antes de enviar.
Suspirou fundo.
A verdade era simples:
Mesmo de folga, mesmo longe do hospital, Clarice Beck ocupava cada canto da sua mente.
E ele já sabia, no fundo, que isso não iria parar tão cedo.