Cada um sabe o que temer diante a vida.
Autor desconhecido
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Lux passou o pano pelo corpo e mais uma vez voltou a enxaguar o pano dentro do balde, era um pedaço do tecido mais limpo que ela havia encontrado, era a fronha do travesseiro, era um tecido espesso. Olhou para o lençol dobrado, era como uma tanga agora, era o que ela iria usar até o vestido secar, enquanto estava dependurado dentro do seu quarto.
A cama estava sem lençóis, estava apenas coberta com uma manta de uma cor escura, cobrindo o colchão velho.
Ela deslizou as mãos até chegar em suas costas e sentir a cicatriz fechada e a marca de saída das asas fechadas, não tinha o vestígios verdadeiro e claro do brotamento delas de novo. Seu peito se apertou sem expectativa. O que seria dela dali em diante se ninguém aparecesse. Ela não sabia.
Puxou o lençol e colocou no corpo, com as amarras que ela havia ajeitado, no fim havia ficado quase bom, se sentia sem algo útil para ela é o corpo miúdo, tinha duas amarras que passava pelo pescoço e que dava amarrar, deixando o vestido colocado e espesso pelo corpo, até a altura dos joelhos.
Já era tão tarde, mas depois de mais um dia sem banho de verdade e sem roupas limpas, ela precisou fazer algo, porque não era algo muito legal ficar suja e com odor do próprio corpo. Ela teve que fazer o mínimo de barulho, porque naquelas horas da madrugada todos estavam dormindo, enquanto ela estava parcialmente no escuro, ela estava usando tão pouco do seu brilho que parecia uma vela que estava quase no fim.
Ela suspirou fundo e se aproximou da cama, se sentando, olhando para as mãos e sentindo uma sensação melhor e mais leve dentro de si, ela fechou os olhos e sentiu o calor do corpo aumentar e logo que abriu os olhos, ela viu o brilho um tanto mais forte.
Ela deu um sorriso, mas nesse momento escutou um som alto, como se algo estivesse se quebrando perto dela, o susto foi grande e ela parou de brilhar e ficou quieta, olhando fixamente para a porta.
Ficou alguns segundos em silêncio, mas novamente o barulho de algo a fez saltar da cama e naquela altura ela ficou imóvel, abriu um pouco a porta do minúsculo quarto abaixo das escadas e pela fresta da porta, ela teve a visão de toda a sala do capitão, estava escuro, ali era ligado com o quarto dele, com a sala dos tesouros e a sala de jantar, como também era ligada a escada até a cabine do capitão que era onde somente ele ficava para comandar o navio Roger, abaixo dessa escada ficava um quarto improvisado, como um calabouço, uma prisão, e Lux estava ficando ali presa, atrás da porta do quarto minúsculo tinha a sala do capitão.
Aquela sala era ampla e havia os quadros sombrios na parede, as duas poltronas de couro n***o e logo o sofá n***o e com as duas almofadas de pele de animal, tudo ao tom de um vermelho vinho, acompanhado de um escuro e logo os castiçais de vela, que quando acesos iluminava tudo. E logo tinha o piano, foi nele que viu a sombra do homem.
Lux identificou Bonny, ele estava inclinado sobre o piano fechado e tinha uma garrafa, que o capitão apertava entre a mão direita, mão que tinha o anel de pedra vermelha, ela viu a outra mão com o gancho, apoiado sobre o piano também, como o próprio rosto. Parecia fúnebre e sombrio. Deprimente. Sarcástico e triste. Aquele era um ponto alto de Bonny, a fada não conseguia olhar para o rosto dele pelo ângulo, mas via os cabelos negros soltos.
Ela desceu para as costas.
Ela ficou olhando por aquele vão da porta por algum tempo, até que o corpo se inclinou e ficou ereto diante o piano de mogno e levantou a p******o das teclas e com o gancho, ele tocou a primeira nota.
A nota soou por todo o navio, soando por todos os cantos do navio que estava em alto mar, logo veio a segunda nota e depois a melodia de notas entrou dentro de qualquer lugar do navio e Lux não se moveu, ela não conseguia.
Bonny estava enaltecido e olhava fixamente para a garrafa enquanto seus dedos e sua garra deslizava sobre as notas em ritmo acelerado, então, tudo foi suavizado.
A melodia foi suavizada de maneira brusca e pesada diante ele mesmo e diante Lux, que estava com a mão na boca, enquanto reconhecia a melodia e iniciou um dúvida na fada, por qual motivo Bonny, um homem sóbrio e frio, que só tinha prazer em fazer maldades, tocava algo tão suave como uma melodia daquelas?
No momento que ela foi fechar a porta a risada diabólica do homem soou alta, fazendo qualquer barulho sumir, ficando apenas aquele som, não era muito agradável, porque tinha um rouquidão, tinha um grave diferente e teve o silêncio.
- O que está fazendo acorda por essas horas Lux, no acaso está me espionando? - Ela deu um passo para trás com a voz e fechou a porta e ficou parada, não se moveu, não se deitou para não criar barulho.
Ficou imóvel e foram alguns minutos, até que a porta se abriu e a figura alta e grande ficou na sua frente, dando um passo, se abaixando e entrando no pequeno quarto debaixo das escadas, entrando um pouco de luz pela porta totalmente aberta.
- Sabia que tinha sentindo o seu cheiro - O sorriso novamente estava ali.
- Me desculpe - Ela se afastou mais.
- Você fugiu, isso é bom, demonstra respeito - O deboche e o cheiro de álcool apareceu.
- Ou medo - Ela retrucou.
- O que você fez com você? O que é isso que você veste?
Ele se inclinou e olhou para o tecido amarrado no corpo dela e moveu seu olhar pelo cubículo, olhando o vestido verde dependurado, na cama uma manta cobrindo-a, e o lençol no corpo da garota pequena e que estava com os cabelos soltos e molhados, olhou para os olhos dela e ergueu uma mão, até tocar no cabelo dela.
- Lindinha, você ficou limpinha, que gracinha - Deslanchou o deboche de novo para ela.
- Precisa ir - Foi tão cautelosa, que Bonny se afastou um pouco, embora não foi tanto, pela questão do quarto minúsculo não ajudar.
- O que acha que estava fazendo?
- Ouvi barulhos.
- Era eu quebrando algumas garrafas - Ele falou baixo, mesmo assim a voz grave estava ali, diferente. - Se eu pegar você fazendo isso de novo, eu tranco a porta e você só sai quando eu mandar, ouviu?
Ameaça.
Opressão.
Era medonho.
- Sim, eu ouvi.
- Está com saudades do moleque, não está? Do guardião das fadas- Falou Bonny, se referindo com ironia do garoto que guardava a ilha e que ele detestava.
- O que quer provar?
- Pobre Lux, foi deixada - Bonny sorriu, como um d***o. - Deixada, que coisa triste e lamentável, está magoada o suficiente?
Ela sentiu a respiração pesada e desajustada.
- Você deve me soltar antes que venham atrás de você e seus homens, sabe que essa briga sempre tem um vencedor Bonny.
- Eu sei - Ele se aproximou da porta, ignorando a fada e segurando a maçaneta, antes de ir, ele olhou para a fada loira, vendo ela o encarar. - Agora não se trata de vencer Lux, se trata de ter, e eu tenho você.
Ele tinha razão, Lux sabia que Bonny tinha a maldita razão.
Mas ela ainda tinha esperança que alguém iria achar ela.