Pré-visualização gratuita Prólogo - Três Cartas (Parte 01)
- Tio, Logan! Eu já posso tirar as rodinhas da minha bicicleta!
Com um sorriso carinhoso, Logan abaixou o olhar até sua pequena e saltitante sobrinha, cujo enorme sorriso no rostinho animado era nada menos do que contagiante. Organizando mais uma travessa cheia de comida na enorme mesa de madeira no meio do jardim da casa de seus pais, ele inclinou-se um pouco até Eleanor, acariciando gentilmente os cachos escuros que balançavam enquanto ela pulava alegremente.
— Eu fico feliz em ver você assim tão confiante, querida. – ele sorriu orgulhosamente, ainda que uma parte dele estivesse confuso com aquela determinação repentina - O que aconteceu para fazer você ter tanta certeza assim de que está pronta?
Desde que ele dera à Ellie sua primeira bicicleta, um presente por seu aniversário de 5 anos, dois meses atrás, ela tinha ficado igualmente obcecada e aterrorizada com a ideia de tirar as rodinhas de apoio – especialmente depois de quase cair várias vezes, mesmo as usando. Durante semanas, toda a família tinha se revezado para continuar a ensiná-la e tentar deixa-la mais confiante em seu novo brinquedo, mas sua sobrinha parecia cada vez mais convencida de que nunca seria capaz de andar de bicicleta como as “garotas grandes” – e estava desolada por isso. Ou pelo menos estivera desolada, já que agora, com suas adoráveis covinhas à mostra e as mãozinhas em cada lado da cintura, Eleanor era a perfeita imagem da confiança.
— As cartas disseram que eu não vou cair, se tirar as rodinhas. – Ellie respondeu sua pergunta, dizendo aquelas palavras com tanta naturalidade que ele quase engasgou – Você pode me levar até o parque, tio? Mamãe e papai estão ocupados e...
— Espere, Ellie... – ele a interrompeu, abismado – Quem foi que disse que você podia tirar as rodinhas?
— As cartas, tio Logan. Elas previram o meu futuro. – novamente, a absoluta normalidade com que ela falou aquilo, balançando os pequenos ombros, seria admirável, se não fosse chocante – Quer dizer, elas não disseram isso mesmo, porque elas não falam de verdade... – sua sobrinha explicou em voz baixa, como se estivesse lhe contando uma revelação importante - Mas tinha algo a ver com eu não cair, se me preparasse, e eu passei muito tempo me preparando, então...
— Ellie... – ele a interrompeu, ainda sem acreditar no que havia acabado de ouvir - Como assim “previram o futuro”? Ninguém pode fazer isso.
— É claro que pode, tio. É bem fácil. – o sorriso de Ellie se ampliou, mais animado do que nunca – É só tirar três cartas e então...
— Não, querida, ninguém pode prever o futuro, porque o futuro não é como uma folha de papel, que nós podemos ler. – ele explicou gentilmente para ela, olhando ao redor do jardim da casa de seus pais, imaginando quem de sua família havia dito aquela sandice à pobre criança. Havia poucas pessoas participando daquela reunião tranquila em plena tarde de domingo, por isso não demorou muito até que ele encontrasse a expressão divertida de Paul, parado perto da piscina, com os lábios pressionados juntos como se estivesse tentando conter uma crise de risos. Revirando os olhos, Logan desviou sua atenção do cunhado, voltando a focá-la apenas em Eleanor. Ele não tinha nada contra alimentar fantasias saudáveis durante a infância, como o Papai Noel ou o Coelhinho da Páscoa, mas aquilo de ver o futuro nas cartas já era demais. Ele preferia que um raio o atingisse antes de permitir que sua sobrinha saísse por aí acreditando que pedaços de papelão podiam ditar o futuro dela.
Afinal, sendo uma Knight, infelizmente, ela já estava destinada a perder o poder de decisão o suficiente durante sua vida.
