Pré-visualização gratuita Meu chefe é ...
Anny Amora Laurent Trajano.Esse é o meu nome, por mais que você ache estranho. Talvez você esteja se perguntando: "Que tipo de mãe dá um nome tão constrangedor assim para a própria filha?" A resposta é simples: a minha mãe. Para evitar situações desconfortáveis, sempre me apresento apenas como Anny. Ainda assim, algumas pessoas insistem em me chamar de Anne, principalmente aqui na Coreia do Sul.
Vim para cá estudar Economia com uma bolsa muito concorrida. No primeiro ano, foquei totalmente nos estudos, mas a situação mudou quando meu pai deixou de me enviar dinheiro. Ele alegou que agora precisava sustentar o bebê que teve com sua nova esposa. Sim, meu pai, aos 50 anos, casou novamente e teve um filho. Desde então, me viro sozinha, trabalhando como atendente em lojas de conveniência e até como entregador de pizza. Foi em uma dessas entregas que minha sorte mudou, literalmente caindo na minha cara quando levei um tombo de bicicleta.
No chão, encontrei um panfleto que dizia:
"Estamos contratando pessoas com conhecimentos em cabelo e maquiagem. Interessados, compareçam na sexta-feira, às 6h da manhã, na empresa 'X'. Tragam documentos. Segue o endereço abaixo.
Obs: Não é necessária experiência, apenas prática. Realizaremos um teste no local."
BINGO!
Mesmo cheia de hematomas e dores internas, aquela queda valeu a pena. No dia marcado, fui até o local. Era uma empresa que recrutava profissionais para grandes companhias em Seul. Havia mais de 500 pessoas lá, e o processo seletivo foi exaustivo. Graças aos ensinamentos da minha tia sobre maquiagem e cabelo, consegui me destacar. Passei sete dias ansiosa, verificando meu celular, até finalmente receber a ligação que mudou minha vida. Hoje, trabalho há um ano e sete meses na Dream Music Entertainment.
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— Bom dia, senhorita Anne.
— Bom dia, senhor Chul! — respondo sorrindo enquanto cumprimento o segurança responsável pela entrada dos funcionários.
Chul-hoo é um homem simpático de 55 anos, um dos poucos que me tratou com normalidade quando cheguei aqui. Ser novata não é fácil, principalmente sendo estrangeira com traços marcantes.
Após passar pela roleta e pelo detector de metais, caminho pelo imenso saguão da ala sul até o elevador que me leva ao andar superior. Lá, passamos pela recepção e outra roleta antes de acessar o elevador exclusivo para funcionários, que conecta os outros andares do prédio. Quando comecei, assinei tantos papéis que nem lembro de todos os termos. Mas há dois pontos claros: nunca expor nada sobre o trabalho e manter distância íntima dos superiores.
Chego ao terceiro andar, onde está localizado o vestuário feminino.
— Annyeonggggg— Comprimento com um arrastado na voz ao entrar e encontrar as outras staffs.
— Annyyyyy!— Jo-Hee vem até mim animada, enquanto coloco minha bolsa no armário.
— Olá, Jo! — sorri, tirando meu casaco e gorro para guardar no armário também.
— E aí, sortuda! O que fez de bom ontem? — ela pergunta, distraída com o celular.
— O de sempre: assisti Bob Esponja e comi marshmallow torrado — respondo, desligando meu celular antes de guardá-lo e trancar o armário.
— Assim você nunca vai arrumar um namorado! — Jo-Hee diz, indignada. — Você m*l se arruma e ainda passa a noite de domingo em casa.
— Não preciso de um namorado — respondo, refazendo meu coque clássico e ajustando meu óculos .
— Você é sortuda! — Ela me segue no corredor. — Nem precisa de namorado tendo o chefe que tem.
Paro abruptamente e olho para ela.
— Para com isso, Jo! Alguém pode ouvir você, e isso pode me prejudicar! — sussurrei, olhando ao redor.
— Desculpa — ela murmurou, enquanto algumas pessoas passam por nós.
— Além disso, você sabe que ele tem namorada. Uma fofoca dessas pode virar um escândalo, e eu não quero ser processada por nenhum cantor famoso .
— Olhar não dá processo — ela retruca, mostrando uma foto dele no celular.
Aperto apressada o botão do elevador, desviando o olhar.
— Você ficou vermelha! — Jo-Hee ri.
