95

1236 Palavras

BRASA NARRANDO Saí rasgando, motor berrando, mente zunindo igual poste com gato. Nem olhei pra trás. Cheguei em casa, travei tudo: ferrolho, corrente, trinco, até a janela que eu nunca fecho eu lacei. Tirei o ferro da cintura e joguei em cima da cômoda, fez um thum seco que rodou no peito. Fui direto no armário, puxei a garrafa pelo gargalo e virei. Queimou descendo, ardeu bonito, do jeito que eu curto quando quero calar barulho. Não calou. Dei mais dois goles, sem copo, sem pose. Encostei na pia, cabeça baixa, mão enfaixada latejando, e tentei fazer o que eu sempre fiz: dominar sentimento no grito. Nada. Fiquei lembrando do retângulo de concreto, do envelope no peito dela, do meu berro estourando na parede: “eu não sei ler, c*****o”. Foi um tiro na cara, mano. Tipo quando a gente dá mol

Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR