Giovanna acordou nos braços de Leonardo em sua cama e resolveu levantar-se para fazer o café da manhã. Quando estava quase terminando de pôr a mesa, Leonardo chegou na cozinha e disse:
- Bom dia.
- Bom dia. -respondeu Giovanna. - Dormiu bem? -completou, sentando-se na mesa.
- Maravilhosamente, ainda mais com a minha mulher do meu lado. -respondeu, acompanhando Giovanna a mesa. A mulher sorriu.
- Vem cá, tu ouviu ontem? -perguntou Giovanna.
- Ouvi o que?
- Os tiros. -respondeu Giovanna.
- Já estou até acostumado. Ouvi o primeiro depois dormi de novo. Porque? Teve algo diferente dessa vez? -perguntou Leonardo.
- Não, nada de diferente não. Acho incrível você ficar tranquilo com isso.
- Gio, desde quando você se mudou pra cá que sabe que eu moro perto da favela e tem esses tiroteios de vez quando. Mas mesmo estando próximos, estamos longe também.
- Tá, mas você sabe que eu não me conformo com isso, eu não me conformo.
- Você não se conforma porque é uma policial, se você fosse como eu, um advogado trabalhista não teria essa preocupação.
- Eu teria essa preocupação mesmo se eu fosse uma moradora dessa comunidade, princípios não são medidos com as profissões que temos, Leo.
- Tá bem, Gio, por favor não vamos brigar por isso. Estamos numa boa, tá um dia lindo hoje. O que você acha da gente ir pro calçadão, caminhar um pouco? Hein? -pediu.
- Tá bem. Então vamos pra rua, assim que terminarmos o café.
Assim foi feito. Giovanna e Leonardo se vestiram adequadamente para uma caminhada no calçadão e quando prontos, foram para o local. Conversaram enquanto caminhavam e quando chegou em um quiosque, pediram dois cocos e tomaram para se refrescarem.
Alexandre estava em seu escritório, que ficava no topo do morro. Lá ele recebia as pessoas para fazer seus empréstimos ilegais.
- Pode mandar o próximo entrar aí, faz o favor. -disse Alexandre quando saiu o penúltimo morador da comunidade que estava na fila para pedir dinheiro emprestado.
Entrou uma senhora de idade e sentou-se em frente a Alexandre.
- Oi, seu Nero. -disse a senhora.
- Ô dona Clotilde, como vai? No que posso ajudar a senhora? Tá precisando de algum? -perguntou em relação a dinheiro.
- Eu queria falar com o senhor mas teria que ser sem esse rapaz aí. -disse apontando para um dos rapazes que trabalhavam para Alexandre.
Alexandre olhou para o rapaz e depois voltou a olhar para Clotilde.
- Dona Clotilde, a senhora pode falar comigo na frente dele que não tem problema não. Aconteceu alguma coisa entre vocês dois? -perguntou.
- Aconteceu nada não, chefe, essa véia é que é doida. -disse o rapaz.
- Cala a boca, Mosquito. -ordenou Alexandre. - Fala, dona Clotilde. -pediu.
- Seu Nero, o senhor sabe que eu luto com muita dificuldade, eu recebo minha aposentadoria e faço costuras para poder pagar minhas despesas e da minha neta que estuda muito.
- Eu sei, a Ritinha quer ser enfermeira e eu acho que é uma boa profissão. Continue. -pediu Alexandre.
- É que eu comprei um celular pra minha menina com muito custo e suor e ela chegou em casa depois do curso, dizendo que esse aí pegou o celular dela.
- Ih, tá maluca, véia? Peguei nada não. -disse Mosquito, indignado.
- Shiu. -disse Alexandre. - Não fala nada que me faça te pôr no microondas agora mesmo. -completou, falando com Mosquito.
Um silêncio começou na sala e Alexandre falou novamente:
- Devolve o celular para dona Clotilde. -ordenou Alexandre.
- Eu não peguei nada não, Nero.
- DEVOLVE A p***a DO CELULAR PRA DONA CLOTILDE, AGORA. EU NÃO VOU FALAR DE NOVO. -gritou.
O rapaz bufou e tirou do bolso o celular e jogou na mesa.
- Muito obrigada, seu Nero. -agradeceu Clotilde.
- Imagina, dona Clotilde, eu que peço desculpas para senhora. Pode ir, vai com Deus. Qualquer coisa estamos as ordens.
A senhora virou as costas e foi embora do escritório. Alexandre levantou-se, olhou para Mosquito e disse:
- Que p***a foi essa? Eu já não falei que a regra é não pegar nada de ninguém aqui da comunidade. Hein, c*****o?
- Chefe, eu tava precisando. -respondeu, sem olhar nos olhos de Alexandre.
- Ah, tava? A dona Clotilde também tava. Precisou? Rouba de quem tá no asfalto, não de ninguém aqui da favela, falou? -disse, dando um t**a na cabeça de Mosquito no fim da frase. - Fica esperto que se eu descobrir mais roubo teu por aqui, tu vai perder essa mão leve aí. -avisou.
- Sim, senhor. -respondeu Mosquito.
Giovanna e Leonardo chegaram em casa e tomaram banho. Depois disso, Leonardo foi fazer o almoço e Giovanna foi trabalhar no notebook. Ela começou a investigar mais ainda sobre o traficante Alexandre Nero, conhecido como Nero.
Encontrou algumas fotos suas sendo preso algumas vezes quando jovem por roubos, furtos e t***************s. Mas depois que ele se tornou chefe do morro, nunca mais foi pego pela polícia. Ela queria pega-lo desde quando era apenas uma agente que havia acabado de entrar na polícia federal. Agora, sargento, almejava as honrarias que receberia caso pegasse o traficante que está foragido a anos. Ela voltou a montar a operação que estava planejando a meses com sua equipe e chegou numa incógnita: achar alguém para trabalhar infiltrado na favela. E pensou que esse alguém tinha que ser encontrado o mais rápido possível, senão poderia ser tarde demais.
Alexandre, depois de atender a senhora, foi atrás de uma de suas mulheres, Ísis. Ela morava em um barraco mais luxuoso, graças a Alexandre. Ele bateu na porta da ruiva e ela abriu.
- Será que tem como você me dar uma atenção agora? -perguntou Alexandre.
- Sempre, meu amor. -respondeu, abrindo um largo sorriso.
Ele entrou no barraco e Ísis subiu em seu colo, beijando o traficante.