— Até a hora do almoço, Jo! — digo, entrando no elevador e fechando a porta. — Tsc… — resmungo, ajeitando as mangas da camisa xadrez que uso.
No espelho do elevador, me encarei antes de sair no andar seguinte.
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Chego ao salão de camarins, onde limpo e organizo meus materiais. Depois, sigo para uma das salas de reunião.
Na sala, reviso a agenda e verifico os arquivos no notebook.
— Anne? — ouço uma batida na porta.
— Sim? — respondo, sem tirar os olhos do computador.
— O senhor Kim está à sua procura.
Pauso o que estou fazendo, salvo os arquivos e agradeço ao colega. Arrumo rapidamente a mesa e sigo até o bloco A9, onde ficam as salas de descanso.
Bato na porta da sala 3 e ouço um sonoro "Entre"em coreano. Abro a porta e vejo Soobin deitado em um sofá, brincando com algo pequeno e redondo, enquanto Kim Ji-hoon está concentrado no celular.
Sim, meu patrão é ninguém menos que Kim Ji-hoon, um dos vocalistas da boyband coreana mais famosa do mundo, o Un1TeD.
— Com licença. — Faço uma breve reverência e forço um sorriso, tentando parecer tranquila.
— Annyeong, Anne! — Soobin murmura, sem tirar os olhos do objeto em suas mãos.
—Ola! — sorri para ele .
— Mandou me chamar, senhor Kim? — Fecho a porta suavemente e caminho até onde Ji-hoon está sentado.
Ele desvia o olhar do telefone e me encara de lado, com uma expressão que mistura seriedade e curiosidade. O rosto angelical dele transborda uma masculinidade quase surreal.
"Maldita beleza sul-coreana!"
E praguejou mentalmente, apertando os objetos contra meu peito para me segurar.
— Quantas vezes vou ter que dizer que não sou tão velho para ser chamado de senhor?— Ele levanta uma sobrancelha, exalando charme, mesmo num tom quase de bronca.
Por mais que pareça rude, Kim Ji-hoon é incapaz de tratar alguém com arrogância. Pelo contrário, ele é uma das pessoas mais afetuosas que já conheci neste prédio. Apesar de todos os membros serem extremamente simpáticos e calorosos, Ji-hoon é um tipo especial: ele parece um chafariz, espalhando amor e abraços por onde passa.
"Olaf…"
Sorrio internamente com a comparação infantil, mas antes que me perca no pensamento, sinto sua mão tocando minha testa.
— Está com febre? — Ele pergunta de repente.
Eu recuei rapidamente, assustada, tirando sua mão do meu rosto.
"Como? Ele estava ali... e agora..."
— Inferno... — murmuro baixo, me amaldiçoando por estar tão distraída.
— O que você disse? — Ele franze o cenho, claramente confuso.
— Nada! — Cubro a boca com a mão, desesperada.
— Você está vermelha. Acho que está doente. — Ele inclina a cabeça, me analisando com preocupação.
— Eu... estou bem. — Tento parecer firme, mas meu olhar desviou para o chão, incapaz de encará-lo diretamente.
Ele endireita a postura, e sua altura parece ainda maior do que o normal. Caminha com calma até o sofá, me observando de forma calculada, e bate levemente no estofado ao seu lado.
— Sente-se aqui, por favor.
Com os braços ainda apertando os objetos, obedeço hesitante, sentando a uma distância segura. Meu olhar vagueia até Soobin, que continua alheio ao ambiente, concentrado no que está fazendo. É engraçado como ele, com aquele bico distraído, parece uma criança inocente, mas o olhar matador que ele lança às vezes é o suficiente para parar qualquer um.
— Anne? — A voz grave de Ji-hoon me puxa de volta à realidade, me fazendo sentir uma onda de vergonha ao perceber que estava perdida nos meus devaneios.
"Droga de efeito Un1TeD!"
Sim, eu sou fã! Podem me julgar.
— Sim, sen... — Pauso quando ele arqueia uma sobrancelha em protesto. — Desculpe... Ji-hoon.
Ele sorri de canto a canto, os lábios comprimidos em uma expressão cheia de charme. Ao se inclinar para frente, os músculos sob a camisa branca apertada ficam evidentes.
— Só um minuto, honey. — Ele diz casualmente antes de voltar a atenção para o celular.
Meu coração dispara. Ele me chama assim às vezes, mas eu ainda não consigo me acostumar. É gentil, claro, mas também... tão sensual.
"Ele é seu chefe! Regra número um do contrato: jamais, sob hipótese alguma, criar vínculos românticos com superiores."
Foi exatamente assim que a contratante leu essa cláusula para mim, com um olhar fulminante, como se quisesse gravar aquelas palavras na minha alma.
— Pronto. — Ele suspira, jogando o telefone na mesa do centro. — Você fica vermelha quase sempre, sabia? Só agora percebi isso.
Ele sorri, e eu desvio o olhar, constrangida.
"Maldito Kim Ji-hoon e sua beleza!"
— Bem, eu... — Começo a abrir a agenda em meu colo.
— Ei. — Ele coloca a mão sobre as páginas, me interrompendo.
Levanto os olhos para ele, confusa.
— Eu não chamei você aqui para isso.
— Então... em que posso ajudá-lo? — Pergunto, fechando a agenda e cruzando as mãos por cima dela.
Ele tira o boné preto, ajeitando o cabelo com uma expressão despreocupada.
— Quero que faça algo para mim. — Ele vai direto ao ponto, me encarando com intensidade, o dedo indicador roçando os lábios.
Meu rosto queima. Ele fala de forma tão simples e sincera, mas seu tom é uma armadilha. A voz dele tem um efeito quase hipnotizante.
"Kim Ji-hoon, vou processá-lo por ser tão sensual!"
— C-claro, senhor. — A palavra escapa antes que eu consiga evitar.
Ele revira os olhos, mas não protesta.
— Olhe para mim, por favor. — O tom dele é firme, mas não agressivo.
Relutante, levanto os olhos para encontrar os dele.
— Sabe que gosto que olhem nos meus olhos quando falo.
"Eu sei, mas você já viu o efeito que isso tem nas pessoas?"
— Desculpe, Kim. — Digo baixinho.
Ele se inclina para trás, os braços abertos no encosto do sofá, me observando.
— Confio em você. Quero que faça algo importante para mim.
Eu me ajeito no sofá, ansiosa para saber qual é o pedido. Minha mente voa até a última vez que ele disse algo assim: acabei fugindo com ele para Busan no meio do expediente só porque ele queria tomar um sorvete de pistache em uma vila isolada. Apesar de ser um astro dedicado à música, Ji-hoon é imprevisível.
— O que seria? — Pergunto, tentando manter a calma.
Ele me encara com aquele olhar que parece perfurar minha alma, um sorriso enigmático surgindo no canto dos lábios.
— Você vai saber...
E, de repente, sinto que minha vida pode estar prestes a virar de cabeça para baixo mais uma vez.Ji-hoon é apaixonado pela música e sempre entrega tudo de si. No palco, ele é um astro completo, mas, fora dele, às vezes, parece apenas um cara comum, quase despretensioso. Essa dualidade é o que o torna tão único, tão imprevisível, como uma chuva inesperada na primavera. Há algo encantador nessa simplicidade que contrasta com a sua figura de celebridade.
Eu sou sua assistente pessoal e staff há um ano e dois meses. Antes disso, trabalhei por cinco meses como assistente de um cabeleireiro que prestava serviços ao grupo. Foi ali que ele me notou.
Flashback on
— Psiu!
Carregava duas malas pesadas do meu chefe e estava no meio do corredor do prédio, onde ocorria o evento de promoção do novo comeback. Parei, franzindo o cenho, ao ouvir um sussurro.
— Ei... aqui... — a voz masculina ecoou suavemente. Olhei para trás, mas o corredor estava vazio.
— Eu estou do seu lado praticamente... — A voz veio de novo, e foi o suficiente para me fazer largar as malas no chão. O conteúdo se espalhou pelo chão brilhante, e eu me encolhi contra a parede oposta.
— O... o esp- pi- pír- piro de quem você é?! — balbuciei, tentando controlar minha respiração.
O silêncio se instalou, e meu coração batia acelerado.
— Oi? V-você ainda tá aí? — perguntei, hesitante. Nada. — Então... — engoli seco. — Se você está aqui, bata duas vezes.
Era algo que tinha visto no seriado Detetive Paranormal. Nunca achei que realmente usaria aquilo. Enquanto recolhia a bagunça no chão, me senti um tanto ridícula.
"TOC, TOC!"
