Oliver voltou para o quarto alguns minutos depois, depois que Ramos se afastou pelo corredor. Ele respirou fundo antes de entrar precisava parecer calmo, profissional. Clarice já tinha passado por emoções suficientes naquela noite.
Mas quando abriu a porta…
O que viu fez seu peito apertar.
Clarice estava virada de lado na cama, o rosto parcialmente escondido pelo cabelo ruivo bagunçado. Os ombros tremiam em silêncio. Ela levou a mão rapidamente ao rosto quando percebeu que ele havia entrado, tentando secar as lágrimas, mas a respiração trêmula a entregou.
— Clarice? — a voz de Oliver veio baixa, cuidadosa, uma nota abaixo do normal.
Ela engoliu seco, tentando manter a postura.
— Foi só… uma tontura. Eu… — mas a voz falhou. As lágrimas voltaram a escorrer sem permissão.
Oliver fechou a porta atrás de si com delicadeza, aproximando-se devagar, como se ela fosse algo frágil demais para qualquer movimento brusco.
— Não precisa fingir — disse ele, parando ao lado da cama. — Você não está bem. Está tudo bem admitir isso.
Clarice apertou os lençóis com força, como se tentasse se agarrar a algo que controlasse tudo dentro dela.
— Eu não… — ela respirou fundo, soluçando de leve. — Eu não me lembro de nada, doutor. Nada.
Sua voz quebrou.
— E agora essa dor… essa mancha… e se… e se alguém tentou… — ela apertou os olhos, engolindo mais lágrimas. — Eu me sinto perdida.
Oliver sentiu algo dentro dele estremecer não racional, não técnico. Algo que o puxava para mais perto, como se sua simples presença pudesse conter a dor dela.
Ele puxou a cadeira, mas não sentou. Em vez disso, inclinou-se, ficando na altura dela.
— Clarice, olha pra mim. — Sua voz era firme, mas não dura.
Ela hesitou, mas levantou os olhos.
Ainda molhados.
Ainda frágeis.
Mas buscando nele alguma âncora.
— Você está viva — disse Oliver, o tom grave, intenso. — E isso já é mais do que quem fez isso esperava.— Ele respirou fundo. — Eu não vou deixar você enfrentar isso sozinha. Já fiz meu trabalho como cirurgião… agora vou cuidar para que você esteja segura. Entendeu?
Clarice mordeu o lábio inferior, tentando controlar o choro.
Mas quando ela falou, sua voz era baixa… sincera demais.
— Eu… eu não entendo por que isso está acontecendo comigo, doutor. Parece que no fundo ninguém se importa de verdade, não tenho amigos, meus pais.., piorou Henry.
— Você tem a mim, Clarice.
— Ainda bem que tive a sorte de ter um bom médico.... Mas e quando eu sair daqui, não tenho mais ninguém.
Oliver sentiu vontade de dizer que entendia.
De dizer que ninguém merecia aquilo, mas ela menos ainda.
Mas respirou devagar, controlando o ímpeto.
Ele estendeu a mão devagar, sem tocar, apenas oferecendo e ela, instintivamente, aproximou a própria mão.
Os dedos dela encostaram nos dele.
Um toque leve.
Quase um pedido silencioso por estabilidade.
E Oliver não recuou.
— Você vai ficar bem, Clarice. Eu prometo. — disse ele, com uma firmeza que não deixava espaço para dúvida. — Não pense em ninguém agora, além de você mesma.
Clarice fechou os olhos, deixando mais uma lágrima escorrer mas dessa vez, não era desespero.
Era alívio.
E Oliver, olhando para ela assim, vulnerável e ao mesmo tempo tão forte, sentiu um instinto novo crescer dentro dele:
Ele não estava apenas cuidando de uma paciente.
Estava protegendo alguém que já era importante demais