Capítulo 17. Revelações

576 Palavras
Clarice estava sentada na cadeira adaptada dentro do box, enquanto a enfermeira lavava delicadamente seus longos cachos ruivos. O vapor quente da água tornava o ambiente confortável, e pela primeira vez desde que acordara naquele hospital, ela sentia algo próximo de paz. A enfermeira uma mulher de meia-idade com expressão serena e mãos cuidadosas puxou uma mecha do Clarice para enxaguar, e a jovem respirou fundo antes de criar coragem para perguntar: — Posso te perguntar uma coisa…? — a voz saiu baixinha, quase insegura. — Claro, querida — respondeu a enfermeira, gentil. — Pode perguntar o que quiser. Clarice mordeu o canto do lábio. — É que… eu acho estranho. Eu não tô pagando por nada disso, pelo menos não vejo minha família mencionar nada.E… é tudo tão bem feito, tão… profissional. Por que eu estou sendo tratada aqui?Quem está pagando por mim? A enfermeira sorriu, como quem já esperava aquela dúvida aparecer mais cedo ou mais tarde. — Ah, isso. Todos os pacientes perguntam — disse ela, enquanto desligava o chuveiro e começava a secar os cabelos de Clarice com uma toalha macia. — Esse hospital… pertence ao Dr. FrankWood. Clarice arregalou um pouco os olhos. — Dele…? — Sim. Foi ele quem criou tudo isso. — A enfermeira ajeitou a toalha nos ombros de Clarice e continuou com carinho: — Aqui nós só atendemos emergências graves. Pessoas que chegam às portas da morte, vítimas de acidentes, violência… Tudo que exige socorro imediato. Não fazemos consultas, exames de rotina ou cirurgias programadas. Só aquilo que não pode esperar. Clarice piscou, surpresa. — Então… é um hospital voluntário? — Da parte dele, sim. — A enfermeira sorriu com respeito evidente. — O Dr. FrankWood é o cirurgião principal e doa o trabalho dele. Ele não recebe um centavo por estar aqui. Diz que é a forma que encontrou de devolver algo ao mundo. Clarice sentiu o peito aquecer, uma emoção difícil de nomear. — E vocês? — perguntou baixinho. — Ah, as enfermeiras são pagas por ele. — Ela riu de leve. — Ele faz questão. Mas já te digo que não trabalharíamos aqui se não acreditássemos nesse projeto.Ele salvou tanta gente… e continua salvando. Clarice ficou em silêncio por alguns segundos, processando aquilo. Sua mente estava cheia de lacunas, mas uma coisa ela sabia: aquele homem sempre passava uma sensação de segurança, de firmeza… e de uma gentileza escondida debaixo de camadas de seriedade. — Eu… não sabia que existia algo assim aqui em Nova Orleans— murmurou, mexendo nos dedos, um tanto tímida. — Pois existe. E você está aqui porque ele decidiu que sua vida valia o esforço dele. — A enfermeira inclinou a cabeça, olhando-a com carinho. — Vale muito, querida. — Sabe me dizer porquê desse projeto tão lindo que ele tem ?— Clarice perguntou um pouco hesitante, mas genuinamente curiosa. A enfermeira soltou um suspiro longo. — É uma longa história querida, mas Dr FrankWood decidiu abrir esse hospital depois do trágico falecimento da sua esposa, Helena. Clarice sentiu o rosto esquentar, sem saber exatamente por quê. A enfermeira terminou de secar seus cabelos e começou a ajudá-la a vestir a camisola limpa. — Não se preocupe com custos, querida. Aqui ninguém pede nada em troca — acrescentou, com leveza. — Só que você fique bem. Clarice respirou fundo, emocionada. Empurrada por aquela verdade tão simples, tão rara… e tão diferente de tudo o que conhecera até então.
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