CAPITULO 6

1003 Palavras
Tudo sob controle, dizia a voz dentro da minha cabeça, tentando abafar o rugido do caos. Mas quando a tela da sala de monitoramento brilhou com a perseguição em tempo real, eu sabia que — controle — era a única coisa que não tínhamos. O carro dela rasgava as ruas do Upper East Side como um animal ferido em fuga, ignorando semáforos, buzinando contra tudo e todos. Cada vez que aquela maldita SUV virava uma esquina com violência, eu sentia como se meu próprio estômago girasse junto. Massimo, ao meu lado, arfava de empolgação, os olhos faiscando como os de um cachorro doido por sangue. — Dê a ordem, Dante! — ele gritou. — Ainda não. — Minha voz saiu mais baixa do que queria, firme como aço forjado, mas dentro de mim tudo fervia. O carro dela cruzava a Lexington, depois a Park Avenue, depois cortava uma rua estreita onde, se não soubesse dirigir, teria morrido. Mas Catarina era Catarina. Ela fazia as leis dela. Inclusive as da física. — Dê a ordem! — repetiu Massimo, mais desesperado. — Eu disse que ainda não! — rosnei. Mas ele não me ouviu. Nunca me ouve. Apertou o maldito botão de comunicação e ordenou que todas as equipes se reagrupassem. — Equipes, reagrupem! Cerquem o alvo! Idiota. — Eles vão matá-la! — eu gritei. — Vai acabar em tragédia! — Não tô nem aí! — ele respondeu, com aquele veneno no olhar que só alguém cego pela sede de vingança carrega. Pela primeira vez, desejei não estar ali. Pela primeira vez, desejei não ser um Mancuso. As equipes começaram a cercar o carro dela. Víamos tudo pelos drones. Na tela, a SUV de Catarina virou em alta velocidade na 78th Street, depois dobrou para uma rua sem saída. Eu já sentia o gosto amargo da merda que estava por vir. Era tarde demais. Massimo sorriu. — Pegamos ela. — Não — murmurei. — Não pegamos p***a nenhuma. A SUV freou com força. A traseira derrapou no asfalto molhado pela garoa da noite. Estava cercada. Sem escapatória. Nossos carros fecharam a rua dos dois lados. Os capangas se posicionaram. Os vidros começaram a descer. As metralhadoras M4 apontadas para o carro dela. O dedo no gatilho. E foi então que tudo aconteceu. Todas as janelas dos prédios ao redor se abriram. Como em uma cena de pesadelo coreografada com precisão mortal. Homens e mulheres — todos armados com fuzis automáticos, RPGs, rifles de precisão — surgiram das sombras. O emblema dos Contini estampado nos coletes. — Não, não, NÃO! — berrei, pegando o rádio. — RETIREM-SE! RETIREM-SE AGORA! Tarde demais. As primeiras rajadas desceram como trovões. Explosões ecoaram. Um dos nossos carros virou uma bola de fogo. Homens gritavam nos rádios, morrendo em tempo real. Granada após granada caía como chuva de morte. Era uma armadilha perfeita. E Massimo tinha mordido a isca como um rato i****a. Fiquei imóvel por um segundo, congelado diante das telas, vendo meus homens sendo aniquilados como peças num jogo de tabuleiro. Massimo estava branco como papel. A boca aberta, sem palavras. — Merda... — ele sussurrou. Meu sangue ferveu. Girei, agarrei-o pelo colarinho do terno e o joguei contra a parede com força. — FOI POR ISSO QUE EU DISSE PRA VOCÊ ESPERAR! — berrei. Ele caiu, se apoiando no chão, tossindo. — Eu… eu não podia imaginar… — Imaginar? Eu avisei! Eu disse que era uma armadilha! Você só pensa com o ego! Você acha que vai ser Don Mancuso algum dia? — Cuspi no chão, tremendo de raiva. — Você não passa de um moleque impulsivo que vive à sombra do pai morto! Agarrei seu terno e o joguei contra a parede com força. — É por isso que EU sou o Don! — gritei, cuspindo as palavras como lâminas. — — Dante, eu... Não deixei terminar. Dei um soco no estômago, depois um chute no joelho. Ele cambaleou, caiu de joelhos. — Eu avisei! — continuei, chutando-o no ombro. — Eu disse que era uma armadilha! Você só sabe obedecer impulsos idiotas, Massimo! Tem merda no lugar do cérebro! Ele tossiu, sangue no canto da boca. — Me desculpa... — Desculpas não ressuscitam homens mortos. — Falei baixo, mas gelado. Fechei a porta da sala de monitoramento com um estrondo. Me virei para a tela, tentando conter a raiva que tremia nos meus ossos. O capanga ao meu lado engoliu em seco. — O que o senhor quer que façamos? Olhei para ele. Meus olhos deviam estar tão frios quanto o cano de uma pistola. — Nada. — respondi. — Por enquanto... nada. Então algo me chamou a atenção. A SUV parada na tela. As portas começaram a se abrir. Do banco do motorista, saiu um homem alto, suando, ofegante. Desesperado. Claramente um dos dela. Ele correu para a porta traseira, abriu, e foi aí que eu congelei. Uma mulher saiu. Usava o mesmo sobretudo de Catarina. Mesma altura. Mesmo andar determinado. Mas não era ela. Não era Catarina. — Filha da puta... — murmurei, sem ar. — Não é ela… — O quê? — perguntou o capanga, se aproximando. — Não é ela! Ela nunca esteve naquele carro. Catarina tinha nos feito de idiotas. Tinha vestido outra mulher com suas roupas. Tinha guiado todos nós para o sacrifício enquanto ela escapava… sabe-se lá para onde. — p***a… — sussurrei, passando a mão no cabelo, tentando entender onde diabos ela estava. Enquanto estávamos cegos assistindo ao show, Catarina estava em outro lugar. E, pior, ela estava dez passos à frente. Meu peito subia e descia em fúria contida. Eu me odiava por isso. Por me importar. Por ainda, no fundo, querer protegê-la de tudo — inclusive de mim. Dei dois passos para trás, ainda fitando a tela. — Onde ela está? — murmurei, mais para mim mesmo do que para os outros. A resposta, no entanto, não vinha. Ela me enganou. De novo. E o pior? Ela estava me vencendo. E parte de mim admirava isso.
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