Capítulo 3. Ela sabe

306 Palavras
Naquela noite, o sono de Mattheo veio pesado, mas inquieto. A escuridão deu lugar a um cenário enevoado, como se estivesse em um campo abandonado, o vento frio chicoteando contra sua pele. Ele olhou ao redor, sempre com aquele instinto de defesa, como quem espera um inimigo a qualquer momento. E então, lá estava ela. A moça. Os cabelos escuros bagunçados pelo vento, os olhos castanhos profundos que pareciam atravessá-lo. Havia algo de diferente desta vez: a expressão dela não era apenas de tristeza ou desespero — era de reconhecimento. Como se, enfim, tivesse esperado por ele. Ela abriu a boca, e pela primeira vez em todos aqueles anos, Mattheo ouviu sua voz. — Mattheo... O som foi suave, mas cortante, como se tivesse entrado direto em sua mente. Ele estremeceu, um arrepio percorrendo sua nuca. — Quem é você? — ele exigiu, a voz firme, grave, carregada de impaciência. A moça deu um passo à frente, os olhos marejados fixos nele. — Preciso de você... — sussurrou, quase implorando. Mattheo avançou um pouco também, instintivamente. Aquela presença parecia puxá-lo, atraí-lo de uma forma que não compreendia. — Do que está falando? — ele rosnou. — Precisa de mim para quê? Mas antes que ela pudesse responder, o vento aumentou, a névoa se espalhou e a figura dela começou a se dissolver diante de seus olhos. — NÃO! — Mattheo gritou, estendendo a mão, a raiva queimando dentro do peito. — VOLTE, VOLTE AQUI AGORA! A última coisa que ouviu foi o eco da voz dela, distante, quase apagada pelo vento: — Mattheo... Ele acordou de súbito, ofegante, o coração batendo contra o peito como um tambor. O suor frio escorria por sua testa. Dessa vez era diferente. Dessa vez, ela o chamou pelo nome. E isso significava apenas uma coisa: ela sabia quem ele era.
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