CAPÍTULO 4

2788 Palavras
Manuella olhou para a grama ao qual ela pisava, verde como nunca havia visto em toda sua vida, parecia que era a coisa mais viva que havia naquele lugar, isso pelo imenso campo que ela cobria, com alguns pontos específicos, com mais pessoas espalhadas, olhou para o homem de bermuda jeans e camisa branca, parada perto dela, usando nada mais que um relógio de dez mil dólares no pulso e um sapato diferente do habitual nele, vendo ele usar um óculos escuro para que o sol não pudesse ficar o atrapalhando. Rodolfo não estava muito bem, ele se inclinou e esticou os braços, apenas para fazer o taco pegar força e pressão, atirou para frente e viu a bola pequena voar pra área mais próxima de onde estava o buraco. Rodolfo gostava de golfe, não como gostava de basquete, mas era gostoso aquele esporte, havia sido um dos primeiros jogos que o pai havia ensinado e jogado sempre que podia com o filho, além de ser uma paixão do Senhor Vinelly, Rodolfo não era o melhor, mas conseguia alcançar o objetivo do jogo. Rodolfo poderia se lembrar dele indo ao escritório e vendo o pai montar o campo improvisado na sala dele e jogar com o garoto. Hugo Vinelly não foi um pai r**m, ninguém poderia dizer que ele na deu atenção para nenhum dos seus filhos, nem Rodolfo e nem Renata, ele se esforçava e sempre foi lembrado por alguns por isso, por tirar um tempo para as crianças, tanto na época do garoto Rodolfo, quanto agora, na época de Renata. Rodolfo sentiu falta do pai na adolescência, quando tinha que fazer muitas escolhas e entre elas tentar não fazer nada errado, mas ele errou muito e isso fez ele não querer ficar tão perto da família e ver eles reclamando do jeito dele e blá, blá! A fase rebelde dele aconteceu, isso fez ele perder coisas importantes, ainda mais pela personalidade r**m que ele tinha ao lugar com escolhas, conflitos e problemas. A última vez que jogou com o pai foi antes do acidente de carro, no ano passado, ele se lembrava que o pai levou a partida inteira e ainda fez piada de Rodolfo. Seu pai era muito bom no golfe. Manuella abriu e fechou a boca ao perceber que aquilo realmente estava acontecendo, os dois ali no campo por trabalho. Ela só não entendia ainda como ele poderia afirmar que o senhor Olavo estava ali, precisava convidá-lo para uma reunião, mas em um campo de golfe? Pelos céus, Manuella esperava que aquilo desse certo. Rodolfo havia tentado falar com ele, mas o senhor Olavo não queria empresa nenhuma tentando jogar uma corda para ele, fazendo ele se salvar do naufrágio eminente. Sabia que o velho era cabeça dura e que iria segurar o negócio até falir, ainda não sabia por que ele não aceitava ajuda e não fazia algo pra tirar uma empresa de tantos anos de uma coisa r**m como falência. Sabia que teria que convencer ele a fazer um acordo, passando a empresa pro pessoal da Vinelly, assim fariam um plano de negócios e faria aquela empresa florescer novamente. Não era bem uma fusão que eles queriam, queriam controle total, nada de sócios e nem donos pegando no pé, então uma compra com acordos fundados eram mais viável. - Tem certeza que não quer jogar? - Melhor eu ficar apenas olhando, vendo onde vamos parar. - Isso tudo é medo de pegar no taco? - Não senhor, já viu o tanto de coisa ao redor? Eu não quero ser processada por danos físicos - Brincou, fazendo Rodolfo rir e balançar o taco no ar, antes de caminhar e ficar na frente da bola que estava a um metro do buraco. - Não tem muito segredo, posso te ensinar. - Uma outra hora - Ela olhou o relógio, seu turno havia acabado a seis minutos. - Vamos fazer hora extra? - Começo de noite e um bom desafio para bons jogadores, tem uma certa dificuldade, o clima fica mais agradável. - Acha que ele estará mesmo aqui? - A secretária