Dez anos atrás/Presenciando o declínio de um filho( Gerardo)

1063 Palavras
" Demonstrações de sentimentalismo jogam-te aos leões. Muitos estão só esperando uma fraqueza sua para derrubá-lo. " Por: Gerardo. A vida de Pietro estava um caos. Meu filho, por ter um coração brando, começou a colher os frutos disso. Eu me condeno por não ter tido mais pulso firme com meu caçula. Em parte, sou culpado pelo dissabor que vivo agora. Quando ele se negou a tomar parte dos negócios da família na nossa terra natal, fui rígido. Mostrei meu pior lado para Pietro, mas Vittorio saiu em defesa do irmão. Também tive que aturar os choros de capricho de Violeta. Mãe sempre tem coração mole para os filhos e por eu ceder as vontades dela, hoje presencio meu herdeiro ser fraco, curvando-se por ter o coração dilacerado. Estou atolado de trabalho até as guampas e meu filho tornou-se um completo inútil, estando com o r**o cheio de cachaça por causa de uma aproveitadora com quem casou-se no tempo em que estudou em São Paulo. Pietro mencionou naquela época que queria se aprofundar na área do melhoramento genético e biotecnologia, podendo contribuir com o crescimento da fazenda. A contribuição ficou só nas intenções e palavras. A vida do homem só girava em torno da interesseira, nunca pôs em prática o que aprendeu, meu filho tornou-se um cego babaca, um i****a controlado por uma b****a. Meu garoto esqueceu completamente os motivos, pelos quais meu avô comprou essas terras em solo Brasileiro. O quê um r**o de saia não faz com um homem desestruturado. Pietro tem sido minha desgraça, tomando um caminho totalmente diferente do que sempre tracei minuciosamente para ele, ao contrário de Vittorio. Meu primogênito tem pulsos firmes, determinação e visão. Tudo que um bom líder precisa para obter o respeito dos seus funcionários e colaboradores. Meu Vittorio, me faz lembrar do tempo em que eu tinha sua idade, no entanto, às vezes, Pietro me faz pensar que ele deve ter sido trocado na maternidade. Deixo meus devaneios de lado e analiso planilhas, gráficos e outros papéis. Aos meus cinquenta e dois anos de idade, posso dizer que vivo para o trabalho. Nos dias atuais, menos do que antes, mas costumava ser vinte e quatro horas por dia, todos os dias do ano. Hoje chega o novo veterinário com sua família, eu espero estar recebendo um profissional competente em minha fazenda. Quando Lúcio, filho do meu ex-sócio em um frigorífico, me ligou oferecendo os serviços do senhor Fernando, aceitei de imediato. Eu vinha passando raiva com o veterinário que atendia meus animais. Perdi algumas crias e até vacas inseminadas que arrematei num leilão e me custaram uma fortuna. A gota d'água foi a morte do meu Puro-sangue árabe. O veterinário e sua família ficaram alojados numa das moradias que a fazenda oferece, precisamente a que fica a quinhentos metros, na lateral esquerda da minha residência. Como sou precavido, mandei fazer uma investigação completa sobre a vida do profissional e não encontrei nada que maculasse o currículo do homem. Amanhã conhecerei os indivíduos, junto com minha esposa. Deixarei claro algumas questões e regras para não haver desculpas esfarrapadas se algo for executado fora do que eu determinar. "Por ora vou deixá-los descansar e se acomodar".- murmuro. Escuto a porta do escritório abrir, mas não desvio meus olhos do papel que tenho em mãos. _ Amor? Está muito ocupado?- diz Violeta enquanto adentra ao cômodo. _ Não. Fale o que deseja?- respondo, soltando a folha na mesa. _ Você vai falar com Vittorio, sobre o que Pietro te pediu? - fala apreensiva. Suspiro e encaro os olhos acinzentados de minha esposa. _ Sim, já passou do tempo de nosso caçula crescer e amadurecer. Não vai ter mais escapes ,você também não poderá interferir.- falo calmo, porém firme. Violeta abaixa a cabeça, vejo algumas lágrimas descerem sobre sua pele alva; todavia, ela não faz apelo algum. _ Eu ....eu não vou me opor. Quero meu figlio de volta. Não aquele boneco que Pâmela comandava de acordo com os desejos que ela tinha. Aquela v***a acabou com meu menino.- desabafa entre soluços. Saio do meu assento e contorno a mesa para acarinhar o topo da cabeça de minha esposa. _ Ele vai melhorar, se tornara um homem mais maduro. Vittorio vai gostar de ter o irmão por perto. Ela apenas me olha e balança a cabeça positivamente. Dentro de mim, espero mesmo que seja desse modo. Por que se não for, considerarei Pietro um peso morto. Tomo minha esposa pela mão e saímos do escritório juntos, precisamos de descanso os dias tem sido longos . Minha noite foi agitada, não dormi com receio do meu filho, atentar contra sua própria vida. Antes do sol despontar no horizonte ,estou de pé com uma xícara de café fumegante nas mãos. "Tenho tantos problemas para resolver. Se Pietro estivesse ao meu lado ajudando a tocar os negócios da família, mas não, teve de se deixar levar por um par de coxas femininas." - falo mentalmente. _ Oi, pai! Tão cedo e o senhor está acordado. - a voz do meu filho me causa espanto que prontamente disfarço. _ Tenho assuntos da fazenda para resolver; tenho que apresentar a sua mãe para a nova família de trabalhadores que estamos recebendo. Talvez isso não ocorra hoje como eu pretendia. - Olho para o rapaz e vejo o quanto abatido meu filho está. - Mas mudando de assunto, o que o tirou da cama antes do alvorecer? - Pergunto enquanto beberico o líquido quente. _ Sonhei com a Pâmela ... ela me pedia ajuda mas eu...eu não conseguia chegar até ela...- suspira e passa a mão pelos cabelos bagunçado - estou destroçado pai. Nunca pensei que terminaria assim. Preciso me afastar de tudo isso aqui.- diz com o olhar fixo no nada. Eu foco o chão e aproveito a oportunidade e revelo que tomei algumas providências. _ Você parte hoje a noite para a Itália. - sou conciso. Ele olha para mim e o seu péssimo estado barba por fazer, olheiras, olhos inchados e visivelmente mais magro, aperta meu coração. Meu filho apenas fez uma afirmação com a cabeça ao sair da cozinha. Suspiro e colo a xícara na pia. " Tem que ser assim figlio, ninguém foge do seu destino. Menos tempo, mais tempo ele chega até você. Não adianta se esconder que ele te acha."- penso. Rumo em direção ao escritório.
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