As duas batidas soaram tão nítidas que eu pulei para trás, jogando as escovas que tinha em mãos para o alto.
— Ai! — murmurei quando uma caiu na minha cabeça, seguida por uma risada abafada.
Levantei o olhar e percebi que o som vinha de uma porta próxima. Irritada, bati na porta com força.
— Você não pode fazer esse tipo de coisa, sabia?! — gritei.
— Desculpa... — respondeu a voz, ainda rindo.
— Ora, por que está rindo tanto? — perguntei, tentando espiar pelo vidro fumê da porta.
— Porque... — mais risadas. — Porque você achou que era um fantasma! — Ele caiu na risada novamente, como se fosse a coisa mais engraçada do mundo.
— Quer saber? Dane-se! Tô indo embora, seu esquisito! — bufei e comecei a recolher o que tinha caído.
— Ei, espera, por favor... — ele pediu, contendo as risadas. — Desculpa mesmo. Não queria te assustar.
Olhei por cima do ombro, ainda hesitante.
— Então... você pode me ajudar?
— Com o quê?
— Estou trancado aqui dentro e atrasado.
Levantei-me, me aproximando da porta, tentando girar a maçaneta.
— Está trancada — constatei.
— É o que acabei de dizer.
— E como você acha que vou abrir, gênio? — revirei os olhos.
— Aquela escova de metal no chão... pode usar pra abrir. — Ele respondeu casualmente.
Peguei a escova, mas não pude evitar perguntar:
— Como você sabe que é de metal? Tá me espionando?
— Tem um vidro fumê aqui, querida. Eu vejo tudo daí. Inclusive, vi você se assustar e jogar as escovas na sua própria cabeça. — Ele soltou uma risadinha.
Bufei, ajeitando os óculos e começando a trabalhar na fechadura.
— E como ficou preso aí? — perguntei, tentando me distrair.
— Um pirralho com olhos redondos como jabuticabas achou engraçado me trancar aqui. Mas ele vai me pagar.
— Jabuticabas? — ri, sem querer.
— Uma fruta que tem no …
— Eu sei o que é, só achei engraçado a comparação. — Cortei-o e falei quase em irritação.
Finalmente, um clique indicou que a fechadura tinha cedido.
— Pronto! — disse, satisfeita.
Antes que pudesse me afastar, a voz do meu chefe, Jang Wohon, ecoou pelo corredor.
— Sua i****a! Olha só o que fez com minhas coisas! — Ele avançou, furioso.
— Desculpe, senhor! — me curvei, tentando manter a compostura.
— E o que está esperando? Recolha tudo sua i****a , agora! — gritou.
Antes que pudesse responder, outra voz soou pelo corredor, grave e autoritária.
— É assim que trata seus subordinados? — perguntou.
Levantei o olhar devagar e vi Kim Ji-hoon, impecável em um terno vermelho. Sua expressão séria era intimidadora. Wohon ficou imediatamente tenso.
— Senhor Kim! — meu chefe balbuciou, curvando ligeiramente.
— Eu fiz uma pergunta — Ji-hoon continuou seco.
Meu chefe o olhou e eu engoli em seco .
— Senhor, essa garota é uma …
— Não ouse mais nenhuma palavra . — Ji-hoon disse ríspido .Ele graciosamente agachou perto de mim , os braços apoiando nos joelhos flexionados.
— Seu nome é i****a, querida ? — Sua voz saiu suave , seus olhos fixos nos meus.
— N-não, senhor. É Anny — respondi, tentando manter a calma.
— Não parece uma i****a mesmo . — Ele sorriu, levantando-se. — Já você... — virou-se para Wohon — parece o tipo de pessoa que deveria começar a procurar um novo emprego.
Wohon tentou argumentar, mas Ji-hoon o cortou.
— Recolha suas coisas e saia. Agora. — Sua voz era fria como gelo.
Com o coração disparado, fiquei olhando de um para o outro, sem acreditar no que acontecia.
— E você, Anny... — Ji-hoon virou-se para mim, o tom mais suave. — Largue isso. Preciso de uma assistente pessoal. Você serve.
— O quê?! — murmurei, atônita.
— Vamos, honey. Tenho um show para fazer. — Ele começou a caminhar, e eu, ainda em choque, larguei tudo e o segui.
"Oh, meu Deus... insultei e quase dei um cascudo em Kim Ji-hoon!"
Flashback off
— E o que seria ?