Capítulo 21. Oliver e Clarice

712 Palavras
Oliver colocou as luvas com movimentos calmos, controlados mas por dentro ainda sentia resquícios da tensão deixada por Henry. Ele respirou fundo antes de se aproximar da cama, tentando não deixar transparecer nada. Clarice observava cada gesto dele com atenção silenciosa. — Vou verificar sua cicatrização, tudo bem? — ele disse, a voz baixa, profissional… mas suave de um jeito que só usava com ela. Clarice assentiu, mesmo parecendo um pouco apreensiva. Oliver baixou a coberta até o local do ferimento. A pele ao redor estava menos arroxeada, a inflamação diminuíra, bom sinal. Ele acendeu a luz pequena do foco e inclinou-se sobre ela. — A cicatrização está excelente… — murmurou, analisando os pontos, conferindo cada detalhe com precisão cirúrgica. — Você está reagindo melhor do que o esperado. Clarice soltou um fio de sorriso tímido. — Bom saber que não estou te dando trabalho… — Você me dá exatamente o trabalho que deve dar — ele respondeu, e só percebeu a ambiguidade da frase quando Clarice corou levemente. Oliver limpou a área com cuidado, o toque leve, quase imperceptível. Ele sempre fora meticuloso, mas com Clarice… existia outra camada. Um cuidado que vinha de outro lugar mais profundo, mais íntimo. Quando terminou a limpeza, ele afastou um pouco o foco de luz. — Hoje vou tirar alguns dos pontos — avisou, preparando o material. — Só os primeiros.Os últimos que estão mais no final do corte, ficarão para daqui alguns dias. Assim que disse isso, viu Clarice enrijecer. Não foi um movimento grande. Mas ele percebeu imediatamente. A respiração dela ficou mais curta. Os dedos se apertaram no lençol. Os olhos desviaram, fugindo do procedimento. Oliver recuou um centímetro, apenas o suficiente para olhar para o rosto dela. — Clarice — chamou, suave. — Está com medo? Ela hesitou. — Não é… medo. Eu só… — ela engoliu seco, tentando achar palavras. — Não gosto muito de… agulhas e… essas coisas. E tudo ainda dói. Oliver inclinou o corpo, aproximando-se do campo de visão dela sem invadir seu espaço. — Eu prometo que vou ser delicado. — Seu tom era baixo, firme, quase um sussurro tranquilizador. — Você m*l vai sentir. E eu vou te avisar de cada passo, ok? Ela o olhou. Um olhar tão vulnerável, tão sincero, que fez algo dentro de Oliver apertar. — Eu confio em você, Oliver.— ela disse. O nome na voz dela… Suave, íntimo, quase um carinho. Ele sentiu o estômago revirar não de desconforto, mas de um sentimento perigoso, profundo demais. Ele respirou fundo e retomou o controle. — Então vamos devagar — ele disse. — Me avise se doer, ou se algo incomodar. Eu paro imediatamente. Clarice assentiu. Oliver aproximou novamente o instrumento, retirou o primeiro ponto com precisão e rapidez. Clarice se contraiu minimamente, mas ele colocou a mão sobre o braço dela um toque leve, medido, mas firme o suficiente para transmitir segurança. — Assim… muito bem — murmurou. — Já foi um. Ela soltou o ar, quase rindo. — Nossa… foi rápido demais. — Eu disse que seria — ele respondeu, não escondendo o sorriso que surgiu no canto da boca. Ele continuou o procedimento com calma, observando-a entre um ponto e outro, atento a qualquer sinal de dor. E Clarice… ela parecia relaxar aos poucos, olhando para ele como se o simples fato de Oliver estar ali fosse suficiente para torná-la segura. Quando terminou, ele guardou o material e removeu as luvas. — Pronto. Acabou. — Ele disse com um tom suave. — Você foi perfeita. Clarice sorriu aquele sorriso pequeno, mas cheio de luz. Um sorriso que mexia com ele de forma quase dolorosa. — Obrigada… de verdade. Oliver desviou o olhar por um instante, respirando fundo, tentando se recompor. Porque cada “obrigada” dela soava como algo mais. Algo que não deveria estar ali. Algo que ele sabia que não poderia corresponder… …mas que desejava perigosamente corresponder. — Descansa um pouco — ele disse, a voz um pouco mais baixa do que o habitual. — Eu volto para te ver mais tarde. Quando ele saiu do quarto, sentiu o coração bater rápido demais. E percebeu, de maneira irremediável, que Clarice Beck estava começando a derrubar todas as barreiras que ele levou anos para erguer.
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