SOL NARRANDO Eu tava travada. O quarto girando num barulho que não vinha de fora, vinha de dentro da minha cabeça. Nojo, raiva, vergonha, tudo brigando dentro do meu peito ao mesmo tempo. Olhei pro velho — meu pai — e o estômago virou. Eu queria vomitar ele de mim, apagar o sobrenome, rasgar o passado. Como é que pode? Minha mãe aguentou aquilo tudo calada… e eu aqui, adulta, descobrindo da pior forma, na frente de todo mundo. Eu xinguei ele sem escolher palavra, cuspi as letras como quem cospe caco de vidro. “Verme”, “lixo”, “desgraça”. Não tinha mais “pai” na minha boca. Leleu ficou na minha frente, braço aberto, tentando ser anteparo. Eu empurrava, voltava, chorava. O Ítalo virou um bicho que eu nunca tinha visto tão de perto. Frio, focado, horrível e necessário. Quando ouvi o estalo

