" O fogo da alma se apaga quando o amor vai embora, tudo se torna frio e solitário. "
Por: Pietro.
Passaram-se dois dias desde que estive frente a frente com a menina, dois dias em que amargurei por saber que não foi apenas o sexo que me manteve conectado a ela. Tinha sentimentos que eu não consegui "enxergar" a tempo. Ela foi minha, ela disse que era minha e simplesmente eu abri mão da ragazza.
Na noite daquele dia em que presenciei a olhos nus a sua gestação, não sei como acertei o caminho de casa, muito menos como não sofri um acidente. Cheguei cambaleando, sem ter noção do que dizia. Por sorte ou azar, Andrea dormia e não presenciou minha decadência. Como eu explicaria para minha noiva que o motivo de eu estar ébrio é uma morena de um metro e sessenta e cinco, dona dos olhos verdes mais puros que os meus já viram?
Adentrei na sala derrubando e esbarrando em tudo que estava pela minha frente, os senhores Greccos surgiram vindos de não sei onde e ficaram perplexos com o que viram.
Meus pais entraram em desespero quando puxei a arma e a coloquei na lateral da minha cabeça. Eu disse, aos prantos, que não queria mais existir, que não aguentava mais sentir dor.
Dói saber que meu coração ferido se abriu para um novo amor e eu não percebi, porque estava mergulhado no meu luto.
Dói ter consciência de que perdi a chance de voltar a viver e a sentir.
Dói saber que não poderei ter meus próprios filhos.
Dói ver a merda de vida que levo e a que fui reduzido.
Dói saber que não terei os beijos doces que roubei dela.
Minha mãe tentou me demover da ideia de um suicídio, meu pai aproveitou-se de uma distração minha e pegou a pistola da minha mão.
- Que p***a é essa, Pietro? - meu pai perguntou exasperado.
- Ela está grávida de outro, entende? Não são meus! - falei tentando subir as escadas, mas falhei miseravelmente e caí de costas no chão.
- Do que ele está falando, Violeta? - ouvi a voz de Gerardo aumentar alguns decibéis.
_ Da Larissa, ela retornou para a fazenda e grávida, disse que o bebê é do Pietro, mas não tem como ser, não é mesmo? Nossos filhos foram marcados cada um de uma forma pela vida. - minha mãe respondeu, vindo até mim e tentando me erguer do chão. Com muito esforço consegui ficar sentado.
_ Que desgraça! - meu pai exclamou, passando as mãos na cabeça.
_ Tentei matar a Larissa essa manhã, não consegui... eu não consegui disparar contra ela... - falei, apoiando a cabeça em meus joelhos.
_ Dio Santo, Pietro! - minha mãe exclamou, passando a mão em meu cabelo.
Levantei com dificuldade, fui levado para o meu quarto por dona Violeta, meu corpo caiu na cama e na mesma posição ficou até o dia seguinte.
Agora estou dirigindo de volta para a fazenda depois de levar Andrea para o aeroporto. Preciso ficar sozinho.
Ao chegar, estaciono meu carro na garagem e salto do veículo. Subo a rampa de acesso para a varanda da parte de trás. Encontro meus pais conversando sentados à mesa da varanda.
Posso por eles sem paciência para falar coisa alguma.
Quando estou prestes a atravessar o limiar da porta da cozinha, o barulho de frenagem chega até minha audição.
Me viro e vejo Fernando saltar de um carro popular. Ele nos dirige um olhar carregado de raiva.
Dou passos para a frente, retornando alguns metros, enquanto minha mãe se levanta da cadeira em que está.
_ Eu nunca pensei na minha vida que cruzaria com pessoas tão cruéis como vocês - dispara colérico.
Acompanho a chegada dos seguranças querendo tirar o homem à força do local. No entanto, meu pai levanta a mão impedindo a empreitada dos demais. Vejo-os se afastar e ficar só observando o desenrolar da cena.
_ Você, seu cretino está satisfeito com toda a desgraça que causou? Como pode brincar com os sentimentos de uma menina, usar deles para levá-la para a cama? Ser c***l a esse ponto, ser baixo, vil! - grita com o dedo apontado na minha direção - Você não é um homem e sim um moleque sem vergonha, um pulha!
