A Natália teve que ir para casa às cinco da manhã, a Nina chorou quase o tempo todo e só dormia no meu peito, eu acabei não dormindo, mas como não podia faltar a reunião de hoje, fui me arrumar para ir à empresa, coloquei a Nina na cama mesmo ela chorando. Desci com a bebê no colo, a Josefa estava na cozinha.
— Senhora, pelo visto você já trouxe os seus sobrinhos — a Josefa falou, ela é outra que não leva jeito com criança, mas com certeza é melhor que eu.
— Sim, e já preciso ir, as crianças estão no quarto de hóspedes, por favor mantenha a casa em perfeito estado, a bebê tem uma consulta no pediatra, e acredito que poderia levar também a outra pequena, a Joyce lhe avisará o horário, e o motorista as levaram até mim, e por favor quero as impecáveis.
— Sim, senhora, mais alguma coisa? — ela pergunta, e a entrego a Nina que não parava de chorar um minuto. — Senhora, suponho que ela não gostou de mim.
— Pequena, você ficará com a Josefa, eu preciso ir trabalhar meu amor — a cara de choque da Josefa era nítida, e só aí notei como eu chamei a menina.
Mesmo que eu não tenha dormido e estando cansada e irritada, mas quando olho para ela, sinto uma certa paz, e o fato dela gostar de mim e de me querer, acredito que facilita, afinal, ela está ali chorando só para ficar comigo.
Resolvi ir logo antes que piorasse, peguei a bolsa e desci, o motorista estava a minha espera, ao entrar no carro coloquei meus óculos de sol, tenho que focar no trabalho, eu não vou perder está promoção.
Cheguei na empresa, a Joyce estava a minha espera com um café forte em uma de suas mãos.
— Bom dia, quer repassar a sua agenda? — ela perguntou e fiz que sim entrando no elevador. — Às 7:30h tem á reunião com a equipe de “marketing” sobre o novo projeto, às 10:00h você tem uma videoconferência com os portugueses sobre a campanha.
— Tenho a consulta no pediatra às 13:30, tem algo neste horário? — perguntei já entrando na minha sala.
— Não, você só tem uma reunião com a diretoria às 16:00h, eles querem ver o andamento da campanha.
— Certo, se eu precisar de algo é só me chamar — falei e ela saiu e comecei a organizar umas coisas antes de ir para a reunião, meu dia hoje está tranquilo, será fácil levar as meninas para o pediatra.
Meu celular começou a tocar e é da minha casa, achei estranho, a Josefa nunca ligou para mim, ela sabe que odeio ser incomodada no trabalho, ignorei a primeira ligação, mas ela voltou a me ligar, então tive que atender.
— Espero que seja importante — falei, podia ouvir o choro desesperado da Nina e outros choros.
— Socorro, eu não consigo, a bebê não para de chorar, o Pietro não quis saber do mingau de aveia, e jogou tudo no chão, e a Polly acordou e não come nada, ela está chorando querendo a mãe, eu não posso mais, eu não consigo, eles são uns monstrinhos, eu não sei o que fazer…
— Tenho uma reunião agora, não posso fazer nada.
— Vou me demitir se você não fizer nada senhora.
— Eu não posso sair agora, está situação é temporária, eu vou procurar uma babá, não se preocupe, só deixe as menores arrumadas às 12:30h, vou passa para pega-las, só deixe a casa inteira.
— Sim, senhora, mas se você não conseguir uma babá até amanhã, acho melhor não esperar por mim.
— Não me ameace Josefa que te colo na rua, mas acharei uma babá — falei desligando.
Chamei a Joyce na minha sala, eu tenho que focar na reunião, a conta da Máster-cacau estava em jogo e não podia perder, ela bateu na porta e pede para que ela entre.
— Eu preciso de uma babá para ontem, ela precisa ser rígida, e que consegua domar as ferinhas que estão na minha casa.
