Pré-visualização gratuita Prólogo
Arthur Allbertilli, 15 anos
Vejo papai andar de um lado a outro na enorme sala de casa, onde no momento tem alguns dos meus livros de estudos espalhados, ele parece com raiva, na verdade, ele sempre parece com raiva, mas eu não ligo muito, desde que ele não me bata, mas no momento, eu fiz coisa errada, vejo isso em como seus olhos cheios de um fogo maligno que me observa. Então ele para de frente para mim, sua mão aperta com força meu braço esquerdo, me fazendo sentir um pouco de dor.
- No que você estava pensando ao falar com gente daquele tipo? EM ARTHUR, EU JÁ TE FALEI. - Ele abaixa um pouco a voz, sinto meu corpo tremer de medo. - Não é para você andar com gente desse tipo. Eles são nojentos, são as piores coisas que poderiam existir na terra, me entendeu? Eles fazem m*l as pessoas meus filhos, eles querem o m*l de todos, querem te levar para o mau caminho. - Mas meu amigo não é mau.
- Mas papai, ele é só meu amigo. - Ele rir, me solta e vira as costas para mim. Mas então, sinto o tapa no meu rosto, caio no chão, batendo minha cabeça contra a mesinha de centro no meio da sala, me sinto tonto, com medo, cansado de tudo, mas não posso chorar, não na frente dele, homem não chora, papai me ensinou isso. Apenas levanto e abaixo a cabeça, mesmo que isso quase me leve a cair de volta no chão pela tontura.
- Diz Arthur, porque não pode estar perto de pessoas como eles, hein? Me fala? - Tudo o que eu queria era ter amigos para conversar, não apenas ficar trancado em casa. Quando chego da escola, a qual não tenho ninguém com quem falar, eu tenho que estudar mais, aprender línguas novas, ou sobre como ser um bom médico ou advogado.
- Não posso me juntar aos gays porque eles são anormais, eles mentem, iriam me levar para um m*l caminho, eles odeiam Deus, vai contra tudo o que Jesus ensina. - Falo a frase a qual ele me faz decorar sempre que eu o vejo, é sempre assim, quando estou com ele, sempre falando o quanto repudia e odeia os gays.
- Isso, muito bem. - Olhe para mim. Ele manda, e sei o que vem a seguir. Fecho os olhos, uma forte dor atinge meu lado esquerdo do rosto. - Quantas vezes falei para não fechar os olhos na minha frente quando eu for te repreender? - Engulo o choro.
- Desculpa papai. - Então olho em seus olhos, ele desfere o segundo tapa e me empurra, por pouco não vou ao chão novamente, ele se vai, sem olhar para trás, ou um olhar de arrependimento, apenas seu ódio, só isso que tenho dele. E tudo porque eu aceitei jogar vídeo game com o filho de um casal gay. Quem é o mostro nessa história? Meu pai? ou os gays?
Desde muito pequeno fui ensinado sobre tudo que se deve saber um adulto, por isso posso dizer que tenho o pensamento de uma pessoa com seus 18 anos, sei quem é o errado aqui, mas eu tenho medo, sou só uma criança, um quase adolescente, o que eu poderia fazer contra um adulto que apenas sabe me bater? Ele quer respeito de mim, mas assim, apenas tenho mais ódio dele, tenho ódio dessa família. E medo, muito medo.
Não aguento mais, não mesmo, então quando ouço o carro dando partida lá fora, meus joelhos cedem, caio, meus olhos cheios de lágrimas, eu só queria morrer.
Papai não me ama, mamãe também não, só está interessada em jantares com suas amigas interesseiras, e eu apenas fico aqui, sozinho, com minhas lágrimas.
O que eu faço?
Levo minhas mãos ao meu rosto, sentindo as lágrimas quentes descerem em cascata.
Aqui tomo uma decisão, não vou, mas me aproximar de pessoas que meu pai não gosta, pelo meu bem e delas próprias, elas vão ter meu desprezo, para não ter a morte vindo do meu pai, sei que ele pode chegar ao extremo quando contrariado. As marcas que carrego me faz ter a certeza.
Enxugo minhas lágrimas e subo para meu quarto, entro no banheiro e tiro minha roupa, no grande espelho atrás da pia, vejo meu corpo magro, marcas ainda um pouco roxa pela sua repreensão de antes, apenas porque eu não concordei com alguns comentários políticos que ele fez. A minha vida é uma droga, e futuramente, se eu soubesse do quão mau eu poderia ser, do quão mostro eu sou, exatamente como meu pai, se eu soubesse no que iria me transformar, eu teria acabado com a minha vida nesse exato momento.
Minha sessão de tortura apenas tinha começado