Capítulo 12. Mattheo Ross

759 Palavras
Mattheo decidiu seguir Catherine discretamente depois do sonho em que ela aparecia jovem. Era um processo paciente, meticuloso: observar horários, percursos, e perceber pequenas oportunidades de aproximação sem que ela suspeitasse de sua intenção, e ele já fazia isso a dias. Naquela tarde, ele a encontrou sentada em uma cafeteria modesta, cercada por livros e cadernos. O sol entrava pelas janelas, iluminando suavemente seu cabelo castanho escuro, e ela parecia completamente absorta na leitura de um volume que ele reconheceu imediatamente. — “As Artes das Runas Antigas” — murmurou para si mesmo, franzindo levemente a testa. — Já li este. Interessante, mas exigente. Mattheo se aproximou com passos discretos, mantendo distância suficiente para parecer casual, mas próximo o bastante para uma conversa. — Esse é um dos meus livros favoritos — disse, a voz grave e firme, mas com um tom casual de curiosidade. — A abordagem dele sobre interpretação de runas é… bastante profunda, não acha? Catherine levantou o olhar, surpresa por não estar sozinha, mas o sorriso dela não demorou a surgir. Havia naturalidade, gentileza, sem nenhum traço de suspeita ou defesa. — Ah, sim… é verdade — respondeu, a voz clara e suave. — Eu gosto muito da forma como explica os símbolos, mas confesso que algumas partes são bem desafiadoras. Ela fechou o livro levemente, e, depois de um instante de hesitação, falou: — Sabe, se você quiser se sentar... seria legal discutir o livro com alguém que também entende. Mattheo arqueou uma sobrancelha, surpreso com o convite inesperado, mas manteve o semblante impassível. — Seria um prazer — respondeu, sentando-se em silêncio ao lado dela, observando cada gesto, cada expressão. Enquanto ela falava sobre passagens do livro, ele absorvia mais do que apenas as palavras. Cada movimento, cada sorriso, cada pausa estudada era uma peça do quebra-cabeça que ele tentava montar sobre quem ela realmente era. E pela primeira vez, Mattheo percebeu que poderia começar a se aproximar de forma natural, sem truques ou disfarces, mas ainda assim sem revelar que sabia mais do que qualquer pessoa deveria saber. Mattheo manteve a postura relaxada, o semblante sério, mas a mente trabalhava com precisão cirúrgica. Ele precisava extrair informações sem que Catherine percebesse que estava sendo sondada. — Você mora por aqui há muito tempo? — perguntou casualmente, os olhos castanhos discretamente avaliando a reação dela. Catherine sorriu levemente, girando a caneca de café entre as mãos: — Não muito, na verdade. Há alguns meses apenas, me mudei, cedi ao charme irresistível de Londres. Mattheo anotou mentalmente cada detalhe, sem deixar transparecer interesse excessivo que sentia — E… você nasceu e cresceu onde ? — continuou, a voz firme, porém natural. Ela sorriu genuinamente percebendo o interesse nos olhos de Mattheo — Sou de Philadelphia ( USA), nasci e cresci lá e decide me mudar para cá recentemente... Eu, passei por alguns momentos difíceis desde os meus quinze anos, e Londres me ajudou muito com isso. As informações eram pequenas, mas valiosas. Mattheo se atentou principalmente a fala dela sobre um período difícil aos 15 anos, mesma idade que os sonhos dele começaram.Ele já começava a perceber padrões, pequenas pistas sobre quem ela realmente poderia ser. De repente, ela inclinou-se levemente para frente, os olhos brilhantes em curiosidade e genuíno interesse — E… sabe, a gente já se viu algumas vezes antes e não me atentei em pergunta seu nome.. Qual seria ? — perguntou percebendo que não sabia nada sobre ele além do rosto e da presença marcante que ele tem. Mattheo manteve o olhar firme, respondendo com a mesma naturalidade calculada que vinha mantendo: — Mattheo Ross O sorriso de Catherine vacilou por um instante. Seus olhos se estreitaram, como se algo tivesse sido despertado na memória, um lampejo de reconhecimento ou lembrança antiga. O movimento foi rápido, quase imperceptível, mas não passou despercebido pelos olhos atentos de Mattheo. Ela piscou, recompôs a expressão, e o sorriso voltou a ser suave, educado, como se nada tivesse acontecido: — Prazer em conhecê-lo, Mattheo Ross— disse, com a mesma naturalidade de antes, como se o estranhamento nunca tivesse existido. Mattheo ficou em silêncio por um instante, observando cada gesto, cada nuance da reação dela. Sabia que aquele lampejo não era coincidência. Ela sabia algo, lembrava-se de algo, mas por algum motivo optou por esconder. O olhar dele ficou mais intenso, frio, determinado. — Muito bem… Catherine Woodsen — disse em tom provocativo porém nitidamente interessado, com um sorriso sutil surgindo em seus lábios . — Parece que temos muita a conversar ainda...
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