— Eles não são tão ruins, são só crianças.
— Diga isso á Josefa, e verá o desespero, eu não vou dormir por causa daquele bebê, então arranja logo uma babá.
— Certo, eu vou procurar agora - ela saiu da sala, e tentei pensar unicamente no negócio que tinha que fechar na reunião.
Foi bem produtiva a reunião, e suponho que vou conseguir fechar a campanha, a Josefa me ligou umas dez vezes, mas não atende já sabendo ser para reclamar das crianças, então estava evitando, estou terminando umas questões do contrato da Máster-cacau, quando o Felipe abriu a porta da minha sala.
— Não sabe bater na porta? — perguntei para ele, que sorrir com aquela cara de deboche.
— Sei sim, só queria dizer que fechei o contrato com Music som, acredito que ser o CEO está no papo para mim.
— Então você veio se gabar, não é infantil para um homem da sua idade — falei e meu celular voltou a tocar, mas apenas desliguei. — Se você não tem o que fazer, eu tenho.
— Claro, você não quer perde o contrato com a Máster-cacau, mas duvido muito que você consiga, eles rejeitaram cinco empresas de publicidade, por não terem achado o que procuram, e você não tem nada de especial.
Meu celular voltou a tocar, não estava afim de conversa com nenhum dos dois, mas tive que escolher.
— Sei que você só veio me diminuir, mas estou realmente ocupada e preciso atender está ligação.
— Pode atender, eu espero.
— Eu não misturo minha vida pessoal com o meu trabalho, e pelo visto você já fez tudo que veio fazer.
— Até parece que você tem uma vida fora destas paredes, claro que você não daria conta de ter uma família e trabalhar, eu nem entendo para que vocês mulheres tentam, afinal sabemos que a qualquer momento você pode querer ser mãe e o seu desempenho vai lá para baixo.
— Olha você é um machista desprezível, mas eu não cairei no seu joguinho, sim, eu sou uma mulher, e dai se tenho filhos ou não, você tem cinco e isto é uma loucura, mas eu só quero que você se retire — pedi e minha chamada já tinha caído, eu estou com muita raiva e cansaço que fiquei em pé, e fui até a porta, meu celular voltou a chamar, atendi mesmo com ele ainda ali.
— Espero que seja caso de vida ou morte — falei atendendo.
— Tia, a senhora Josefa desmaiou, eu não sei o que fazer — a Isis falou aflita.
— Já estou indo — falei pegando minha bolsa, ainda no celular. — Tem muito tempo? — perguntei andando, a Joyce estava conversando com alguém no corredor, logo que me viu passa, veio correndo atrás de mim.
— O Pietro estava brincando com as bolinhas de gude, ela escorregou nelas e caiu, e não acordou até agora — ela falou e pude ouvir os choros das crianças.
— Eu vou pedir uma ambulância, já estou indo — desliguei o celular.
Comecei a andar mais rápido e a Joyce entrou junto comigo no carro.
— O que aconteceu? — ela perguntou ao ver o meu desespero ligando para a SAMU.
— O que aconteceu foi estas crianças, você acredita que a Josefa pode está morta por causa de uma brincadeira, eu estava tentando ser boazinha, mas depois desta acabou, estas crianças vão aprender a ter limites.
— Calma, eles só são crianças, deve ter sido um acidente.
— Eles precisão de limites, espero que tenha encontrado uma babá…
— A agência vai mandar uma amanhã — ela falou e já liguei para a SAMU.
Cheguei no meu apartamento com eles, e o local estava uma bagunça, tinha comida no chão e bolinhas para tudo que é lado.
Eu estava em choque com aquilo tudo, a Nina estava chorando no braço da Isis, o Pietro estava debaixo da mesa tremendo e se balançando enquanto chorava, a Polly quando me viu correu e agarrou minhas pernas toda melada de farinha.
— Ela morreu? — ela perguntou assustada.
Não consegui falar nada, nem tirei ela de perto de mim, estava assustada, o bebê se jogava para mim, os paramédicos fizeram os primeiros socorros, eles colocaram ela na maca para o transporte, e a bebê chorava muito, me acordando, peguei ela no colo, que já foi procurando o meu seio, a Josefa acordou nesse momento.
— Meu braço esta doendo — ela falou com a voz roca.
— Vamos levar você para o hospital — um dos socorristas falou e olhou para mim — Você não deveria deixar sua mãe sozinha com os seus filhos — ela falou e eu estava balançando o bebê.
— Ela é minha governanta, dia de quinta a moça da limpeza não trabalha, e eu estou sem babá, mas não sei porque estamos perdendo nosso tempo, ela tem que ir para o hospital — falei e peguei a mão da Polly — Vamos logo, vocês dois, quando voltarmos terei uma conversa séria com vocês — falei olhando para o Pietro e o mesmo se levantou, não podia deixar eles sozinhos, então íamos todos. Levei eles para o meu carro,e a Joyse foi com a Josefa. A bebê não parava de chorar e a Polly também, eu já estava sem paciência para tudo aquilo, e quando paramos no sinal vermelho eu estourei.
— O QUE VOCÊS TEM NA CABEÇA? A SENHORA JOSEFA PODIA ESTAR MORTA…
— Foi um acidente — a Isis falou em um sussurro.
— A mamãe não gritava — ouvi a Polly falar choramingando.
— MAS EU NÃO SOU A MÃE DE VOCÊS, E EU GRITO, EU GRITO PORQUE ESTOU COM RAIVA, VOCÊS QUASE MATARAM A JOSEFA.
— FOI UM ACIDENTE — a Isis gritou.
— FOI UM ACIDENTE? A BAGUNÇA NO MEU APARTAMENTO, VOCÊS ESTÃO DE FAVOR…
— Você nem perguntou se queríamos vir, eu tenho uma vida lá, eu não quero ficar aqui — a Isis falou.
— Sinto muito, mas a vida não é como queremos, eu não posso parar á minha para vocês voltarem para aquele fim de mundo. Então vocês se comportem ou terei que…
— Vai fazer o quê? Nós batermos? Nós castigarmos? — a Isis falou.
— Não me testa mocinha, que se vocês não se comportarem eu vou devolver vocês, agora eu não quero ouvir nada…
— Então dá um jeito da Nina parar de chorar — a Isis falou
— Você não acredita que estou tentando, mas ela não esta com fome e não quer comer, se não notou eu não sei nada sobre bebês e vocês também não estão ajudando, e não me responda mocinha, eu sou tia de vocês não aprenderam a respeitar os mais velhos não — falei já histérica e o resto do caminho até o hospital foi em silêncio.
Estava com as crianças e a Joyce esperando notícias e a bebê não parava de chorar, já estava ficando louca.
— Senhora se quiser levar á bebê ao médico enquanto esperamos notícias da Josefa não tem problema, eu olho as crianças…
— Obrigada, eu estava preocupada com o fato dela não comer, vocês três se comportem — falei pegando a minha bolsa e a bebê.
A ala pediátrica fica do outro lado do hospital, era tão estranho esta ali com outras mulheres e seus filhos, nunca me imaginei nessa situação, mas tive que respirar fundo.
Estava esperando á vez da Nina, que não parava de chorar querendo o seio e muitas mulheres estavam me olhando torto, eu odeio isso e eu só queria que a Nina parasse de chorar.
— Nina Alcântara — a secretaria da pediatra chamou e me levantei indo até onde ela estava, a Nina já esta vermelha de tanto chorar.
— A doutora já atenderá vocês — ela falou e olhou para a bebê — O que foi princesa, porque você esta chorando? — ela perguntou com aquela vozinha de bebê, e a Nina só fez chorar mais alto e começo a balança-la.
— Posso entrar com ela?