_ Pelo que sei, meu filho não obrigou a sua filha a fazer nada, se aconteceu foi porque ela quis. - meu pai diz calmo, antes mesmo de eu ter tempo de abrir a boca.
_ Larissa é só uma menina! Seu filho é um homem feito, como pode dizer algo assim? Como pode? Vocês são um bando de miseráveis! Seu filho enganou a minha filha, engravidou a garota e teve o desplante de dizer...
_ Eu não engravidei ninguém, p***a! Sou estéril, c*****o! - vocifero, alterado.
_ Estéril é o c****e, como explica a gestação da minha filha? - brada, descompensado.
_ Quer mesmo que eu fale, Fernando? - minha mãe se expressa austera.
_ A senhora não se atreva a levantar um falso contra a Larissa! Vocês marcaram de forma terrível a vida de uma garota inocente. E você, seu demônio em corpo de gente - diz, voltando seu olhar para mim - quase conseguiu o que queria. Minha filha quase morreu durante o parto, meus netos, os seus filhos, estão lutando pela vida, seu maldito! - esbraveja, com lágrimas caindo por sua face de pele queimada pelo sol.
_ Netos??- a pergunta escapole da minha boca sem eu poder conte-la.
_ Sim, você é pai de gêmeos um menino e uma menina!- diz me olhando com extremo rancor.
_ Aqueles bastardos não são meus! - gritei, travando meus punhos.
Fernando riu sem humor e nos olhou. Vi a sombra de um sentimento passar por seus olhos escuros.
_ Eu tenho pena de vocês, pena! Vocês, com todo o seu poder e todo o seu dinheiro, são vazios, verdadeiras esculturas de gelo. Ah, família Grecco, quando vocês se derem conta da maldade que fizeram contra aquela que carregou no ventre o sangue de vocês, será tarde demais. O complô que estão armando para proteger o maldito do filho de vocês não vai esconder a verdade por muito tempo, sabem por quê? Porque ela sempre vem à tona. Ela pode estar concretada no mais profundo do oceano, mas um dia ela surge.
_ A única verdade que vejo é que sua filha é uma golpista barata. Ela tentou ter uma vida melhor aplicando um golpe no meu filho, no entanto, não deu certo. Agora me diga, Fernando, você que instigou a fedelha a dar em cima do meu herdeiro? - meu pai pergunta.
Os olhos do veterinário faiscam. Ele tenta se aproximar, mas dois seguranças entram em sua frente, como se Gerardo precisasse deles para fazer sua defesa.
- Que tipo de pessoas vocês são, monstros? Seres indignos de usarem títulos de humanos! Tenho asco dessa família podre, repulsa de respirar o mesmo ar que vocês!
- Guarde para si seus pensamentos. Não precisamos deles. - minha mãe se pronuncia, caminhando para o meu lado.
_ Quanto a você, canalha, fique longe da minha filha! Deixe-a em paz! Como você mesmo afirma, aquelas crianças a partir desse segundo não têm nada a ver com você, não têm relação nenhuma com vocês! - diz, virando as costas e saindo da nossa presença.
Fernando entra no carro e sai acelerando.
Olho para minha mãe, que está pensativa.
- Não se torture com as besteiras que o funcionário falou, filho, ele está descompensado - dona Violeta diz, após sair do torpor.
- Tudo o que ele disse para mim não tem valor algum - expresso antes de deixá-los sozinhos.
Subo para o meu quarto, sentindo o chão me faltar.
" São dois, ela teve gêmeos." - penso irado, andando de um lado para outro.
- Eles que deveriam ter morrido! Morrido, p***a! - murmuro, trincando os dentes.
Paro de frente para o minibar e pego uma garrafa de uísque, bebo um gole direto do gargalo.
" Ela quase se foi, quase..." - falo mentalmente.
Sento no chão com as minhas costas escoradas na parede. Ela se tornará apenas uma lembrança na minha vida, uma doce e ácida recordação.