Pré-visualização gratuita a Nova Pediatra do Filho do CEO
Helena Costa respirou fundo antes de empurrar a porta de vidro da clínica particular. Seus tênis brancos estavam impecáveis, mas seu coque já dava sinais de batalha contra o vento matinal. Aquilo era tudo o que ela precisava: um novo começo, mesmo que fosse como médica substituta por uma semana.
— Sorria, Helena — murmurou para si mesma, ajeitando o jaleco. — Você ama crianças, ama medicina e está totalmente preparada para lidar com qualquer situação.
Ela só não sabia que a "situação" do dia era um mini furacão de cinco anos que respondia apenas em Libras e que havia traumatizado dois pediatras no último mês.
A recepcionista, uma moça ruiva de aparência simpática, levantou os olhos do computador.
— Doutora Helena? Ele já chegou. Sala 3.
— Ele?
A ruiva apenas apontou com o queixo, como se dissesse: “Você vai ver.”
Helena atravessou o corredor decorado com desenhos infantis e abriu a porta com um sorriso profissional no rosto. Foi recebida por uma cena digna de filme de comédia: um homem de terno tentava impedir que o filho escalasse uma estante de livros como se fosse um parque de diversões.
— Cuidado! — o homem disse, segurando o menino no ar no último segundo. — Luca! Não estamos no Cirque du Soleil.
O garoto riu silenciosamente. Literalmente. Nenhum som saiu, só um sorriso largo e o brilho zombeteiro nos olhos.
Helena piscou. Era a primeira vez que via um menino rir com o corpo inteiro sem emitir nenhum som.
— Boa tarde — disse ela, finalmente entrando por completo. — Doutora Helena Costa. Estou substituindo a Dra. Silvia essa semana.
O homem virou-se, ainda segurando o filho no colo. Era alto, elegante e tinha aquele ar cansado de quem nunca tira férias. Os olhos escuros e a barba bem feita completavam o pacote CEO-viúvo-misterioso que toda comédia romântica de respeito exige.
— Dante Moretti — disse ele, apertando a mão dela com firmeza. — E este é Luca. Cinco anos. Hiperativo. Mudo. E profissional em espantar pediatras.
Luca olhou para ela e, com movimentos rápidos e precisos das mãos, sinalizou: “Você também vai fugir?”
Helena sorriu.
— Talvez. Mas só se você tentar me morder ou me obrigar a subir nessa estante.
Luca arregalou os olhos. A maioria dos adultos não respondia. Não daquele jeito. Ele lentamente levou os dedos ao queixo e sinalizou: “Você entende?”
— Entendo. E gosto — respondeu ela, também em Libras.
Foi o suficiente para que ele sorrisse, dessa vez com uma pontinha de respeito. Dante, por outro lado, pareceu surpreso.
— Você fala Libras?
— É claro. Fiz parte de um projeto com crianças surdas durante a residência. Foi a melhor parte da faculdade. E… talvez a única que realmente me preparou pra lidar com pequenos terremotos.
Dante arqueou uma sobrancelha, divertido.
— Isso é um milagre. Luca ainda não deixou nenhum médico examiná-lo sem tentar fugir, esconder-se ou fazer parecer que está possuído.
— Você me contou que ele não fala, mas ele ouve normalmente?
— Perfeitamente. Não há impedimento físico. Ele só… nunca quis falar. Desde que nasceu.
— Algum diagnóstico?
— Nada conclusivo. Um especialista disse que é seletivo, outro disse que é trauma, outro que ele só tem “forte personalidade”.
Helena sorriu para Luca, que agora havia se sentado na mesa de exame, observando tudo com atenção.
— Bem, personalidade forte eu confirmo — disse ela, pegando o estetoscópio.
Para surpresa geral, Luca estendeu os braços para ela espontaneamente.
— Uau — murmurou Dante. — Você venceu o primeiro nível. Isso nunca aconteceu tão rápido.
— Sou boa com crianças difíceis. E com adultos difíceis também, caso esteja se perguntando.
Ele deu um meio sorriso, mas não respondeu.
Enquanto fazia o exame, Helena mantinha contato visual com Luca e ia sinalizando cada passo. “Isso pode estar frio. Respira fundo. Agora segura. Solta.” Ele a seguia com confiança.
Dante observava em silêncio, cruzando os braços. Era estranho ver o filho se conectar tão rápido com alguém. Ainda mais uma desconhecida.
— Está tudo normal — disse ela, terminando. — Batimentos fortes, respiração limpa, nada incomum.
— Isso nunca foi o problema — disse Dante. — É a parte emocional. As crises. O silêncio. A teimosia.
Helena olhou para Luca, que agora a encarava com uma seriedade quase adulta. Ele sinalizou: “Ele está exagerando.”
Ela riu.
— Ele disse que você exagera.
— Eu entendi — respondeu Dante, surpreso.
— Também fala Libras?
— Não. Mas já consigo entender algumas coisas só de conviver com ele. Sou autodidata f*****o.
Helena olhou para os dois. Um pai que se esforçava para entender o filho, mesmo que fosse um CEO ocupado. Um menino que não precisava de palavras para ser compreendido. Aquela conexão… era bonita. Mesmo se viesse embalada em caos.
— E então, doutora? Vai aguentar mais de uma consulta?
Ela tirou os óculos, apoiou-os na cabeça e cruzou os braços com um sorrisinho.
— Se ele prometer não me fazer escalar estantes, acho que posso durar mais que os outros.
Luca levantou a mão e fez um juramento mudo. Depois sinalizou: “Você pode voltar semana que vem?”
— Posso, sim — respondeu Helena, e então olhou para Dante. — A não ser que o senhor CEO aqui me dispense.
— Depois de ver isso? — Dante descruzou os braços, parecendo menos tenso. — A senhora está oficialmente contratada… por tempo indeterminado.
Helena arqueou uma sobrancelha.
— Olha, nem precisei mandar currículo.
Luca gargalhou silenciosamente. E Dante… quase sorriu de verdade.