Dez anos atrás/As dores que me consomem.( Pietro)

913 Palavras
" A pior dor que acomete o ser humano é a da saudade, ainda mais quando está é provocada pela partida do ser que mais amamos." Por: Pietro. A dor está corroendo meu peito, sinto o frio da saudade me invadir. Cada lágrima que desliza pelo meu rosto é uma adaga a mais sendo cravada no meu coração. Não tenho forças para suportar esse vazio que me engole. O nosso quarto, antes tão vívido por causa dos sorrisos que saíam de forma deliciosa de sua garganta, hoje está mais cinza que o céu. Faz três dias, que enterrei um pedaço de mim, faz três dias que vegeto e tenho como companhia as garrafas de bebida. Não suportei ver o caixão dela descendo e sendo abraçado pela terra, quis arrancá-la daquele esquife de madeira e trazê-la para casa. Fui segurado por meu pai e alguns amigos. Berrei a plenos pulmões; a dor excruciante que me rasgou por inteiro foi como se arrancassem meu coração com ele ainda pulsando. Depois da última pá de terra, me joguei em cima do túmulo de minha amada. Não aceito perdê-la. Não aceito viver num mundo onde ela não mais existe . A vida, de forma sórdida, retirou meu fôlego de vida e roubou de mim o único motivo que eu tinha para querer ser um homem bom, um ser humano com escrúpulos. Viro mais um gole de vodka na boca, a bebida desce queimando tudo. A ardência não é igual ao que senti no primeiro gole, no entanto sinto-me anestesiado. Sinto o cheiro floral do perfume dela na fronha do travesseiro, choro em desespero por saber das noites de amor que não teremos mais, dos beijos apaixonados que não daremos mais. Ando cambaleante até a porta do quarto e abro. Quero acabar com essa dor que sufoca meu peito, quero minha esposa de volta. Mas, assim que piso fora do quarto, sou literalmente agarrado por alguém. _ Por Deus, filho! Você vai morrer de tanto beber! - a voz chorosa da minha mãe entra pelos meus ouvidos como ecos agudos e estridentes. Tento me livrar do seu agarre, inutilmente. Meu corpo está fraco, há três dias não tenho vontade de me alimentar. Esse gosto amargo de saber que meus olhos nunca mais poderão enxergar os cabelos louros da minha linda mulher, me impulsiona a dar cabo nessa minha existência miserável. _ Me solta, p***a!!! - berro. _ Não! Você não está bem! - diz minha progenitora aos prantos. Cambaleio e acabo derrubando nós dois, minha mãe é menor do que eu, com meus dois metros de altura sou praticamente o dobro do seu tamanho. Me arrasto até o guarda-corpo da escada, penso se uma queda dali pode acabar com minha existência. "Talvez se eu procurar por um ângulo certo, terei êxito no meu intento."- penso. Prevendo minha intenção, só escuto dona Violeta berrando. _ Não! Gerardo, me ajuda! - berra a plenos pulmões, enquanto eu uso o resto de minhas forças para me aproximar mais do guarda-corpo. De repente, sinto meu corpo ser arremessado na parede e chego a derrubar alguns quadros pendurados. _ Volte à sua sanidade, figlio! Encher a cara de álcool não vai trazer a tua donna de volta! - berra nos em meus ouvidos enquanto me segura pela gola da camisa. _Mio padre fa male, il mio cuore fa molto male.( Doi meu pai, dói muito meu coração). - Capisco,il mio ragazzo. Mas a vida não acaba aqui. - fala, enxugando minhas lágrimas. _ Mas para mim acabou! Ela...ela se foi....simplismente se foi....- sussurro sem voz . _ Você é jovem tem só vinte e dois anos ! É um baque profundo tudo que está vivendo agora, mas a dor, mio figlio te faz mais forte. É dela que deves tirar força para ficar de pé , é dela que nascerá um novo homem, mais maduro. _ Faz parar, pai. Faz parar essa dor. Acaba com esse vazio que sinto no peito!- digo, socando com força o lado esquerdo do meu peitoral. - O tempo fará, meu filho. Ele se encarregará de fechar essas feridas. Agora venha, - diz, arrastando-me para um quarto de hóspedes - você precisa de um banho, em seguida comer e descansar. Já o deixei viver seu luto, agora é hora de recomeçar. Sento na beira da cama e miro o chão de porcelanato brilhante. Decido que é hora de me jogar de cabeça nos braços das trevas. Não tenho mais motivos para ser um homem bom e muito menos para renegar a herança podre da minha família. _ Pai, liga para Vittorio. Diz que estou indo para a Itália. O Brasil para mim "já" deu, nunca mais coloco os pés nessa terra maldita! - falo enquanto me levanto cambaleando e entro no banheiro. _ Tome um banho, espere passar o efeito do álcool e depois conversamos. Se seu desejo ainda for esse, eu ligo para o seu irmão. _ Minha opinião não vai mudar, papà. - falo escorado na porta - Eu odeio esse lugar! Odeio! Tudo bem! Agora venha, vou te ajudar com o banho - dizendo isso, meu pai me leva até o box e abre o chuveiro. O jato gelado cai em meu corpo, molhando minhas roupas e ensopando-as. Meu queixo treme e sinto minhas pernas falharem. No entanto, dentro de mim algo já está frio, morto. Algo dentro de mim fechou as portas para nunca mais deixar nenhuma luz entrar. Nunca mais serei o mesmo....
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