Quando Oliver aproximou o foco de luz e começou a preparar os instrumentos, Clarice tentou parecer tranquila… mas por dentro, seu coração martelava descompassado.
Não era só por causa dos pontos.
Era por causa dele.
Desde que acordara do coma, Oliver era a figura constante que visitava seu quarto, que explicava tudo com paciência, que a tratava com um cuidado que ninguém absolutamente ninguém mostrara nos últimos anos.
E agora ele estava ali, tão próximo que Clarice podia sentir o calor do corpo dele, a respiração calma e estável, o perfume discreto misturado ao cheiro frio do hospital.
Quando ele disse que retiraria os pontos, o medo apertou o peito dela de um jeito quase infantil. Dor ela conhecia física e emocional mas aquele medo específico a deixava frágil.
E Oliver percebeu.
Claro que percebeu.
Ele sempre percebia.
— Clarice… Está com medo?
A voz dele era baixa, suave demais para um homem tão sério. E ouvir seu nome assim… a fez engolir seco.
Ela não queria parecer fraca. Não para ele.
— Eu só… não gosto muito de agulhas…
Ele se inclinou um pouco, entrando no campo de visão dela. Os olhos castanhos dele eram firmes, atentos, gentis.Um tipo de gentileza que ela não reconhecia mais na vida.
— Eu prometo que vou ser delicado.
E, naquele instante, Clarice acreditou.
Sem reservas.
Sem dúvidas.
“Eu confio em você, Oliver.”
Ela disse antes de pensar, antes de medir palavras.
E quando ele a olhou…
Havia algo ali.
Algo contido demais para ser casual.
Oliver começou a retirar os pontos, e Clarice tentou manter a respiração controlada. Ele era preciso, rápido, quase não dava tempo de o medo crescer.
Mas o que mais a afetava não era o instrumento…
Era o toque leve da mão dele quando ela se contraiu.
Um toque simples, mas caloroso, firme e ao mesmo tempo cuidadoso.
Foi tão inesperado.
Tão… reconfortante.
Clarice fechou os olhos por um segundo, deixando aquele gesto atravessar o caos dentro dela: as lembranças confusas, o noivo que ela não escolheu, a sensação de estar sendo puxada para todos os lados.
Mas Oliver…
Oliver era o único ponto estável.
E isso era perigoso, ela sabia.
Enquanto ele retirava o último ponto, Clarice o observou de perto. O jeito como ele franzia levemente o cenho ao se concentrar. A precisão das mãos. A calma. A força silenciosa que parecia envolvê-lo como um escudo.
Ele era diferente de tudo o que ela conhecia.
Diferente de Henry.
Diferente da própria família.
Diferente dos garotos que ela observava na faculdade.
Clarice sentiu o rosto esquentar quando ele disse:
— Pronto. Acabou. Você foi perfeita.
Perfeita.
A palavra ecoou dentro dela, tingindo suas bochechas de um leve vermelho. E ela viu por apenas um instante Oliver desviar o olhar, como se estivesse lutando contra algo que não podia dizer.
— Obrigada...de verdade— ela sussurrou.
Mas o que queria dizer, no fundo, era outra coisa:
Obrigada por me tratar como alguém que importa.
Obrigada por me olhar com humanidade.
Obrigada por me fazer sentir… segura.
Quando ele saiu do quarto, o silêncio pareceu mais frio.
E Clarice percebeu que, sem querer, estava começando a esperar o momento em que ele voltaria.