Naquela noite, o sono de Mattheo veio pesado, mas inquieto. A escuridão deu lugar a um cenário enevoado, como se estivesse em um campo abandonado, o vento frio chicoteando contra sua pele. Ele olhou ao redor, sempre com aquele instinto de defesa, como quem espera um inimigo a qualquer momento.
E então, lá estava ela.
A moça.
Os cabelos escuros bagunçados pelo vento, os olhos castanhos profundos que pareciam atravessá-lo. Havia algo de diferente desta vez: a expressão dela não era apenas de tristeza ou desespero — era de reconhecimento. Como se, enfim, tivesse esperado por ele.
Ela abriu a boca, e pela primeira vez em todos aqueles anos, Mattheo ouviu sua voz.
— Mattheo...
O som foi suave, mas cortante, como se tivesse entrado direto em sua mente. Ele estremeceu, um arrepio percorrendo sua nuca.
— Quem é você? — ele exigiu, a voz firme, grave, carregada de impaciência.
A moça deu um passo à frente, os olhos marejados fixos nele.
— Preciso de você... — sussurrou, quase implorando.
Mattheo avançou um pouco também, instintivamente. Aquela presença parecia puxá-lo, atraí-lo de uma forma que não compreendia.
— Do que está falando? — ele rosnou. — Precisa de mim para quê?
Mas antes que ela pudesse responder, o vento aumentou, a névoa se espalhou e a figura dela começou a se dissolver diante de seus olhos.
— NÃO! — Mattheo gritou, estendendo a mão, a raiva queimando dentro do peito. — VOLTE, VOLTE AQUI AGORA!
A última coisa que ouviu foi o eco da voz dela, distante, quase apagada pelo vento:
— Mattheo...
Ele acordou de súbito, ofegante, o coração batendo contra o peito como um tambor. O suor frio escorria por sua testa.
Dessa vez era diferente.
Dessa vez, ela o chamou pelo nome.
E isso significava apenas uma coisa: ela sabia quem ele era.