Capítulo 2

1394 Palavras
Lara Embora a verdade seja que estou cada vez mais inclinada a dispensá-lo. Ele não gosta de sair, nunca me leva a lugar algum interessante e se recusa a compartilhar momentos românticos. Nem mesmo uma ida ao cinema ele demonstra interesse! Estou ficando exausta dessa situação. Ah, como adoro aproveitar minha folga nos fins de semana! É meu momento de diversão, especialmente depois de uma semana tão dedicada ao estágio e à faculdade, que já é bem cansativa. Aproveito para sair e me divertir, afinal, ainda sou jovem, né? E quem passa o dia inteiro em casa? Meu namorado preguiçoso! Em breve, ele será apenas mais um número nas estatísticas, um relacionamento que terminará em três meses. Quando não estou com alguém que não gosta de sair, acabo me envolvendo com outro que quer se intrometer na minha vida, o que não suporto. Nem mesmo minha mãe consegue me controlar; imagine um homem qualquer... Volto à realidade ao ouvir a voz da minha mãe me chamando. — Você pretende ficar com aquele indivíduo completamente apático? Verdade, Lara? Ele permanece deitado o tempo todo... Você apenas me desaponta mais a cada dia que passa. Saio de casa enquanto ela fala sozinha, evitando ser rude com ela. Estou exausta da presença constante da minha mãe! Às vezes, tenho a sensação de ter sido adotada ou trocada na maternidade; definitivamente, não me sinto parte desta família. Ao longo do dia, decido encerrar meu relacionamento, se é que posso chamá-lo assim. A parte mais difícil do término foi ouvir do André que eu sou a perdedora e que há várias pessoas aos seus pés. Imagina só! Gargalhei na frente dele e parti, deixando-o enfurecido. E devo dizer que foi a melhor decisão que tomei! Agora, ele é apenas uma lembrança do passado, e hoje quero me divertir flertando, bebendo e dançando naquela casa noturna até me cansar! Você ainda acha que eu moro de graça com meus pais? Não acreditem que isso seja tão simples... Sou responsável por contribuir financeiramente enquanto vivo com eles. Não é um aluguel, mas tenho que arcar com as despesas de água, energia elétrica, internet e suportar as constantes cobranças da minha mãe e as "regras" que parecem se aplicar exclusivamente a mim. Uma dessas regras é que eu não posso trazer meu namorado para passar a noite em casa, enquanto minha irmã, Keila, tem total permissão. E o pior de tudo é que o quarto dela fica ao lado do meu, fazendo com que eu ouça cada detalhe do que acontece entre os dois ali dentro. Às vezes, não consigo suportar e bato na porta, esperando que percebam e diminuam o volume. Mas, infelizmente, essa intervenção não dura muito tempo. Anseio por igualdade de direitos. Minha mãe vê Keila como a filha virtuosa, enquanto eu sou rotulada como a problemática, com palavras ofensivas que prefiro não repetir. E, para responder à pergunta que todos fazem: “Por que você não sai de casa?” A verdade é que, embora eu contribua com algumas despesas, viver sozinha envolve muito mais. Almejo ter meu próprio espaço, e, com fé em Deus, espero que isso aconteça em breve. Quer saber? Vamos mudar de assunto e pensar em coisas boas. Como os gatinhos que me esperam na nova boate hoje à noite! Depois de encerrar o meu turno na clínica odontológica, planejo ir à casa da Hadiya para garantir que ela não escape do nosso programa. Ela não é exatamente uma entusiasta de atividades sociais e momentos de lazer. Minha amiga carrega uma melancolia profunda. Hadiya realmente está em uma situação lamentável... Não consigo entender como uma mãe pode confiar sua filha de apenas onze anos a uma família desconhecida. Hadiya assumiu o papel de babá para essas crianças. Imaginem, uma garota cuidando de três outras! É insano, não é? E ainda mais insano é o fato de que, entre essas crianças, há uma que a encantou — e ainda a encanta. Tenho certeza disso, pois ela nunca esqueceu do garoto de olhos verdes. Lembro-me vividamente do dia em que ela entrou na sala de aula onde eu estudava, tímida e mais velha que os outros alunos. Aquilo só fez com que as crianças cruéis zombassem dela, e