Capítulo 27. Descobertas

1138 Palavras
neurologista, Dr. Ramos um homem alto, de cabelos grisalhos e expressão sempre séria entrou na sala com passos firmes. Ele cumprimentou Oliver com um aceno rápido, passando os olhos para as imagens que ainda estavam abertas na tela. Clarice o observava com o peito apertado. Oliver permaneceu ao lado dela, braços cruzados, postura tensa demais para alguém que supostamente deveria estar calmo. Dr. Ramos aproximou-se da tela, ampliando a região da nuca. Ficou alguns segundos em silêncio, analisando. — Eu imagino que foi isso que te alarmou, Dr. FrankWood — disse o neurologista, sem tirar os olhos das imagens. — Sim — respondeu Oliver, a voz grave. Clarice prendeu a respiração. Dr. Ramos então virou-se para ela, com uma expressão mais branda. — Clarice, eu vou ser direto. A mancha que encontramos não tem relação com o tiro. Ela piscou, confusa. Oliver franziu o cenho levemente, ainda não convencido. — É possível ver os resíduos metálicos do projétil no exame do tórax e abdômen — continuou Ramos — mas essa marca na região occipital… não corresponde a trauma por projétil, nem impacto do disparo. Parece algo diferente. Um tipo de contusão anterior. — Contusão? — Clarice repetiu, tentando acompanhar. — Uma queda. — explicou o neurologista. — Ou algo que tenha provocado impacto direto na parte de trás da sua cabeça antes do tiro. Pode ter sido no mesmo dia, alguns dias antes, pode ter sido horas antes… mas não é do disparo. O silêncio que se instalou pareceu engolir todo o ar da sala. Oliver se inclinou um pouco para frente. — Você tem certeza? — perguntou com uma calma tensa, calculada. Dr. Ramos assentiu. — Sim. Não há edema relacionado ao trauma do disparo. É um trauma separado. Oliver virou o rosto para Clarice, e ela percebeu que havia algo diferente no olhar dele. Não apenas preocupação médica. Mas suspeita. Clarice tentou revistar a própria memória o trajeto da da sua casa, o estacionamento do hospital onde trabalhava, o beco onde foi encontrada… mas tudo era neblina. — Doutor… eu… eu não me lembro de ter caído — ela confessou, a voz quase infantil de tão frágil. Dr. Ramos puxou um banquinho e se aproximou. — É normal, Clarice. Seu corpo sofreu uma situação traumática e seu cérebro está tentando proteger você. Mas… — ele a encarou delicadamente — a marca indica que houve uma pancada forte. Não acidental. Parece um impacto direto. Clarice empalideceu. Oliver respirou fundo, o maxilar travando. — Ela vai precisar de observação? — ele perguntou. — Sim. Monitoramento neurológico e analgésicos mais fortes. Mas… — o neurologista olhou para ambos — não é uma lesão que ameace a vida. O perigo passou. Agora precisamos entender como isso aconteceu. Clarice desviou o olhar, apertando os lençóis. E então, sem perceber, sua mão buscou a de Oliver não para segurá-lo, mas como se fosse uma âncora. Ele não se afastou. Não puxou a mão. Apenas deixou ali, a alguns centímetros da dela, uma presença sólida. Dr. Ramos se levantou. — Vou preparar o relatório completo. Em breve volto para conversarmos. Quando ele saiu, o silêncio se tornou ainda mais denso. Clarice finalmente olhou para Oliver. — Eu… não lembro — sua voz falhou. — Eu juro que não lembro.— Seus olhos brilharam, não de choro, mas de medo. Oliver manteve o olhar fixo nela por longos segundos. E quando finalmente respondeu, sua voz veio baixa, firme e escura: — Clarice… vai ficar tudo bem Ele não disse para ela não se preocupar. Não mentiu. Apenas tentou confortar. Clarice foi levada novamente ao quarto, ainda sonolenta pela medicação reforçada. Oliver a acompanhou até que estivesse instalada e monitorada, depois saiu junto com Dr. Ramos para o corredor silencioso da UTI. A porta do quarto se fechou atrás deles com um clique suave. Ramos cruzou os braços e soltou um suspiro longo. — Oliver… tem mais uma coisa — disse o neurologista, olhando-o de lado. — Quando eu falei da contusão, lembrei de algo. Ela apresentou algum outro tipo de hematoma… mais antigo? Oliver desviou o olhar, como se estivesse repassando mentalmente cada detalhe desde a madrugada em que havia salvado a vida dela. E então lembrou. Lembrou com clareza demais. — Sim. — respondeu, sério. — Dois hematomas na cintura, do lado direito. Não eram do tiro e… não pareciam ter sido causados por queda. Ramos estreitou os olhos. — Quanto tempo de diferença? — Difícil dizer com precisão… mas pareciam de uns quatro dias. Talvez menos. O neurologista esfregou o queixo, pensativo. — Oliver… — começou, baixando o tom — você sabe que uma pancada na nuca como aquela não é acidental. E hematomas em regiões específicas, principalmente cintura ou braços, muitas vezes indicam… Ele não completou. Mas Oliver completou mentalmente, e aquilo fez seu sangue gelar. Restrição física. Controle. Violência doméstica. Ramos inspirou fundo e disse: — Ela comentou algo com você? Alguma suspeita de quem poderia ter feito isso? Oliver pensou na expressão de Clarice toda vez que Henry entrava no quarto. No jeito como ela endurecia a postura. No sorriso que nunca chegava aos olhos. No olhar baixo, na forma como evitava contato físico com ele. Na tensão silenciosa que nem os pais dela percebiam mas Oliver, sim. Ele cerrou o maxilar. — O noivo. — disse, finalmente. — O nome dele é Henry. Há algo errado naquele homem. Clarice fica desconfortável perto dele… e não é só o trauma. Dr. Ramos fez um gesto de cabeça, concordando. — Um trauma na nuca, hematomas antigos… e um “noivo” que você descreve como preocupante. Isso não está cheirando nada bem. Oliver respirou fundo. Uma parte dele a parte médica, racional tentava se manter objetiva. Mas a outra parte… a que já estava envolvida demais… fervia. — Eu vou anotar tudo isso no relatório — disse Ramos, tocando no ombro dele. — E Oliver… cuidado. Se houver abuso, o agressor sempre tenta manter o controle. E você parece ser a única pessoa da qual ela não tem medo, mas lembre-se, não somos policiais meu amigo, seu trabalho é apenas..avisar. O cirurgião ficou em silêncio por um momento. Seu olhar escureceu, aquele olhar que apenas raras pessoas já tinham visto frio, preciso, predador. — Fique tranquilo Ramos, eu sei onde estou e até onde posso ir— disse Oliver, a voz baixa e afiada como lâmina. Ramos assentiu, entendendo perfeitamente o subtexto. — Vou preparar o protocolo de observação. Qualquer mudança no quadro neurológico, me chame. Quando o neurologista se afastou pelo corredor, Oliver ficou parado, olhando para a porta do quarto de Clarice. A sensação que tinha não era apenas de alerta médico. Era posse silenciosa. Proteção quase instintiva. E uma promessa que queimava sob sua pele: Se Henry colocou as mãos nela… ele estaria assinando sua própria sentença
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