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A Gorda do Morro

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Sinopse

Sol foi tirada do morro ainda criança pra escapar do pai violento, viciado e alcoólatra. Criada longe da favela, enfrentou bullying, preconceito e dor mas transformou tudo em força. Hoje, aos 30 anos é dona de um salão de beleza e referência em autoestima feminina.Mas tudo desaba quando sua mãe liga desesperada, dizendo que o chefe do morro ameaçou botar fogo na casa com ela e o marido dentro. Sem escolha, Sol volta ao lugar de onde fugiu e dá de cara com Ítalo, o temido Brasa, homem frio, armado e acostumado a ser temido.Só que ele não estava preparado pra ela. Gorda, preta, favelada, linda e empoderada, Sol chega pra proteger quem ama. Mas o que ninguém esperava é que entre faíscas vem o incêndio. O Brasa achava que queimava tudo por onde passava, até o dia que o Sol voltou pro morro.

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01
Sol Narrando Eu lembro de tudo. E quando eu digo tudo, é tudo mesmo. O som da garrafa de vidro quebrando na parede da sala, o cheiro azedo de cerveja misturado com mofo, a voz da minha mãe chorando baixinho no banheiro, e eu eu ali, sentada no colchão encardido do meu quarto, fingindo que aquilo era normal. Fingindo que criança tinha que crescer aprendendo a se encolher quando o pai chegava gritando da rua, com o olho vermelho e a mão pesada. Minha infância foi feita de silêncio e sobrevivência. Ouvia meus colegas na escola falando sobre parque, sobre bicicleta, sobre boneca nova, e eu sorria, fingindo que também tinha isso. Mas a verdade é que meu pai trocou minha boneca por duas pedras de crack numa noite em que minha mãe não estava em casa. Quando ela chegou, não havia nada além de fumaça, bagunça e eu encolhida no canto, abraçada a um travesseiro rasgado. Ele dizia que era só um momento, que ia mudar, que amava a gente. Mas amor que quebra a casa, que espanca mulher e que tira comida da filha não é amor. É inferno disfarçado de lar. Minha mãe tentou. Várias vezes. Tentou internar ele, tentou sair de casa, tentou morrer. Eu vi ela tentando pular da janela uma noite, e só não conseguiu porque eu gritei. Ela caiu de joelhos no chão, e eu me ajoelhei com ela. Nós duas chorando, sem saber quem era a filha e quem era a mãe naquela hora. No dia seguinte, ela me olhou com os olhos inchados e disse: “Você vai embora, Lorena. Vai viver longe disso. Eu não deixo você afundar junto. Você vai viver na paz, não nesse inferno de vida.” Foi assim que eu saí do morro. Tinha nove anos quando ela me mandou pra casa da Tia Valéria, em outro estado, com uma mochila que eu levava pra escola que a vizinha tinha me dado e o coração rasgado no meio. Passei a viver com gente que me via como peso, como visita que nunca ia embora. Meus primos faziam piada do meu corpo, da minha cor, do meu cabelo crespo que minha mãe não alisava. O colégio era pior ainda. “A gorda da merenda”, “a moreninha do fundão”, “a favelada”, “A cabelo duro.”, a “Feia”.. Zoavam até o meu nome. Diziam que era Sol por que eu era uma bola enorme, igual ao sol que fica no céu. Cada apelido era uma lâmina diferente, e eu aprendi a engolir todas elas. Mas eu não deixei aquilo me destruir. Chorei no travesseiro e no banheiro por muitos anos, me odiei mais vezes do que consigo contar. Eu já pedi minha tia pra alisar o meu cabelo mas mesmo assim a raiz ficava alta, não ficava bom igual os cabelos das meninas da escola. Já tentei cortar cabelo bem curto igual a homem achando que isso ia apagar de mim o passado, já tentei fazer dieta louca escondida, passar creme clareador na pele, usar blusa larga pra esconder os p****s grandes, e isso até me dava uma certa dor nas costas. Mas vi que nada disso mudou o mundo. Mas um dia, eu decidi que talvez o problema não fosse comigo. Que talvez o problema fosse esse mundo mesmo, que ensinava a gente a se odiar se não coubesse na caixinha. Foi aí que eu virei a chave. Estudei estética. Me formei. Consegui uma bolsa pro curso de Cabeleireira no Senai, fiz vários cursos de trancistas e abri o meu salão com dinheiro emprestado da minha tia e coragem. Trabalhei feito condenada. Paguei todo valor que ela me emprestou, com muita honra, graças a Deus. Comecei a falar de autoestima, a cuidar de mulher como eu. Toda cliente que sentava na minha cadeira era mais que um serviço era uma missão. Toda mulher que chorava depois de se ver no espelho pela primeira vez com a sobrancelha feita, com o cabelo hidratado, com a pele tratada era uma versão da minha mãe que eu não consegui salvar. Era uma versão minha que ninguém salvou. Mas mesmo longe, eu nunca larguei minha mãe. A gente se fala todo dia. E toda semana, eu tentava trazer ela pra perto de mim. Pedia, implorava, chorava. Dizia: “Larga ele, mãe. Vem embora. Vem morar comigo.” Ela sempre arrumava desculpa. “Não posso sair agora”, “ele tá doente”, “a casa é dele”. Eu sabia que aquilo era medo. Medo de começar do zero, medo de enfrentar a vida sozinha, medo de não saber mais quem ela era sem aquele homem. Mas também era costume. A dor vira mobília quando a gente se acostuma demais com ela. Até que o telefone tocou naquela noite. Eu tava fechando o salão, apagando as luzes, com a sandália na mão e a cabeça cansada. Vi o nome dela na tela e atendi sorrindo, achando que era mais uma ligação como todas as outras. Mas não era. Do outro lado, só vinha o som da respiração dela acelerada. — Mãe? — eu falei, o coração já apertando no peito. — Sol… — ela arfava — pelo amor de Deus… eles vão matar a gente. — O quê? — O dono do morro… mandou avisar que vai botar fogo na casa… comigo e teu pai dentro. Eu não sei o que ele fez… só sei que tão de saco cheio… tão ameaçando invadir aqui. Eu tô com medo, filha. Tô com medo de morrer queimada dentro dessa merda! Minha mão tremia. Senti a parede chegando nas minhas costas. Me apoiei. — Pega tuas coisas, mãe. Sai daí agora. Vai pra casa de alguém. Vai pra casa da Dona Carminha, sei lá. Eu vou pro Rio. Eu tô indo aí. — Sol, pelo amor de Deus… E ela começou a chorar do outro lado, um choro que eu nunca tinha ouvido sair da boca dela. Um choro de desespero verdadeiro, sem escudo, sem orgulho. Desliguei o telefone com a mão tremendo e o sangue fervendo. Subi pro meu quarto, joguei tudo na mala sem pensar. Cancelei as clientes da semana no w******p com uma mensagem seca: “Motivo familiar. Preciso viajar.” A vizinha veio bater na porta e eu só disse: — Vou buscar minha mãe. E fechei. Naquela noite, deitei com o coração cheio de raiva. Do meu pai, do morro, do sistema, da covardia do mundo. Mas também cheio de certeza. Eu ia voltar. Ia subir aquele morro de salto, se fosse preciso. E ninguém ia botar medo em mim. Ninguém mais, nunca mais. Porque eu sou a gorda, preta e favelada. A que saiu do morro pela violência. E que agora tá voltando por causa dela.

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