A faxina e o susto. ( Larissa)

1955 Palavras
" Certos sentimentos florescem no coração sem sua permissão, ele simplismente invade o teu peito e nele faz morada" Por: Larissa. Algumas coisas são incríveis, até parece que o céu espelha a tristeza que os funcionários da fazenda estão sentindo. Suas nuvens carregadas e acinzentadas dá um ar melancólico ao dia de hoje. Estou sentada à mesa tomando meu desjejum, olho para meu relógio de pulso e constato se passar das nove horas. Ainda sonolenta sorvo um gole de café fumegante, confiante que a bebida me despertará. Se hoje o dia está iniciando tenso, o que falar sobre ontem? Meu pai chegou tarde em casa, em farrapos para ser mais precisa. Seu semblante muito abatido, ombros caídos e olhos entristecidos. Ele sentia por seu patrão, foi perceptível que sentia mais por está revivendo algo que ocorreu há tempos. É como se fizessem uma reprise de um filme mórbido. Minha mãe, por sua vez, tinha momentos que chorava ,momentos que orava e outras que ficava calada quieta, simplismente emudecia. Todos ali, estavam aflitos. Inclusive eu, pensava muito em dona Violeta. Sempre tive apreço por ela, me compadeço por tudo o que está acontecendo com o senhor Greco. O dono desta fazenda nunca gostou muito de mim, sempre era hostil, ríspido e até ignorante. Nunca me dirigiu o tratamento que tem como as filhas dos outros funcionários e, às vezes, eu sentia até medo dele. Seu olhar para mim é sempre frio, vazio. Nunca consegui entender o que fiz para receber tanto. Muitas das vezes atribui essa grosseria e olhares atravessados com as fugidas que eu fazia para o seu jardim. O lugar é lindo, me sinto em paz por lá. Mas da última vez que o senhor Grecco me flagrou no meio das folhagens viçosas, sobrou até para o meu pai. Levamos aquele esporro, parecíamos duas crianças de cinco anos ouvindo o pai repreender ríspido pelo mau comportamento. Levanto-me da cadeira, deixando esse episódio esquecido no fundo do baú da minha mente. Começo organizar a casa, meus pais já foram trabalhar e eu preciso me adianta para preparar o almoço deles. Sigo para a cozinha, dou uma olhadinha na dispensa e na geladeira, fico em dúvida se cozinho sopa ou macarronada. _Acho que vou fazer macarronada, rápida prática e...- meu monólogo é interrompido pela voz da minha mãe me chamando. _ Larissa! Tá onde? _ Na cozinha ,mãe! Escuto seus passos apressados pela casa, em poucos segundos ela aparece na cozinha. _ Estou precisando da sua ajuda lá na mansão, filha ! _ O que houve?- pergunto achando tudo estranho, minha mãe que sempre me quer bem longe da casa dos patrões, agora deseja que eu ajude-a justamente lá. _ Dona Violeta acabou de me telefonar, quer que eu faça uma faxina na casa. O filho está vindo ficar com ela. _ Nossa! Mas, precisa de tanto! A casa vive sendo limpa. _ Acontece que esse filho faz anos que não pisa aqui no Brasil. É normal ela querer tudo impecável para recebê-lo. - diz, fazendo um coque apertado nos fios. _ Que seja, onde eu entro nessa história? - perguntei prevendo que não iria gostar do que estava por vir. _ Lembra que a Janaína casou e foi embora para a cidade natal do marido? E no mesmo mês a Catarina ganhou bebê? _ Lembro, mãe, faz duas semanas. Mas o que tem? _ Tem que sozinha não dou conta de cuidar daquela casa gigante, por isso conversei com dona Violeta e ela aceitou te remunerar como minha ajudante. Ao ouvir aquilo, minhas pernas tremeram. Como seria quando o senhor Greco voltasse para casa e me visse? Seria eu escorraçada como um bicho? Minha mãe, vendo minha linguagem corporal, tratou de me acalmar. _ Não vai ser por muito tempo, dona Violeta tem algumas entrevistas marcadas com candidatas para as vagas, porém no momento ela não tem como fazê-las. Respirei aliviada. _ Por quanto tempo seria essa minha ajuda? _ Duas, três semanas. É o tempo para dona Violeta conseguir arranjar tudo, depois você estará liberada. Vamos filha, ajuda a mamãe? - pede com a voz meiga. _ Tudo bem, só não quero ter de cruzar o caminho do senhor rabugento. - aviso de imediato- A senhora sabe que ele não gosta muito de mim e eu tenho pavor dele. _ Você não terá que lidar com o patrão, quando ele retornar para casa, dona Violeta cuidará pessoalmente do marido. Você não terá que servi-lo nem um copo de água. Respiro fundo e faço um r**o de cavalo nos meus fios desalinhados. _ Então vamos fazer a faxina. - digo para minha mãe, andando em direção à porta. Fazemos o trajeto até a mansão. Quando estamos na área de lavar, pegamos os produtos de limpeza e tudo mais que é necessário, e fazemos a divisão por andar. Minha mãe limpará o primeiro e eu o segundo andar. Depois, nós duas limparemos o terceiro andar. Sigo subindo as escadas, levando balde, vassoura e rodo numa mão e aspirador de pó na outra. Faço um verdadeiro teste de equilíbrio para não espatifar no chão com todas essas tranqueiras. Olho para o extenso corredor e suas inúmeras portas, muitos cômodos para limpar, sem contar as varandas cobertas e os solários. Vou abrindo porta por porta para saber de que cômodo se trata e constato estupefata que aqui em cima existem três banheiros sociais, todos com o tamanho do meu quarto. Então, resolvo começar por eles. O luxo impera, é impossível não ficar de queixo no chão com tanta pompa. Os detalhes, os espelhos, as torneiras... tudo harmonizado. Levo umas duas horas para lavar, enxugar, colocar os objetos no lugar e polir as torneiras de bronze dos três banheiros. Já me sinto exausta, e m*l comecei a limpeza. Recolho todos os produtos e sigo para os quartos de visitas, sabendo que vou penar nessa faxina. Tem o que, três, quatro casas dentro dessa? Quando chego no final do corredor, tento abrir a porta do último cômodo que falta para fazer a higienização, no entanto a porta está trancada. Sem entender nada dou de ombros. " Menos um para eu limpar."- penso dando meia volta. Já passa das quatro quando minha mãe e eu nos encontramos na escada para limpar o último andar. Ela sobe os degraus e eu vou bem atrás, sentindo meu corpo todo dolorido. _ Aqui vamos fazer o seguinte, você limpará a suíte do filho dos patrões, a suíte reserva e o solarium - fala dos cômodos que serão de minha responsabilidade a organização e higienização. _ Eu vou limpar a suíte dos patrões, a biblioteca, o escritório - fala enquanto olha para um relógio de madeira muito antigo e enorme que fica no fim do corredor. _ Quais são as portas dos quartos que vou ter de limpar? - pergunto. _ Aquela porta à sua direita é do quarto do filho do patrão e aquela em frente é do quarto reserva - não entendo nada, quarto reserva para quê? Tem tantos quartos de visita no segundo andar. _ Vamos logo com isso mãe. Já está tarde e corre o risco de não terminarmos hoje.- falo pegando os baldes com os produtos e tudo mais que é necessário. Ando até a porta e abro-a, deparando-me com um quarto escuro. Tateio as paredes em busca do interruptor. Meus dedos encontram a elevação e acendo as lâmpadas. O quarto ilumina-se e vejo a imensidão que é, com paredes pintadas de cinza claro e cortinas de tom escuro. Uma cama king size com uma colcha tão linda, repleta de detalhes delicados. Olho para um porta-retrato em cima de uma cômoda, ando até ele e pego o objeto. Nele, vejo um jovem sorridente dono de olhos de cor cinza. "Lindo!" - sibilo. Admiro a imagem do rapaz, seus cabelos bagunçados e úmidos, seus músculos aparentes e bem delineados. Ele estava com os braços apoiados na borda de uma piscina. Corro meu dedo indicador pela fotografia. O homem, com a aparência de ter uns 20 anos, é certamente o mais bonito que já vi na vida. _ Tem muita poeira ai?- me assusto com a voz da minha mãe e acabo quase deixando o porta retrato cair. _Que susto mãe! _Está segurando o quê?- pergunta vindo em minha direção. _ Nada, apenas isso. - mostro . Ela pega o objeto e olha a foto. _ Depois de muito tempo longe , ele enfim volta para ver os pais. E olha em que circunstâncias? Com o pai quase morto em cima da cama de um hospital.- diz posicionando a foto no local de costume, ela desliza seus dedos pelo tampo do móvel. - É tem bastante poeira, vou retirar as cortinas, colcha ,lençóis, capas de almofadas. Minha mãe segue retirando tudo e fazendo uma pilha de tecidos no meio do quarto . _ Anda, Larissa, vai lavar o banheiro. Como sempre limpo a suíte dos patrões, não tem sujeira por lá. Vai dar para te ajudar nesse quarto, que está só o pó. Também vive trancado, nem abrir as janelas dona Violeta permite. Sente o cheiro de mofo? - pergunta, coçando o nariz, sinal evidente de sua alergia dando as caras. - Abre essas portas, filha, para arejar. Imagina se o moço é alérgico igual a mim? - pede, carregando a trouxa de pano para fora do cômodo. Fico pensando no rapaz e também no que levou a esse afastamento dos pais. _ Mãe? Dona Violeta fala do filho, qual motivo o fez se afastar daqui ,dos pais?- pergunto abrindo as enormes portas que dá passagem para um enorme solario, dele posso ver nossa casa ao longe. _ Não, apenas diz que sente saudades. Sabe, faz anos que ele não pisa por essas bandas.- diz enquanto busca no closet lençóis limpos. _ Então ele deve vir com esposa e filhos? - pergunto sentindo algo dentro de mim se apertar. _ Não sei, como já falei, dona Violeta não fala muito do filho e muito menos da vida pessoal dele. Fico assustada por sentir tal coisa e vou lavar o banheiro. A suíte parece mais uma casa de tão grande. Fico assombrada com essa sensação totalmente estranha que me ocorreu há poucos segundos. "Deve ser essas tribulações que venho vivendo esses dois dias, ver meus pais tristes abatidos não me faz nada bem."- penso limpando uma parede espelhada. Quando são sete da noite, já estamos em casa, eu toda "destruída" e querendo minha cama. A faxina pesada me fez descobrir a existência de músculos que nem sabia que tinha. _ Vou deitar.- falo me retirando da mesa enquanto meus pais ainda tomam seu lanche noturno . _ Dona Violeta vai vir para casa hoje com o filho? - pergunta meu pai para minha mãe _ Não sei, querido. Apenas me pediu para fazer a faxina e deixar tudo preparado - responde enquanto corta uma fatia de bolo. Quero te avisar que a partir de amanhã, Lari vai me ajudar na mansão, você terá que esquentar seu almoço - minha mãe informa. Carmem e Mônica estarão trabalhando conosco amanhã, mas preciso de ajuda na cozinha e é por lá que Larissa vai "trabalhar" como minha ajudante. _Sem problemas, mas não quero que a Lari fique por muito tempo trabalhando. Ela tem que fazer algum curso nesse tempo em que não entra na faculdade. _Vai ser por pouco tempo, pai. Logo, dona Violeta repõe o quadro de funcionários e serei liberada - falo para acalmar o ânimo exaltado do meu progenitor. Dou um beijo no rosto de cada um e me dirijo ao meu quarto. Deito e me cubro, dou uma olhada no meu celular, coloco uma música com o volume bem baixinho e adormeço.
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