Capítulo 23. POV Oliver

435 Palavras
Oliver fechou a porta do quarto devagar, mais devagar do que o necessário. Quando o clique suave ecoou pelo corredor, ele soltou o ar que estava prendendo sem perceber. O corpo inteiro parecia tenso. Não era a cirurgia. Não era o hospital. Não era o plantão. Era Clarice. Ele caminhou pelo corredor, passos longos e determinados, mas não havia destino real. Precisava andar, tirar aquele turbilhão de dentro do peito ou pelo menos tentar. Entrou na sala de descanso, mas não acendeu a luz. Ficou na penumbra, apoiando as mãos na pia do pequeno banheiro interno, inclinando-se sobre ela. A imagem dela ainda estava ali, colada na mente: os olhos azuis brilhando, a pele sensível sob seus dedos, o modo como ela o olhara quando disse: “Eu confio em você, Oliver.” Ele fechou os olhos com força. Isso não podia acontecer. Isso estava ultrapassando todos os limites éticos, emocionais, profissionais. E mesmo assim… ele não conseguia se afastar. Quando tinha perdido o controle desse jeito pela última vez? Quando deixara um paciente atravessar suas barreiras assim? A resposta era simples, dolorosa, enterrada e ele não ousou pensar no nome. Oliver puxou a água gelada e passou no rosto, tentando apagar a sensação quente da pele dela sob seus dedos. Foi inútil. A lembrança era forte demais. O modo como Clarice tentou ser corajosa. O medo silencioso que só ele percebeu. A confiança. O sorriso tímido quando ele disse que ela tinha sido perfeita. Perfeita. Ele realmente disse isso. Merda. Ele se endireitou, respirou fundo, encarando o próprio reflexo no espelho: olhar cansado, mandíbula apertada, expressão mais emotiva do que gostaria de admitir. “Controle-se”, pensou. “Ela está vulnerável. Você está vulnerável. Isso é uma combinação perigosa.” Mas, no fundo, sabia que não era só isso. Clarice não o afetava apenas pela situação clínica dela. Ela o afetava… por quem era. Pela luz inesperada no meio da escuridão dele. Pela doçura resistente. Pela força escondida num corpo ferido. Ele pegou o celular. Uma nova mensagem de Corvo piscava na tela: “O noivo esta dormindo no carro em frente ao hospital, fique atento." Oliver sentiu o sangue esquentar sob a pele. Eu vi. Eu ouvi. Eu senti. E havia mais algo instintivo, profundo, perigosamente protetor crescendo dentro dele. Ele voltou para o corredor, ajeitando o jaleco, controlando a expressão. Enquanto caminhava de volta para a UTI, uma certeza nua e crua se formou em sua mente: Clarice estava em perigo. E ele não ia permitir que nada acontecesse com ela. Mesmo que isso significasse atravessar linhas que jurou nunca tocar.
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