dele deixou escapar que ele joga golfe aqui, então pelo assistente da portaria, será hoje, nesse horário - Rodolfo bateu na bola e ela caiu, bem no buraco, fazendo ele soltar um suspiro fundo. - Eu sei que seu turno acabou, mas preciso de você hoje. - Poderíamos ter tentado fazer isso de outra forma. - Te mandar em uma bandeja talvez faria ele aceitar nossa reunião. - Talvez ele não goste disso. - Quer me colocar em uma bandeja, querida? Manuella balançou a cabeça, imaginando uma cena completamente r**m na sua cabeça. - Que horror, não, eu não quero de jeito nenhum. - Que pena, já estava ansioso pra poder ver como iria tirar minhas roupas. - Se isso é hora extra não devia estar falando isso? - Rodolfo se mexeu, pegando a bronca no ar. - Certo, irei parar - Rodolfo se aproximou e pegou a bolsa titleist e colocou o taco dentro. - Ele já devia ter chegado aqui a uma hora, não sei por que a demora, já fiz mais buraco que um furão. - Acha que ele vai aceitar falar com a gente aqui, ele não aceito da forma informal com nós e com ninguém mais. - Manuella, escute - Rodolfo fez uma pausa. - Esse é o diferencial, ele não espera ver alguém disposto a ir atrás dele, eu espero que ele veja que não estamos aqui pra desistir dessa facilmente, você entende isso? - Ele pode mandar a gente ir plantar batata. - Muito recatado pra isso. Ele é das antigas, ele está esperando a falência da empresa, só isso explica ele não fazer nada, assim aquela empresa morre com ele. - Os herdeiros que se cuidem. - Ele só tem um filho, o cara trabalha com ele, foi ele que vazou que eles precisavam de ajuda, o pai descobriu e deixou ele de lado no processo todo. - Ele quis ajudar. - Eu sei, eu sei, só não entendo o motivo dele não deixar o cara fazer isso, ele não é tão r**m, se formou em Harvard, morou na Escócia um tempo, trabalhou na Inglaterra e agora está com o pai, que parece não se importar com o empenho do rapaz. - Isso parece tão estranho senhor, não aceitar ajuda assim. - Geralmente um pai gostaria da ajuda de um filho como ele. Rodolfo se lembrou do próprio pai, da forma que ele deixou de lutar pra ele fazer a substituição naquele semestre. Ele sabia que o pai escolheria ele, mas o conselho iria se opor, mas se Hugo Vinelly tivesse falado algo ou imposto algo, talvez ele estaria onde ele queria. Rodolfo ainda não havia visto e nem falado com o pai, não se sentia pronto e ainda estava chateado de ter que receber ordens de William, de certa forma não estava com raiva do pai, dava pra se lembrar de uma voz na cabeça dele falando para ele não misturar as coisas. Trabalho era trabalho e família era família. - Olavo é teimoso, tem muita gente teimosa por aí - Ele começou a caminhar e Manuella o acompanhou, até que pararam perto de um das áreas e avistaram um senhor velho, segurando um taco. Já não havia cabelos e tinha um rosto enrugado, mas era um senhor velho e atento às coisas, não era corcunda e também não andava como um velho de 74 anos andaria, era bem cuidado e se vestia bem. Até demais. Rodolfo analisou a tacada que o velho fez e de metros ele havia acertado, até se lembrava do pai fazendo aquilo de primeira, como um excelente jogador. - Não vai falar com ele? - Não, você vai - Rodolfo se mexeu, entregando um taco e uma bolinha pra ela. - Senhor? Eu nem sei segurar nisso direito, não pode ser como os chefes normais e apenas se aproximar. - Ele é viúvo, está carente. Vá e abra caminho, eu entro em breve, reforce que está com um amigo da empresa que você trabalha. - Isso não vai dar certo, senhor. Ele não é burro. - Ele é homem. - Um homem de 74 anos não vai cair nesse. - Ande - Manuella suspirou fundo, se moveu e colocou a bolinha no chão, junto com um suporte, viu Rodolfo colocar as mãos no bolso e sair andando