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1787 Palavras

ISABELA NARRANDO Eu conheço o barulho desse pagode de olhos fechados. Sei a hora que a bateria vira, o momento que o coro explode, o ponto exato que o gargalo da garrafa sua. Hoje tá tudo igual, mas eu não tô igual. Ficar parada no camarote fingindo que não tô vendo é minha pós-graduação e olha que eu já tenho uma: nutricionista do posto, fitinha de pressão, ficha de atendimento, prancheta na mão e consultório alugado ali na rua de baixo. O morro me conhece pelo jaleco, não pelo salto. Só que tem coisa que nem jaleco segura. Falar do Brasa? Tá. Sem novela. A gente começou no “nada a ver”. Eu atendia muita gente dele no posto: moleque anêmico, tia com diabetes, mãe cansada de comer salsicha. Ele via isso de longe, nunca falava comigo ali. Um dia, depois de uma campanha de pesagem, me esp

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