Procurei saber o horário que a Carolina saia da escola hoje, peguei o ônibus até Campo Grande e andei até o colégio da doida. Se tivessemos brigado por qualquer outra coisa, a raiva já teria passado, mas a causa foi diferente, pisei na bola, po.
Encostei no poste e esperei com o sol rachando. Logo saiu ela junto com umas meninas e demorou pra perceber minha presença. Sorri em sua direção e ela revirou os olhos vindo até a mim.
— Nada de muitas palavras, Luan — cruzou os braços.
— Vai cruzar bracinho pra mim agora, querida — afeto a voz e cruzo os braços também a fazendo rir — Vem cá — a puxo pra perto — Mandei m*l, eu esqueci. Perdoa, po.
— O leite do Pietro, Luan.
— Eu sei, mô. Eu esqueci total, sabe que não sou de dá vacilo quando se trata do nosso filho. Nunca deixei faltar, por mais difícil que seja.
— Eu sei — me abraça e beijo sua cabeça — Bora pra casa, tô cheia de fome.
— Normal, Dragrãozinho — me bate — Tô zuando, surtada.
— Carol, vai pra pracinha? — um grupinho se aproxima da gente. Ela olha pras meninas sem me soltar.
— Vou nada.
— Tu nunca vai com a gente, saudades da Carol que topava tudo — reclama.
— Quando se tem filho, fica f**a — me olha de volta — Bora? — concordo. Tiro a mochila de suas costas e coloco na minha, Carol me dá a mão e fomos andando até o ponto.
— Por que tu não foi, po? — ela me olha estranhando — Hoje é segunda, segunda não abre a mecânica, eu ia pra casa e ficava com a vó e o Pietro.
— Eu vou fazer 17 anos na cara e tenho filho. Não tenho tempo pra ficar indo pra pracinha beber ou ficar andando em círculos pelo shopping.
— Não tá mais aqui quem falou — abraço sua cintura. Pegamos o ônibus pra casa, passei meu cartão escolar mesmo e segui a Carol até o banco alto e sentamos. A puxei pra encostar a cabeça no meu ombro e fiz um carinho nela que foi logo fechando os olhos.
A minha relação com a Carol começou quando ela tinha 14. Começou com a gente se encontrando na porta da escola, eu buscava ela, levava pra tomar uma casquinha e deixava ela em casa. Óbvio que depois de um tempo esquentou e foi pimba na certa. Numa dessas, o amiguinho grudou no útero de princesa e gerou o Pietro.
Quando a mãe da Carolina descobriu, deu uma surra na filha e botou pra fora de casa com tudo. A garota me ligou desesperada, voei pra rua dela, catamos as roupas, colocamos dentro do saco e levei ela pra casa, sabia que a Lua iria entender. Luana queria dar uma surra na mãe da garota, mas Carol não deixou. Minha irmã a acolheu de braços abertos, colocou ela na nossa casa e minha avó ficou toda boba por saber que teria um bisneto. Acompanhamos cada momento da gravidez e Luana já babava e mimava de tudo quanto é forma possível. Minha irmã é um anjo, me ajudou demais e ainda ajuda.
Ela cuida da nossa avó que por causa da idade avançada, não aguenta fazer muita coisa, faz o mínimo. Ajuda dois adolescentes idiotas a cuidar de uma criança. Ainda trabalha o dia inteiro fora, meio período numa loja de roupas em Camará e outro período na loja Americanas de Bangu.
Carolina acabou repetindo o primeiro ano na escola, mas mesmo assim não desistiu e está sendo mais forte ainda esse ano. Ela quer se formar como professora no Sara, por isso fica muito tempo fora de casa.
Acordo Carol quando chegamos no nosso ponto na Vila, descemos e a levei no trailer do Ravis. Pedimos duas casquinhas de açaí e fomos andando pra casa.
— Não me canso de falar — coloco a mão na cintura dela — Tu fica muito gostosa nessa saia, p**a merda — bato em sua b***a e ela rir baixinho.
Chegamos em casa e vi Luana dormindo no sofá com Pietro em cima dela acompanhando a tia — Tira ele de cima dela e bota a Lu pra deitar na cama dela — Carol mandou.
— Já tá me dando ordem — pego Pietro que resmunga um pouquinho, dou batidinhas na sua b***a e ele volta a dormir — Lua — a balanço de leve e abre os olhos — Vai deitar.
— São que horas? — olho no relógio de parede — vinte pras duas.
— Tenho que ir — boceja e senta no sofá — O almoço tá pronto, só esquentar — concordo. Levo Pietro pro nosso quarto e o coloco no berço.