Ana Júlia Alencar ❦
Minha cabeça estava doendo, mas pelo menos meu corpo estava relaxado. Suspirei, levantando do chão, e no momento em que me sentei, ouvi meu celular vibrar. Assim que peguei o aparelho e abri a mensagem, vi que Lotte dizia que Ramon queria fazer uma reunião.
Logo em seguida, outras mensagens chegaram, todas perguntando onde eu estava.
Męrda.
Levantei rápido do chão e vi Gumball quietinho. Sorri e simplesmente saí correndo do quarto. Eram cinco e vinte quando Lotte mandou a primeira mensagem — agora já eram sete e meia. Ramon iria me måtar com razão.
Ao chegar na cozinha, notei um capacete preto em cima da bancada. Franzi as sobrancelhas. Eu estava ficando maluca? Aquilo não estava ali ontem à noite. Dei um passo para pegar o objeto e tentar raciocinar, mas, antes disso, meu celular vibrou de novo — o nome de Ramon brilhou na tela.
— Alô! — atendi rapidamente, esquecendo de qualquer coisa ao meu redor. Corri até o elevador e apertei o botão diversas vezes até ver a cabine subir. Assim que entrei, notei o desastre que era meu cabelo. Dei um jeito de amarrá-lo tão de qualquer jeito que tinha certeza que viraria um nó na hora de lavar. — Ramon... n...
Ele não me deixava falar.
— Não precisa gritar! — berrei e simplesmente desliguei o telefone. Respirei fundo, tentando colocar minha cabeça em ordem.
Ontem foi o dia em que enviamos o vídeo e... bom, nada aconteceu. Isso estava tão, mas tão estranho.
°∆•
Corri tão rápido com a moto que já estou esperando pelas multas. No momento, subia as escadas de emergência como se alguém tivesse morrįdo. Não esperei o elevador, ele estava demorando uma eternidade, e, quando cheguei ao último andar, sentia meu pulmão arder.
Estava ofegante, e assim que entrei na sala de jantar, vi Ramon sentado em sua cadeira, como sempre. O café ainda estava sobre a mesa — é claro, ele não deixaria as empregadas tirarem o café. Era isso que ele fazia conosco quando éramos crianças.
No momento em que ele se levantou, abaixei a cabeça. Olhava para os meus próprios pés descalços — sim, pilotei descalça. Não me pergunte como. Ramon raramente ligava diretamente para a gente, e podemos dizer que isso me desestabilizou um pouco. Assim que vi sua figura diante de mim, travei os dentes.
Męrda...
— Júlia — ele disse com a voz baixa, e logo vi a sombra do seu braço se levantar. Fechei os olhos com força. E então senti o tapa, tão forte que caí no chão. O sangue escorria dos meus lábios. Não era a primeira vez. Ele sempre nos castigava quando saíamos demais da linha e, bem...
— Você måtou a irmã do Rossi. Uma situação que estávamos tentando contornar virou oficialmente uma guerra — o tapa não doía tanto quanto suas palavras e sua maneira tranquila de dizer aquilo. — E adivinha? Você não estava sentada à mesa para receber as primeiras instruções do dia. Onde estava?
— No apartamento do Rubens — respondi, olhando para o piso de madeira sem piscar. — Dormi lá.
— Enquanto você passou a tarde e a noite lá, Makyson foi perseguido, sabia? — levantei o rosto, arregalando os olhos, incrédula com o que ouvia. Isso não era possível... como? — Pois é, seu show nos causou problemas. E adivinha? Você não estava aqui! Onde estava!?
Me encolhi e abaixei a cabeça no momento em que ouvi seus gritos. Mas, antes que nossa pequena reunião continuasse, os alarmes de incêndio começaram a soar. Isso não era bom.
Levantei rapidamente, e no mesmo instante me virei na direção dos corredores — a tempo de ver Silas aparecer correndo.
— Fudėu! — foi a primeira coisa que ele disse. — Estamos sendo atacados! Como esses merdås estão entrando aqui de novo!?
Ramon correu até a mesa, voltando ao seu assento e pegando a pistola escondida debaixo dela. Eu fiz o mesmo, indo até minha cadeira e pegando tanto a minha arma quanto a de Rubens. Por protocolo de segurança, todos tínhamos uma arma embaixo da mesa de jantar e sempre fomos treinados para situações assim.