— Ouça, querida, eu não sei o que disseram para você, mas não é verdade. Ninguém tem como saber o que está para acontecer. – ele a pegou no colo, mantendo o pequeno rosto na altura do dele, tentando fazê-la compreender a magnitude da verdade que estava lhe explicando - Cada um é dono de seu próprio destino. – Logan afirmou solenemente, mesmo sabendo que Ellie jamais poderia compreender o quanto ele acreditava plenamente naquilo; ela jamais poderia entender o quanto era necessário que ela acreditasse naquilo com todas as suas forças, se ainda quisesse ter o mínimo de controle sobre sua vida, no futuro – Seja lá quem tiver dito à você que algumas cartas de papelão podem prever o futuro, não passa de um charlatão.
— O que é um carlitão? – sua sobrinha inclinou a cabeça para o lado, claramente confusa, e aparentemente também um pouco desapontada pelo que ele acabara de lhe dizer.
— Charlatão... – Logan riu de sua adorável expressão - É uma pessoa mentirosa, que diz que sabe fazer algo, mas não sabe. E usa essa mentira para tirar dinheiro das pessoas.
— Oh... – as sobrancelhas de Ellie se franziram profundamente e ela permaneceu claramente pensativa por alguns segundos, até finalmente olhar por sobre o ombro dele e perguntar, quase magoada - Tia Megan, você é um chalalatão?
Encolhendo os ombros e fechando os olhos com força por um segundo, Logan deu um suspiro de constrangimento, ainda que houvesse uma parte dele que queria nada mais do que rir daquela situação. Virando-se lentamente, ele tentou conter seu sorriso de divertimento enquanto encarava a pequena figura de olhos castanhos irritados e curtos cabelos pretos, que o encarava desafiadoramente. Ele realmente tinha que começar a se esforçar um pouco mais para manter em mente que sua mais nova cunhada tinha certa afinidade com questões místicas. É claro, com àquela altura, bastava apenas uma roupa verde para que ela pudesse se passar facilmente por um gnomo ou um duende, mas aquilo era apenas um mero detalhe que ele matinha para si mesmo, ainda mais conhecendo o temperamento daquela figura. Mas, droga, mesmo depois de mais de um mês convivendo com Megan Sutton, ele ainda tinha que conter uma gargalhada sempre que ela falava algo sobre previsões do futuro, destino, signos, áureas ou qualquer besteira do tipo. Não que ela fosse uma pessoa má. Longe disso.
A alegre, inteligente e efusiva Stra. Sutton era tudo o que ele poderia ter desejado para seu reservado irmão mais novo: ela parecia confiável, tratava todos os Knight muito bem e era nítido o quanto verdadeiramente amava Devon. E, levando em consideração que não era ele que teria que passar o resto da vida convivendo com toda aquela ladainha sobrenatural de Megan, Logan estava mais do que feliz em acolhê-la na família. Ainda assim, talvez estivesse na hora de sua cunhada saber que existiam alguns limites em relação a toda aquela coisa “mística”, especialmente quando se tratava de fazer a única criança da família acreditar em bobagens como aquela.
— Sério, Logan? – Megan revirou os olhos – Está dizendo à Ellie que eu sou uma charlatã?
— Bem, talvez eu tenha me expressado m*l. – ele deu um sorriso torto, tentando apaziguar a situação – Escute, querida: não, a tia Megan não é o tipo de pessoa que eu falei, porque ela não se aproveita disso para tirar dinheiro de ninguém... E também porque ela realmente acredita naquilo que faz. – ele evitou até mesmo dizer algo tão bobo quanto “prever o futuro”, agora focando sua atenção apenas em Eleanor – A única questão é que ninguém consegue fazer isso verdadeiramente. Isso é tudo.
— Pelo menos é o que você acredita. – Megan falou logo em seguida, a voz cortante e até um pouco entediada.
Contendo um grunhido de frustração, Logan apenas permitiu que um suspiro escapasse de entre seus lábios, enquanto encarava Megan, tentando não deixar seu incômodo transparecer muito, conforme colocava Eleanor no chão.
— Megan, eu não quero que Ellie acredite nesse tipo de coisa. Ela é apenas uma criança. E, mesmo que não fosse, eu sou completamente contra qualquer crença que acabe por fazê-la tomar decisões através de coisas completamente aleatórias, como cartas ou um horóscopo, ao invés da lógica.
— Você fala como se ela já estivesse prestes a pular de um penhasco apenas porque eu tirei as cartas para ela. – Megan revirou os olhos de novo, claramente sem dar qualquer importância às palavras dele - Não seja tão dramático, Logan. Além do mais, cada pessoa pode muito bem ter suas próprias crenças. Isso não é um problema. Eu respeito que você não goste do meu tarot. – ela cruzou os braços sobre o peito, conforme erguia uma sobrancelha - E eu acredito que uma boa maneira de você retribuir esse respeito seria não me chamando de charlatã por aí.
— Você chamou minha futura esposa de charlatã? – o grunhido revoltado de Devon, vindo por trás de suas costas, fez Logan suspirar ainda mais alto, conforme seu irmão passava por ele, esbarrando rude e propositalmente em seu ombro, antes de se colocar ao lado de Megan, encarando-o com pura irritação.
— Ei... – Megan repreendeu o namorado, erguendo o rosto o máximo que podia, para encará-lo com provocação e falso desgosto, já que a diferença de altura entre os dois era quase risível - O que nós já conversamos sobre ir devagar? – ela cutucou a barriga de seu irmão, que era o máximo que ela podia alcançar sem que ele precisasse erguê-la nos braços.
Ali estava outra coisa que Logan adorava sobre Megan: ela era sensata. Mesmo estando perdidamente apaixonada e todo o resto daquele conjunto de clichês bobos sobre amor verdadeiro, ainda assim ela escolhera ir devagar, quando Devon lhe pedira em casamento duas semanas atrás. Ela tinha aceitado o anel de seu irmão e ficado emocionada, é claro. Porém, também pedira que eles apenas morassem juntos e namorassem por algum tempo significativo, antes de dar um passo tão grande.
Mesmo sabendo que ela e seu irmão tinham sido feitos um para o outro, e que era apenas uma questão de tempo até que Megan finalmente aceitasse trocar sua aliança de compromisso da mão direita para a esquerda, Logan estava feliz em saber que seu irmãozinho teria ao seu lado uma mulher razoável, que tinha um pouco mais de consciência da realidade do que simplGwynethnte aceitar se casar repentinamente com um homem que conhecia a pouco mais de um mês, por mais insistente que esse homem tivesse sido – e ele conhecia Devon bem o suficiente para saber que seu irmão ainda não havia desistido de tornar Megan sua esposa ainda naquele final de ano.
— Eu acrescentei o termo futura como você tanto quer, não acrescentei? – Devon deu de ombros, o semblante antes furioso repentinamente se tornando um sorriso sedutor, quando ele voltou sua atenção para Megan.
— Em minha defesa, eu não sabia que Eleanor estava falando sobre você, Megan. – aproveitando-se do momento de distração de Devon, Logan tentou se explicar. Verdade fosse dita, a última coisa que ele queria era ofender Megan. Apesar de não compactuar com o esoterismo dela, ele já a considerava sua nova irmã e a amava como tal. As pessoas podiam considera-lo frio e insensível na maior parte do tempo, mas ninguém jamais poderia abrir a boca para dizer que Logan Knight não amava, respeitava e protegia sua família acima de tudo - Eu achei que quem tinha dito isso a ela era um dos amiguinhos ou colegas de escola. E, em segundo lugar, eu sinto muito, mas verdadeiramente não acredito em nada disso. – ele deu de ombros, sabendo que o melhor era ser sincero com sua cunhada desde aquele momento, assim eles evitariam mais momentos constrangedores no futuro - Por isso acabei sendo desnecessariamente rude e enfático com o que eu disse. Mas, é claro, você tem todo o direito de falar sobre isso com Eleanor. Aparentemente, ela gosta.
— Sim, eu gosto! – Ellie exclamou alegremente, ainda parada ao lado deles, ouvindo sua conversa com interesse. Com um sorriso divertido na direção de sua sobrinha, Logan continuou suas desculpas.
— Mas, eu acho que também tenho o direito de expressar minha opinião sobre isso. – ele argumentou gentilmente - Talvez seja até bom para ela crescer com duas visões tão diferentes de mundo. Vai torna-la mais tolerante. E, como você bem disse, ela vai poder escolher suas próprias crenças e estilo de vida quando crescer. – dando um passo à frente, ele se aproximou de Megan, verdadeiramente se sentindo culpado quando continuou - Mas, mesmo assim, sei que o que eu disse foi desrespeitoso. Sinto muito, Megan, foi extremamente rude da minha parte falar daquela maneira sobre coisas que você acredita e são claramente importantes para você. Não vai acontecer de novo. – ele prometeu solenemente.
— Eu não estou brava com você, Logan. – Megan o tranquilizou, dando um rápido sorriso que logo desapareceu para dar lugar a uma expressão confusa e até um pouco preocupada - Mas isso é um culto e tanto à lógica, não acha? É surpreendente como você parece ser cético sobre tudo o que é sobrenatural. – ela o avaliou com curiosidade - Depois de tudo o que aprendi sobre os Knight, esse era o último tipo de comportamento que eu esperava.
— Eu não sabia que acreditar demais na ciência e na lógica era algo r**m. – Logan resmungou, aborrecido com o fato de que aquela conversa havia acabado naquele assunto - Mas acho que cético é uma palavra que me define bem. Considero um elogio, na verdade. – ele forçou um sorriso, mesmo sabendo que qualquer um poderia perceber seu incômodo - Já tive provas o suficiente de que a única força que realmente faz diferença nesse mundo é a força de vontade. – com aquela afirmação, seu sorriso amarelo tornou-se convencido, quase satisfeito, especialmente por saber que aquela era a maior verdade que poderia existir.
— Ah, é, espertalhão? – Megan riu desdenhosamente, erguendo uma pequena caixa de madeira na altura dos olhos dele, com algumas figuras de luas e estrelas esculpidas por todos os lugares - Então porque não me deixa ler o seu futuro? Eu ainda tenho algum tempo livre antes da minha irmã chegar e eu possa apresenta-la a vocês. Quem sabe assim você não acabe descobrindo exatamente o contrário do que acabou de dizer?
— Francamente, Megan... – agora foi a vez dele de revirar os olhos, mais chateado do que nunca – Não ouviu nada do que eu falei?
— Ora, Logan, se é uma bobagem tão grande assim, que m*l vai fazer, se você tentar? – Devon o desafiou, erguendo uma sobrancelha provocativamente, enquanto passava um dos braços ao redor dos ombros de Megan, claramente satisfeito ao ver a namorada incomodar seu irmão mais velho.
— Hmmm... Então, Ellie, você quer ir até o parque andar de bicicleta, não é? – ele desviou sua atenção para sobrinha, dando-lhe um sorriso forçadamente eufórico - Vamos lá, eu levo você...
— Não, tio Logan! – sua sobrinha exclamou, brava, batendo o pequeno pé no chão coberto de grama - Deixa a tia Megan ler o seu futuro! – Eleanor gritou e saltitou animadamente, envolvendo ambas as mãozinhas em torno da dele ansiosamente – Você vai ver como é divertido e vai mudar de ideia!
— Megan vai tirar as cartas para o Logan?! – ele grunhiu ao ouvir a voz eufórica de seu cunhado se aproximando deles e nem sequer precisou olhar na direção dele para saber que certamente Diana estava ao seu lado – Essa eu não posso perder!
— Vai ser uma previsão do futuro ou um show? – ele rosnou, ao ver que não apenas sua irmã estava ao lado de Paul, mas também seus pais, aparentemente tão interessados naquele espetáculo quanto sua sobrinha, já que Daniel estava conduzindo sua cadeira de rodas rapidamente até eles, observando Logan com diversão e expectativa, conforme Gwyneth o seguia um pouco mais tranquilamente, carregando consigo uma bandeja cheia de biscoitos: uma das várias sobremesas que eles teriam no almoço daquele dia, quando a convidada de honra, a irmã mais nova de Megan, finalmente chegasse.
— Com todo esse seu ceticismo insuportável, com certeza é o melhor show de todos. – sua irmã Diana sorriu maldosamente, enquanto Paul prontamente puxava uma cadeira para que ela pudesse se sentar, acomodando a imensa barriga de 07 meses de gravidez entre as mãos, quase como se já estivesse ninando seu segundo filho ainda não nascido.
— Bem, então podem guardar as pipocas e os ingressos, porque não há nada para ver aqui! – grunhindo, Logan estava pronto para dar as costas a sua família exasperante, mas a cadeira de rodas de seu pai, estrategicamente posicionada entre ele e a mesa, o impediu – Oh, vamos lá, pai... – com um suspiro derrotado, Logan tentou argumentar, mas seus pais o interromperam, sorrindo tão divertidamente quanto Megan.
— Eu acho que Devon tem um bom argumento, filho. – seu pai o olhou de soslaio, visivelmente bastante entretido com o incômodo de Logan com toda aquela situação. Não havia segredo de que Daniel discordava de todo o seu ceticismo no geral, mas, quando o assunto era sua incredulidade e repulsa no que dizia respeito àquele assunto fatídico, Logan sabia que aquilo o preocupava profundamente. Sem dúvida, vê-lo no meio daquela situação devia estar sendo muito divertido para ele – e, se Logan bem conhecia o próprio pai, Daniel também devia estar minimamente esperançoso de que ele mudasse de ideia sobre como encarava o legado dos Knight e sua... Maldição.
— Se você realmente não acredita na leitura de tarot de Megan, então não vai fazer m*l a ninguém experimentar, certo? – Daniel concluiu, sorrindo com confiança e zombaria – Não vai mudar na sua vida, afinal.
— Qual a razão em fazer isso, então, se eu não acredito? – bufando com irritação, Logan tentou sair dali novamente, mas sua família permaneceu cercando-o, o que o fez rosnar – Francamente... Vai ser apenas um desperdício do meu tempo e do dela. Além disso, eu faço meu próprio futuro. – ele deu de ombros, enfurecido – Não preciso que ninguém me diga como ele será.
— Mas é tão legal, tio Logan... – Eleanor fez um beicinho adorável, quase implorando, conforme continuava a puxar sua mão - E assim você vai poder se desculpar com a tia Megan por ter chamado ela de cartolão. – a menina colocou o pequeno indicador dedo em riste, apontando para o rosto dele acusatoriamente.
— Logan Tristan Knight, do que você chamou sua cunhada? – Gwyneth perguntou devagar, parecendo prestes a dar-lhe o tipo de sermão que ele não ouvia desde que era criança.
— Isso foi um m*l-entendido, mãe... – Logan suspirou, já completamente farto com tudo aquilo - E a conversa aqui não é sobre isso...!
— Bem, então a partir de agora, eu retiro meu perdão, a não ser que você concorde em me deixar tirar as cartas para você. – Megan o interrompeu, com um sorriso malvado, novamente erguendo sua caixinha de madeira, que aparentemente era onde seu precioso tarot estava guardado.
— Megan... – seu rosnado, contudo, foi rapidamente interrompido novamente.
— Vamos lá, Logan, não seja tão chato! – Paul se sentou ao lado de Diana, puxando Eleanor para seu colo – Que m*l vai te fazer experimentar? – seu cunhado abriu um sorriso diabólico - Ou você está com medo de finalmente começar a acreditar que Megan realmente tem poderes mágicos?
— Oh, por favor, como se isso fosse possível... – ele grunhiu, exasperado - Vocês não vão me deixar em paz até eu dizer sim, não é? – contendo-se para não xingar na frente de sua sobrinha, Logan rosnou, derrotado – Está bem, está bem... Mas que seja rápido! – ele implorou à Megan, tentando controlar sua raiva.
— Vamos lá, seu rabugento. – Megan riu, indo sentar-se na ponta da mesa e indicando que ele se sentasse na cadeira bem ao lado, organizando as duas de maneira que eles ficassem frente a frente – Prometo que ninguém vai morrer se você desperdiçar cinco minutos do seu tempo com o meu baralho. – sua cunhada sorriu, agilmente retirando as longas cartas de tarot de dentro da caixinha de madeira e começando a embaralha-las com habilidade.
— Cinco minutos inteiros? – ele grunhiu, mas ainda assim se arrastou até a cadeira, deixando-se cair ali com um suspiro emburrado.
— Primeiramente, eu gostaria que você entendesse que o tarot não serve apenas para prever o futuro. Ele é sobre se autoconhecer. E apenas ajuda na tomada de decisões, ao invés de dita-las, como você parece acreditar. – Megan o observou com altivez, explicando tudo aquilo com a mais solene das vozes - Ah, e eu não sou “adivinha”, eu sou taróloga. – ela o repreendeu levemente - E uma taróloga não faz adivinhações: faz análises do que os arcanos significam. – um sorriso orgulhoso se espalhou pelo rosto dela.
— Muito interessante, Megan... – Logan bufou, já terrivelmente entediado - Já disse que não vou mais menosprezar nada disso novamente. Será que podemos apenas ir em frente? – ele lhe implorou novamente, m*l conseguindo acreditar que estava realmente prestes a perder tempo ouvindo alguém falar sobre o que um bando de cartões desenhados significava.
— Só mais uma coisa: você que tem que me dizer sobre o que você quer saber, para que eu possa jogar para você. – Megan o informou, ainda embaralhando as cartas com reverência - Então, o que vai ser?
— Oh, pelo amor de Deus, Megan, apenas escolha qualquer assunto, está bem? – ele lamentou em voz baixa, exasperado.
— E então eu sugiro que perguntemos sobre o grande desafio que você está enfrentando no presente. Assim também teremos alguns conselhos sobre como você pode agir no futuro para superar seus problemas. – a expressão de Megan era nada mais do que cintilante diante daquela possibilidade - O que acha?
— Está bem, tanto faz. Apenas vamos logo com isso. – Logan bufou, não podendo impedir sua mente de pensar que não havia um grande desafio atualmente em sua vida. A empresa estava em pleno crescimento e todos os Knight estavam felizes e saudáveis. Sem dúvida, não havia, já há muito tempo, nenhum problema que povoasse sua mente...
É claro, sempre havia o temor de que aquilo o afligisse...
Droga, porque ele estava pensando sobre isso?
Não era como se as cartinhas preciosas de Megan fossem sequer chegar perto de acertar quais eram suas verdadeiras preocupações.
— Muito bem. – por alguns longos momentos, Megan permaneceu tranquilamente de olhos fechados, aparentemente se concentrando, antes de começar a embaralhar e cortar as cartas mais algumas vezes, até finalmente selecionar aleatoriamente três delas, ainda de olhos fechados. Após coloca-las gentilmente sobre a mesa, milimetricamente uma ao lado da outra, Megan finalmente abriu os olhos e começou a explicar, colocando uma das unhas, pintada com um esmalte roxo-escuro, sobre o verso da primeira das cartas, cujos desenhos, delineados em dourado contra um fundo preto, mostravam uma lua em um céu repleto de estrelas – Essa primeira carta representa o passado, as origens da questão ou do problema pelo qual você está passando... – finalmente, após mais um momento passando a ponta dos dedos sobre a carta, sua cunhada finalmente a virou para cima, revelando a estranha figura de um ser com chifres, asas de morcego e uma expressão distorcida, acompanhado de um homem e uma mulher nus, que também tinham chifres e caudas.
— O Diabo... – Megan revelou, com o olhar desfocado.
— A carta perfeita para representar o Logan. – Diana riu maldosamente – Quer uma prova maior de que Megan está certa e você errado? – sua irmã o provocou, o que apenas o fez revirar os olhos novamente, cada vez mais irritado com tudo aquilo.
— Essa carta representa um vício, um excesso que te faz mal... – Megan ponderou, tão concentrada em sua análise que parecia estar alheia a tudo ao seu redor – Simboliza que há algo que você está muito determinado a fazer, ou a impedir, e isso está prejudicando você, Logan. Deve tomar cuidado com seu excesso de vontade de fazer algo acontecer ou evitar que isso aconteça, ou muitas dificuldades vão surgir para você... Ou talvez já tenham surgido. – ela o olhou com astúcia, quase como se pudesse ver através dele.
Sentando-se reto na cadeira, Logan se empertigou. É claro que não existia relação nenhuma entre as duas coisas, mas havia uma parte dele que não podia deixar de se perturbar com Megan ter mencionado sobre evitar que algo acontecesse. Evitar a maldição era a única coisa que ele ansiava desde que era criança. E, de fato, ele tinha dedicado toda sua vida adulta a pensar sobre o que faria para impedir que aquilo o atingisse, ou então preservar seu livre arbítrio, caso ele realmente tivesse o azar de ser mais uma vítima do legado dos Knight... Mas, afinal, porque ele sequer estava pensando sobre aquilo? A fala de Megan não era nada mais do que genérica. De fato, ela poderia dizer o mesmo sobre qualquer excesso, além do excesso de temor e cuidado. Nada daquilo tinha nada a ver com ele ou com sua vida.
— Os Enamorados... – ele m*l havia se dado conta de que Megan havia virado a segunda carta até que ele a ouviu anuncia-la, com os grandes olhos castanhos tão arregalados que ele quase podia sentir o choque dela como se fosse o dele próprio. Em suas mãos, havia o desenho preto e dourado de um casal estendendo as mãos um para outro sem se tocar, com um cupido sobre eles e o que parecia um sacerdote com as mãos nos ombros do casal, como se estivesse unindo-os – Então... – ele ergueu o olhar do desenho para a expressão de Megan, agora compreensiva e quase cabisbaixa – É sobre isso que você tem tanto medo? – o tom conspiratório dela e a maneira como seus olhos se encontraram rapidamente com os de Devon o deixou saber que agora ela sabia muito bem sobre o que eles estavam falando ali. E aquilo o enfureceu mais do que ele achava ser possível.
— Eu não tenha medo de nada. – Logan rosnou, tentando conter seu temperamento, ao mesmo tempo em que a raiva o tomou ao perceber que agora não apenas Megan sabia sobre qual era o verdadeiro tema ali, mas também toda a sua família, ao julgar pela maneira como eles repentinamente se tornaram tensos e silenciosos. Maldito fosse aquele baralho de Megan e aquelas cartas aleatórias que por alguma razão incompreensível haviam acerto justamente seu ponto fraco...
Não, ele não tinha ponto fraco. Há muito tempo, ele havia prometido a si mesmo que jamais se permitiria ter aquele tipo de ponto fraco.
— Então é isso que você tanto quer evitar... – Megan o ignorou solenemente, ainda parecendo preocupada e extremamente concentrada na carta sobre a mesa - Oh, Logan, eu sinto muito, mas são esforços em vão. A segunda carta é sobre o presente e Os Enamorados representa algum tipo de relacionamento que está por vir, o que também pode significar um amor romântico... – após um momento ponderando, ela o fitou com intensidade novamente, com o rosto quase piedoso - O que você mais teme vai chegar... E será muito em breve. – ela o avisou em voz baixa – Felizmente, essa carta representa um relacionamento bom. Mas não só isso. Também representa o livre-arbítrio e uma escolha importante, que apenas você poderá tomar. Deve se preparar para tomar as decisões corretas em relação ao seu coração... – ela tocou a carta do d***o com cuidado – Ou seu excesso de temor pode gerar complicações.
— Não, nada vai chegar! – ele rosnou devagar, sentindo a fúria toma-lo ao imaginar-se no cenário que Megan estava descrevendo – Eu não vou permitir!
— Oh, Logan. – ao invés de se assustar ou enraivecer com sua reação, o rosto de Megan apenas se tornou ainda mais simpático e piedoso. – É algo que está fora do seu controle.
Sim, ele sempre soubera que aquilo não estava sobre seu controle. E aquela era a parte que mais o enfurecia e, mesmo que ele odiasse admitir, também o apavorava. Durante os últimos anos, ele tinha visto a maldição fazer efeito diante de seus próprios olhos, cercando-o cada vez mais, como se estivesse avisando que ele seria o próximo.