Oliver chegou ao hospital já com aquela energia silenciosa e focada que sempre surgia quando ele assumia o plantão da noite. O prédio estava mais quieto, as luzes mais baixas, o ar frio mas nada disso importava.
Seu primeiro instinto foi ir direto ao prontuário de Clarice.
Pegou a ficha dela assim que entrou na sala dos médicos.
E então, a testa dele franziu.
Queixa registrada: fortes dores de cabeça.
Início: há aproximadamente 6 horas.
Intensidade: alta.
Paciente relata pressão atrás dos olhos, na nuca e náusea leve.
Enfermeira responsável: Maren.
Oliver sentiu um aperto imediato no estômago.
Dor de cabeça forte, após o tipo de trauma que ela teve, não era algo que ele simplesmente ignorava.
Ele já estava pegando seu estetoscópio e o tablet de anotações quando Maren entrou na sala.
— Doutor… — a voz da enfermeira veio cautelosa — eu ia te chamar. Ela está reclamando cada vez mais. Está tentando ser forte, mas está com dor real.
Oliver ergueu os olhos, o rosto sério.
— Por que não me chamaram antes?
— Ela insistiu que podia esperar até o seu horário — Maren explicou, meio culpada. — Disse que não queria incomodá-lo no dia de folga.
Aquilo o atingiu como um soco silencioso.
Clarice, naquele estado, ainda tentando poupá-lo.
Oliver guardou esse sentimento para si e apenas acenou com a cabeça.
— Obrigada, Maren. Onde ela está agora?
— No quarto. E… — a enfermeira hesitou — está mais pálida do que ontem.
Isso fez Oliver andar mais rápido.
No corredor
Enquanto caminhava, Oliver lia mentalmente os dados:
Dor de cabeça intensa.
Náusea leve.
Pressão ocular.
Piora progressiva.
Poderia ser normal… ou não.
Poderia ser só cansaço… ou um alerta grave.
Uma coisa era certa: ele precisava avaliar pessoalmente. Agora.
Ao chegar no quarto.Antes de entrar, Oliver respirou fundo.
Preparou-se para estar firme por ela sempre.
Então, abriu a porta.
E encontrou Clarice sentada na cama, uma mão pressionando a têmpora, os olhos semicerrados de dor.
Quando ela percebeu a presença dele, tentou sorrir.
— Oi Doutor — sua voz saiu baixa, quase trêmula. — Acho que exagerei ontem. A cabeça está… latejando muito.
Oliver se aproximou imediatamente, o olhar clínico acionado, mas também algo mais algo protetor, quase visceral.
— Clarice, por que não me chamou antes?
Ela desviou o olhar, envergonhada.
— Não queria… atrapalhar.
Oliver sentiu o coração apertar, mas manteve o tom calmo.
— Você nunca vai atrapalhar. Nunca.
— Ele puxou um banquinho para perto da cama. — Me conta exatamente o que está sentindo.
Clarice respirou fundo, tentando explicar:
— Começou como uma dorzinha ontem… mas hoje ficou muito forte. Sinto como se algo estivesse… pressionando por dentro.
Oliver analisava tudo o tom de voz, o ritmo da respiração, a palidez dela, os olhos ligeiramente marejados de dor.
Aquilo podia significar algo.
E a última coisa que ele queria era perder Clarice para alguma complicação invisível.
Ele tocou de leve o pulso dela, medindo a pulsação.
— Vamos fazer alguns exames agora. Eu vou cuidar disso, Clarice.— Sua voz saiu firme, segura. — Prometo.
E, por um instante, ela relaxou.
Como se confiar nele fosse fácil demais.
Natural demais.
Mas do lado de fora, um par de olhos observava tudo pelo vidro do corredor, escondido entre duas colunas.
Olhos que brilhavam de raiva e de uma certeza doentia:
“Ela está sofrendo só para chamar a atenção desse maldito.E eu vou tirar ela daqui… custe o que custar.”