Sentia meu coração batendo nos ouvidos. Adrenalina.
No instante em que guardei a arma de Rubens na cintura e engatilhei a minha, vi o primeiro homem — todo vestido de preto, com uma rosa bordada no terno — sair do elevador. E antes que eu pudesse raciocinar, ouvi barulho de helicóptero e, instantes depois, os vidros da sala de jantar se estilhaçarem — homens invadindo a cozinha.
— Pōrra!
Gritei e atirei na cabeça do homem que estava na minha mira, fazendo-o cair mōrto no chão. Em questão de segundos, ouvimos barulho de metralhadora e rapidamente nos abaixamos.
— Eu tenho um encontro hoje à noite! — Silas gritou. — Não vão me måtar hoje, seus filhos da pūta!
Arregalei os olhos quando vi ele tirar quatro granadas do bolso. Ramon correu pelo corredor e Silas veio logo atrás. No momento em que corri, ouvi um barulho tão alto que fez meu cérebro balançar.
Męrda!
Balancei a cabeça, tentando aliviar a dor crescente, e vi Ramon atirar em alguém de terno.
Ok. Todos de terno: måtar. Simples.
Era protocolo descer até o porão, sair pela passagem secreta e entrar nos carros em duplas. Era isso que estávamos fazendo. Correndo para o porão da tortūra.
A única coisa que me preocupava era Charlotte. Eu estava com os dois homens, mas onde estava o resto do grupo? Vi os empregados se esconderem nas passagens secretas e sorri, aliviada por saber que ficariam bem.
No momento em que ouvi um tiro e me virei, vi Silas måtando uma mulher.
— Aqui não é mais seguro! — gritei.
— Não me diga! — Silas respondeu com voz extremamente sarcástica.
— Não, idįota, pensa comigo: é a segunda vez. A gente reforçou tudo. Alguém de dentro da facção está ajudando esses merdås!
— Júlia! — ouvi Ramon gritar antes de puxar meu braço, a tempo de me proteger de uma bala que atingiu o braço dele. Atirei na direção do homem.
— Você tem razão. Aqui não é o lugar! Porão! Agora!
Afirmei com a cabeça, assustada ao vê-lo sångrar, e continuei correndo pelos corredores. Quando chegamos às escadas do subsolo, ouvi os irmãos Sanchez, Lisa... mas Charlotte?
— Cadê a Lotte!? — gritei para Lisa.
— Ela foi atrás de você!
Não!
Virei as costas e, mesmo sentindo Silas puxar meu braço, o empurrei e corri pelo mesmo caminho de antes. Mas, dessa vez, em vez de ir para a cozinha, fui para os quartos.
No instante em que pisei no corredor, dois homens estavam à minha frente. Antes que eu pudesse pensar, atirei no joelho do primeiro e depois na cabeça. Quando mirei no segundo, ouvi apenas o clique — sem balas.
O homem riu e apontou a arma pra mim. Rapidamente, puxei a de Rubens e atirei. Måtei tão rápido que senti o mundo parar.
— Charlotte! — gritei, desesperada. — Lotte!
Entrei primeiro no quarto dela. Vazio. Meus olhos começaram a arder. Queria chorar. Ela não... Senhor, ela também não...
— Charlotte!! — berrei com toda a força dos meus pulmões.
— Ana! Amiga! — ouvi sua voz vindo do meu quarto. Entrei e a vi sentada na cama, com quatro homens mōrtos ao redor. Ela estava sangrando, e isso foi o suficiente para me deixar apavorada. — Eu tô bem. Abdômen, só de raspão. Essa que me fudėu já estou resolvendo.
Olhei para sua coxa com dois furos, e ela improvisando um torniquete com meu cinto.
— Você está viva! — corri e a abracei tão forte que ela tossiu e riu.
— Vamos, temos que ir agora!
Puxei seu braço, sorrindo, mas no momento em que virei na direção da porta e corri, senti algo atravessar minha barriga. Lotte gritou atrás de mim. Quando olhei para baixo, vi uma faca enfiada na minha costela — próxima demais do pulmão. Antes que o homem pudesse puxar a faca, agarrei seu braço e Lotte atirou na cabeça dele.