— Pode sim, e desculpa — nem terminei de ouvir e já fui entrando no consultório, a médica estava no computador, mas assim que ela ouviu o choro do bebê olhou para a porta.
— Boa tarde — falei e ela pediu para me sentar
— O que aconteceu com essa pequena, mamãe?
— Eu não sou mãe dela…
— Só atendemos as crianças com os pais…
— Sou a responsável, á mãe dela era minha irmã, ela faleceu á menos de 48 horas em um acidente de carro com o marido e desde esse momento á Nina não come, ela só faz chorar. Ela ainda mama no peito e não quer pegar a mamadeira, eu já testei todos os b***s, ela não come nada e já estou desesperada.
— Se acalma, eu vou examiná-la e vamos pensar no que vamos fazer, você coloca ela aqui para eu poder começar — e o choro só aumentou
Ela fez todos os exames e fiquei esperando.
— Ela está um pouco abaixo do peso, mas como você mesma falou ela não esta se alimentando, eu sou especialista em lactação, então preciso saber ate onde você esta disposta - ela perguntou e ajeitei a bebê no meu colo.
— Para ser bem sincera estou disposta a fazer qualquer coisa para ela parar de chorar, eu estou ficando louca e ainda tenho mais três sobrinhos para me deixar louca — falei e a bebê começou a puxar minha blusa.
— A senhora já ouviu falar em lactação? — ela perguntou e a minha cara com certeza respondeu por mim — Como ela não pega o bico da mamadeira, este procedimento é feito com uma sonda no seu mamilo — ela começou a me mostrar o procedimento para eu saber como seria, ela também me explicou se eu quisesse amamentar ela poderia começar o tratamento. Fiquei de pensar, mas resolvi testar, eu precisava que ela se acalmasse.
Assim que acabou a consulta fui ver como a Josefa estava, por sorte ela só quebrou o braço esquerdo e já vi que agora mais do que nunca preciso de uma babá, e de uma escolta.
— Joyce você pode ir para o meu apartamento com o motorista você leva a Josefa e as crianças.
— Mas não dá para todos irem, você pode ficar com os menores? — ela perguntou receosa
— Certo, vem Polly. Vou farmácia, tenho que comprar umas coisas.
Fui para o meu carro, coloquei a Nina no bebê conforto e como sempre aquele chorroro, coloquei a Polly e antes dela chorar dei a chupeta, pelo menos uma não ficará chorando. Fui para a farmácia mais próxima, e outro sacrifício tirar às duas do carro para entrar na farmácia, assim que entrei comprei tudo que os médicos pediram e quando me dei conta não estava vendo a Polly.
— Polly, Polly — chamei procurando ela e olhei para o farmacêutico a minha frente — Você viu a menininha que estava comigo?
— A sua filha esta ali — ele falou olhando mais a frente
— Obrigada, quando deu tudo? — perguntei já pegando a carteira.
— Polly, vem para cá agora — chamei ela que veio com um pacote de M&M.
— Quero doce — ela pediu.
— Tudo bem, mas não saia de perto de mim, eu estou ficando louca. Por favor. Nina, para de chorar um pouco.
— Senhora, deu 980,00, crédito ou débito? — ele perguntou.
— Débito — falei aproximando o cartão para andar mais rápido.
— Vocês são tão lindas, como a mãe de vocês — ele falou sorrindo.
— Obrigada, a minha mãe é a mulher mais linda do universo — a Polly falou com um sorriso triste.
— É mesmo — ele falou e eu peguei as sacolas.
— Vamos Polly, a Josefa precisa dos remédios, a Nina precisa comer, e eu tenho que voltar para o trabalho — falei puxando ela para sairmos, e fomos para outra sessão de tortura, que era colocar as crianças no carro.
O caminho até o apartamento foi de muito choro, eu estou quase chorando também, mas não posso desistir, eu dou conta, eu tenho que dar conta, por ela, pela Poliana.