Capítulo 55. A partida de Anélisse

572 Palavras
A manhã em que Anélisse foi embora amanheceu cinzenta, como se o céu de Londres soubesse o que estava prestes a acontecer. O vento soprava entre as janelas da mansão Tomeras, e o som do relógio do saguão principal parecia marcar o tempo de forma c***l cada batida, um passo mais perto da despedida. Anélisse estava em seu quarto, as malas prontas ao lado da cama. As mãos trêmulas percorriam os lenços bordados, os livros de feitiços, o colar que Mattheo havia lhe dado em um dos aniversários. Ela o segurou por um instante, os dedos apertando o pingente em forma de lua crescente. —Mesmo longe… eu nunca vou te esquecer, Theo — murmurou, a voz embargada. Do lado de fora, George Tomeras observava impassível. O rosto severo, a expressão fria. Ele acreditava que estava fazendo o certo , protegendo a filha de um destino perigoso, longe da sombra dos Ross. Mas havia algo na maneira como Anélisse o olhava que o desconcertava. Não havia medo. Apenas determinação silenciosa. — Suas coisas já estão prontas? — perguntou ele, a voz cortante. Anélisse assentiu, sem olhá-lo. — Estão. — Ótimo. Seu tio virá buscá-la. Nos Estados Unidos, você vai ter paz. Vai esquecer essa idiotices que pensa que sente por Mattheo. — Se está fazendo isso pensando que me fará esquece-lo, sinto em lhe desapontar, papai. — Respondeu serena. George franziu o cenho, mas Anélisse não recuou. Em vez disso, caminhou até ele e pousou a mão sobre o braço do pai — um gesto calmo, quase gentil. — O senhor vai se arrepender de me tirar daqui. — E você vai se arrepender de sentir algo por ele. Anélisse olhou uma última vez para o quarto, e o coração apertou. Tudo ali os livros, o perfume das rosas que vinham da janela, o vestido azul pendurado era um pedaço da vida que estava prestes a desaparecer. Ela respirou fundo, guardou o colar dentro da blusa e desceu as escadas. No portão, Georgina, sua irmã, chorava baixinho. — Você não vai nem se despedir do Mattheo? — perguntou, tentando conter as lágrimas. Anélisse fechou os olhos por um instante. — Não posso. Ou melhor, não consigo. Georgina segurou a mão dela. — Ele vai te procurar. Anélisse sorriu de leve. — Eu sei. — Mas… espero que não me encontre. Pro nosso bem Anélisse entrou no carro sem olhar para trás, mesmo com o peito queimando e os olhos marejados. Quando o carro arrancou, as ruas familiares começaram a desaparecer atrás do vidro. No instante em que a mansão sumiu de vista, ela sentiu algo quente pulsar no peito — o Sanguis Vinculum — o feitiço reagindo. Era o coração de Mattheo, de alguma forma, chamando por ela. Ela levou a mão até o peito, apertando com força como se isso fosse ajudar a aliviar a dor que sentia. — Me perdoa, Mattheo. — sussurrou, com lágrimas escorrendo. — Mas essa é a única forma de te manter vivo. E, em algum ponto distante de Londres, Mattheo Ross acordava sobressaltado, o coração acelerado, sem entender o motivo. Um vazio inexplicável tomou conta dele como se algo dentro dele tivesse sido arrancado. E pela primeira vez em anos, o ar pareceu… pesado. Mas ele não sabia. Não sabia que naquele exato momento, o amor da sua vida estava deixando Londres e que o destino acabava de mudar o rumo dos dois para sempre.
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