pra longe com a bolsa de tacos, como se não conhecesse ela. - Não deve ser tão difícil - Olavo estava a poucos metros dela, se ele fizesse outra tacada, ele iria se afastar. Ela respirou devagar, segurou o taco e fechou os olhos e só colocou a bandeira do buraco na sua cabeça, fazendo o taco acertar a bola. Quando abriu os olhos viu a bola voando e acertando na cabeça do homem, ela ficou parada, paralisada, vendo o homem se virar e encarar ela. Rodolfo iria m***r ela quando percebesse que ela acertou a cabeça dele. Ela havia avisado, pelos céus, a culpa não era dela, ela havia dado o aviso. O homem se abaixou e pegou a bolinha, se aproximando dela e vendo ela ficar com as bochechas vermelhas de tanta vergonha. Não, aquilo só poderia ser alguma brincadeira. Que azar do caramba era aquele? - Isso deve ser seu? - O homem ergueu a bolinha pra ela, que ergueu a mão no automático e pegou. - Começou hoje? - Sim, sim, estou com um amigo do trabalho, eu disse que iria acertar alguém, você se machucou? - Já levei muita dessas, meu filho quando foi jogar comigo a primeira vez me deixou com um olho roxo, eu sempre falava que não era força no taco, mas jeito. Essa bolinha não quer ser batida com força, ela é delicada, você tem que fazer ela se sentir assim, como toda a delicadeza do mundo. - Manuella - Manuella ergueu a mão novamente e cumprimentou o homem. - Olavo, muito prazer. - O senhor vem muito aqui? - Sempre que quero jogar ou pensar, não parece, mas isso aqui pra mim é uma terapia. Sabia que eu quase fui dono desse lugar? - Sério? - Olavo era um homem tão simples e também parecia tão tranquilo, que lembrava o avô dela, um que ela sempre ia aos domingos visitar e sentar no banco da varanda ao lado dele, comendo alguma coisa ou vendo alguma coisa na TV que ficava lá, ele adorava programa de auditório e também animal planet. Ele não gostava de muito barulho, ele era encantado na neta, isso até falecer deitado em uma noite calma e tranquila, assim como ele. Manuella na época foi ao enterro e chorou, chorou e foi consolada com o pensamento de tranquilidade e simplicidade dele. - Você aceita tomar um suco de intervalo, posso ensinar você depois a jogar um pouco. Claro, se a senhorita quiser. - Eu não quero incomodar. O que Rodolfo havia planejado estava acontecendo, Manuella não sabia se batia palma ou avisasse logo quem era, assim evitaria o fora que ela e o chefe poderiam levar. Quando eles chegaram na lanchonete do campo, o senhor se apressou em pedir um suco e se sentar na mesa com ela. - Por que decidiu aprender golfe. - Na verdade, não é uma coisa que eu decidi aprender. - Minha mulher também teve que aprender, mas ela falava demais, quem joga sério quer silêncio e tranquilidade. - O que aconteceu com ela. - Ela também achava chato, mas ela adora me ver jogar. Mesmo não gostando, ela me dava força e incentivava, ela sabia o quanto gostava. - Ela já faleceu? - Sim, quando nosso garoto tinha onze anos. Ela teve metástase, começou no seio e foi pro fígado e depois pro resto, passou na rede sanguínea dela até não poder mais. - Eu sinto muito. Manuella começou a sentir uma culpa de não falar quem era, começou a procurar o chefe com os olhos, mas não viu nada. Quais achar ele é chutar as bola dele bem forte para ele aprender a não deixar ela nessas saias justas. - Eu sou dono de uma companhia, se você colocar no Google vai achar ela, está no mercado a 86 anos, foi do meu bisavô, avó e pai, agora espero que meu filho pegue o cargo, mas a cada dia pessoa que ele não está pronto. - O que quer dizer? - Nada, eu sou um velho que está falando dos problemas para você. - Na verdade está falando coisas que dão pra solucionar o seu problema - Manuella e o velho olharam para o lado, a figura de Rodolfo apareceu, ele tirou os óculos e ergueu a mão para o homem. -Rodolfo Vinelly, pensei quando seu pai mandaria você, vejo que se resolveram. - Ele não me mandou. Fui apenas encarregado pra conversar com o senhor e fazer o melhor pra você e sua empresa. - Pensei que seu pai tivesse me entendido na conversa que tivemos. - Não está no registro alguma reunião que tenham tido senhor Olavo. - Foi informal, assim como agora. - Você deve ter conhecido a minha secretária, andei fazendo uma pesquisa e soube que estaria aqui e sempre tomava um suco aqui. - A senhorita me acertou uma bolinha. -Me desculpa - Manuella ficou envergonhada. - Isso não estava nos planos, ela é r**m por conta própria. Manuella suspirou descontente e viu o chefe puxar uma cadeira e se sentar. - O que veio fazer aqui? - Vi tentar ajudar, sabemos que estão com problemas, deixe-nos ajudar, não queremos uma empresa falida depois. - Eu não posso fazer esse negócio, a empresa é da minha família. - O nome ainda vai estar no letreiro na próxima segunda, sabe que isso é o melhor, você está esperando algo acontecer, ainda não sei o que é ou se está esperando mesmo a falência, mas se for algo que eu e a empresa possamos ajudar, deixe nos fazer isso. Por favor, não perca tantos anos por orgulho de nome ou princípios éticos e morais, até de costumes. O garçom deixou os dois sucos e o velho pegou o dele, bebendo devagar na frente de Manuella e Rodolfo, não se importando de ficar em silêncio, m*l olhando pra cara deles. Manuella se perguntava onde aquilo iria parar. Rodolfo precisava fechar aquele acordo. - Eu não estou pronto pra fechar acordo nenhum pela minha empresa, eu falei isso para o se pai e vou falar agora pra você, eu não estou pronto pra ver a minha empresa ser comandada por outras pessoas que não carreguem meu sobrenome e o nome que estampa aquela letreiro em alto-relevo encima do prédio. Rodolfo viu a box determinada do homem. Lembrava um pouco o pai dele quando colocava algo na cabeça e não tirava de forma nenhuma, não até não ter conseguido o que queria ou almejado o que buscou. Rodolfo já não criticava o pai de fazer isso, havia se tornado igual. - Quando vai estar pronto? - O homem se inclinou para trás, encarando Rodolfo, olho no olho. Rodolfo parecia jovem na visão dele, um menino que ainda iria conhecer muita coisas sobre negócios e pessoas, além de família misturado nessas duas coisas. Hugo havia falado do filho para o velho Olavo, havia comentado sobre como o filho poderia dar trabalho também e até como ele escolhia coisas que não eram boas pra ele, mas elogiou quando disse semanas atrás que ele havia aprendido e começava a entender as coisas. Será que era possível? Era uma luz. Olavo sorriu, pegou o copo de suco e terminou de beber o suco nele, dando um sorriso casto. - Sabe rapaz, nunca vamos estar prontos para tomar decisões difíceis em momentos difíceis. - O que quer dizer. - Eu ainda não estou pronto pra assinar nada e não sei quando vou estar pronto, quando estiver eu mesmo vou atrás de fundos, se me negarem eu aceito calado, sabendo que tive oportunidades. Mas agora, minha resposta é não - Rodolfo viu o velho se levantar. - Agora vou terminar meu jogo, não quero interrupção, se não peço para tirar vocês desse espaço. Quando o velho saiu da mesa, Manuella suspirou fundo, não havia feito nada. Rodolfo havia acabado de levar o primeiro não do homem. Manuella foi refazendo a conversa até a mesa, olhou para Rodolfo em silêncio e lembrou de um detalhe. O filho do homem, a forma que ele falava dele. - Tem alguma coisa com o filho dele. - Don que está falando, Manuella? -Precisamos saber mais sobre o filho dele, acho que sei como fazer isso. - Manuella? Ela sabia o que fazer.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR