Pré-visualização gratuita Prólogo !
Palavras da autora :
Se você já conhece minhas histórias, sabe que costumo te levar pro meio do morro, favela ou comunidades, com tramas intensas, personagens perigosos, paixões avassaladoras e realidades duras. Mas esse livro aqui… é diferente. E eu precisava muito escrever ele.
A secretária gordinha, é um respiro. É uma história que fala de recomeço, de amor-próprio, de superação. Aqui, a protagonista não é uma mocinha padrão. Ela é gordinha, real, sensível, cheia de inseguranças, como tantas de nós. E mesmo depois de ser ferida, rejeitada e desacreditada, ela aprende a se enxergar com outros olhos. Aprende a se amar.
Essa história é pra você que já teve o coração partido. Que já se sentiu invisível, fora do padrão, deixada de lado. É pra te lembrar que você é suficiente, que o amor certo não cobra perfeição, e que às vezes a vida recomeça justamente quando tudo parece ter desmoronado.
É o meu segundo romance fora do universo do tema morro, mas não pense que vai faltar intensidade. E eu espero de coração que você se apaixone pela história de Beatriz e Arthur....
Prólogo!
Beatriz Costa Narrando:
A luz do restaurante era baixa, as velas no centro da mesa piscavam suave, e o cheiro do risoto que eu m*l encostei no prato ainda pairava no ar. Estávamos sentados um de frente pro outro, como em tantos outros jantares durante nossos dois anos de relacionamento. Mas algo estava diferente. O sorriso do Vinícius não vinha. E os olhos dele… não me olhavam mais como antes.
Eu tentava ignorar. Fingir que era só estresse. Afinal, estávamos a um mês do casamento. E aquele jantar era pra acertar os últimos detalhes da festa: buffet, número de convidados, o lugar da nossa lua de mel em Gramado.
— Eu tava pensando… será que a gente devia mudar a música da entrada? — perguntei, tentando soar leve, animada.
Ele nem levantou os olhos do copo de vinho.
— Bia… — disse meu nome baixo, quase como se doesse.
— O quê? — perguntei, rindo sem graça, tentando manter a esperança.
— A gente precisa conversar.
Meu coração falhou uma batida.
Na hora, meu estômago se revirou. Aquela frase… aquela maldita frase… nunca vem seguida de coisa boa.
— Fala — sussurrei, largando o garfo. Minha mão tremia.
Ele respirou fundo. Demorou. E quando finalmente me olhou, senti como se tivesse levado um soco no peito.
— Eu não quero mais casar.
Fiquei muda. Meu cérebro tentou processar. Como assim ele não queria mais casar? A gente já tinha convite impresso, casa alugada, presentes chegando, vestido escolhido. A gente… a gente tinha um futuro.
— Você tá brincando — falei, com a voz falhando.
— Eu tô sendo sincero. Não dá mais. Não sinto mais o mesmo. E… tem outra pessoa.
O mundo girou.
— Como é que é?
— Eu tô com outra, Bia. E, pra ser bem sincero, você também não ajuda. Se acomodou. Parou de se cuidar. Tá… gorda. Eu olho pra você e não sinto mais atração.
A última palavra foi como uma facada atravessando a alma. Gorda. Como se isso anulasse tudo que eu era. Como se o meu corpo definisse meu valor.
Segurei o choro ali, no meio do restaurante, engolindo seco, tentando manter a dignidade que ele tinha acabado de esmigalhar.
— E você resolveu dizer isso agora? Depois de dois anos? A um mês do casamento?
— Era melhor agora do que depois — ele disse, se levantando.
Sem cerimônia. Sem olhar pra trás. Sem se importar.
Fiquei sentada ali, sozinha, diante de um prato que esfriava como meu coração. As pessoas ao redor riam, brindavam, viviam. E eu…
Eu sangrava em silêncio.
Saí do restaurante correndo, com o rosto molhado e o coração em frangalhos. m*l consegui enxergar o visor da maquininha quando paguei a conta. E sim, fui eu quem paguei. Depois de ser largada com um "você tá gorda", ainda tive que bancar o jantar de término.
Empurrei a porta de vidro com força e senti o ar da noite bater gelado na minha pele. Mas nem isso me fez parar. Desci a calçada tropeçando no próprio salto, o choro vindo com tudo, descontrolado, rasgando minha garganta.
Me sentia um lixo. Humilhada. Abandonada. A poucos passos de um sonho que virou pesadelo.
Foi aí que tudo aconteceu rápido demais.
Fui atravessar a rua sem olhar pros lados, cega pela dor, e só escutei o barulho dos pneus freando forte no asfalto molhado. Um clarão. Um susto. E o impacto.
Meu corpo foi lançado contra o chão com violência. A dor foi imediata. No braço, no quadril, na dignidade já despedaçada.
— MEU DEUS! — escutei uma voz masculina, urgente. A porta do carro se abriu com força e passos correram até mim.
— Moça, você tá bem? — perguntou ele, agachado ao meu lado.
Pisquei, ainda grogue, sentindo a palma da mão ralada e os olhos ardendo de lágrimas. Virei o rosto devagar… e congelei.
Era ele.
Meu chefe.
Arthur Vasconcellos.
O homem mais sério, mais distante, mais lindo e inacessível da empresa. O tipo que todos temem encontrar no elevador porque ele nunca sorri.
— Beatriz? — ele disse, claramente surpreso.
— Senhor Arthur… — murmurei, engolindo o choro e o sangue no canto da boca. — Me desculpa, eu… eu não vi o carro…
Ele se agachou mais, os olhos escuros fixos nos meus, e por um segundo o olhar dele não era frio. Era preocupado. Genuíno.
— Calma. Não precisa pedir desculpa. A culpa foi minha. Você tá machucada?
— Só o orgulho… — tentei brincar, mas a voz falhou. E ele percebeu. Porque meu rosto tava um caos, e minha alma ainda mais.
Arthur tirou o celular do bolso, já ligando pra alguém.
— Fica calma. Eu vou te levar pro hospital.
— Não precisa, de verdade… eu só… só quero ir pra casa.
— Você tá tremendo, Beatriz. Não vai sair andando sozinha. Entra no carro.
A voz dele não era de quem tava pedindo. Era uma ordem. Mas por alguma razão… me senti segura.
Entrei no carro dele meio zonza, ainda com as pernas tremendo. O banco de couro era macio, mas o meu corpo doía em lugares que eu nem sabia que existiam. O silêncio era sufocante, só quebrado pelo som baixo do ar-condicionado e pela respiração acelerada que eu tentava controlar.
Arthur olhava pelo retrovisor, mas eu sabia que ele me observava de canto.
Eu sentia.
Sentia o olhar dele pousar em mim com uma mistura de choque e preocupação.
Era estranho. A gente m*l trocava bom dia no escritório, e agora ele tava ali. No volante. Ao meu lado. Me vendo no fundo do poço.
— O que aconteceu, Beatriz? — ele perguntou, mantendo a voz firme, mas com um toque… diferente. Não era o tom de chefe. Era de homem. De alguém genuinamente curioso ou preocupado.
Eu abaixei a cabeça. Mordi o lábio com força. Queria responder. Juro que queria. Mas se falasse… eu ia desabar.
— Eu... — a voz falhou. Os olhos encheram. E quando percebi, já tava chorando de novo. — Por favor… só me leva pra casa.
Ele continuou dirigindo por alguns segundos. Mas aí, de repente, encostou o carro no acostamento. Desligou o motor. E virou o rosto na minha direção.
— Beatriz, você foi atropelada. Está em choque. Eu deveria te levar pra um hospital. Você pode ter alguma coisa interna…
— Não — falei firme, mesmo com a voz trêmula. — Eu não quero hospital. Eu só quero… sair daqui. Ir pra casa. Por favor.
Ele ficou em silêncio, me encarando. Acho que naquele momento ele viu além da funcionária quieta e gordinha da empresa. Ele viu a mulher quebrada que eu tava tentando esconder ali dentro.
— Tudo bem. Eu te levo — ele disse, voltando a ligar o carro.
E o resto do caminho foi em silêncio. Eu encostada na janela, com a testa gelada no vidro, olhando as luzes da cidade embaçadas pelas lágrimas. Arthur ao lado, firme, concentrado… mas de vez em quando desviando o olhar, como se tentasse entender o que eu não conseguia dizer.
Ele não perguntou mais nada.
E eu fui grata por isso. Eu ei o endereço pra ele e
quando ele parou em frente ao meu prédio, desci sem olhar pra trás.
— Obrigada… — murmurei antes de fechar a porta.
— Se precisar de alguma coisa… — ele começou a dizer, mas eu já tava correndo pro portão.
Continua....