seu olhar triste se tornou uma visão constante. Perdi a conta das vezes em que a vi derramar lágrimas. Coitadinha da minha querida amiga... Hadiya, com seu espírito forte e gentil, sempre foi uma luz em meio à escuridão que a cercava. A discriminação na escola era uma sombra constante, e os professores, infelizmente, ignoravam o que acontecia. Lembro-me de um dia em que não consegui me conter; confrontei uma garota que ousou ofender Hadiya. A partir daquele momento, nossa amizade floresceu, tornando-nos inseparáveis. Hadiya compartilhou comigo sua história, revelando as dificuldades que enfrentou. Meu coração se enche de raiva ao pensar naqueles que a exploraram. Se eu pudesse, não hesitaria em destruir a casa deles. Mas havia um que se destacou: Kevin. Ele foi o único a mostrar verdadeiro interesse por Hadiya, mesmo após desaparecer sem explicações. A forma como ele a olhava, como se enxergasse sua alma, me faz pensar que talvez ainda exista um fio de esperança entre eles. Hoje, sinto que preciso entrar em contato com Hadiya. Ela se preparava para uma reunião com seu novo chefe, e a ansiedade a consumia. Eu a conheço bem; não há razão para temer demissão, pois Hadiya é uma funcionária incrível, dedicada e cheia de talento. Espero que este novo chefe seja mais compreensivo do que o anterior, alguém que saiba valorizar sua luz. Por que existem patrões que não reconhecem o valor de seus colaboradores? Isso me deixa perplexa. Às vezes, é difícil acreditar que o mundo seja habitado por tantos indivíduos sem empatia e má intencionalidade. Recordo com carinho da adorável Maitê. Ela foi a protetora celestial de Hadiya. Sem essa mulher gentil, cuja memória guardamos com amor, não consigo imaginar como seria a vida de Hadiya. Maitê ofereceu abrigo, carinho, alimentação e a oportunidade de estudar, tornando-se uma mãe para ela. O caminho de Hadiya foi cheio de desafios. Sua batalha contra a depressão foi intensa, e por vezes, o medo de que ela se prejudicasse era avassalador. A dor do abandono familiar, a exploração de uma família que não a valorizava e o desaparecimento de Kevin, por quem Hadiya ainda nutria sentimentos, tornaram seu fardo ainda mais pesado. Como minha amiga suportou tanto sofrimento? Sua força é admirável. Após a partida de Maitê, meu coração se encheu de tristeza e medo pelo retorno de Hadiya às dificuldades do passado. Contudo, com gratidão ao Divino, vi sua coragem e determinação florescerem, com a ajuda de um profissional da psicologia. Enquanto retorno à rotina, a clínica está cheia de pacientes e, ao meu redor, alguns dentistas de beleza estonteante. Não flerto, mas sou humana e reconheço a beleza quando a vejo. A vida é curta, e o olhar de um homem atraente pode fazer o coração acelerar. Ah, como é difícil ignorar os encantos do doutor Rômulo! Suas mãos grandes e habilidosas me fazem imaginar a intensidade de seu toque. Mas por agora, deixemos esses pensamentos tentadores de lado e foquemos no que realmente importa: entrar em contato com minha amiga. O amor e a amizade são a verdadeira força que nos sustenta, e é hora de eu estar ao lado dela novamente. Ligação on: — A que devo a honra dessa ligação? — minha amiga perguntou, sua voz transbordando curiosidade. — Amiga, hoje tem a inauguração de uma boate, e quero que você vá comigo. — Ótimo! Estou precisando mesmo de uma noite divertida para me distrair. — Como é o seu novo patrão? — É o homem mais lindo que já vi na vida. — Uau! Você encontrou um homem bonito, então... — A empolgação na minha voz era evidente. Conversamos mais um pouco, compartilhando risadas e histórias sobre a vida, a amizade e, claro, os encantos do amor. Logo, o tempo passou sem que percebêssemos. — Vou deixar você se preparar, então. Não quero que você se atrase para o encontro! — Não se preocupe, vou estar pronta! Desligamos, e um sorriso iluminou meu rosto. Era bom saber que Hadiya estava se permitindo sonhar novamente, e quem sabe, essa noite na boate poderia ser o início de algo mágico em sua vida.
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