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Ferrugem
O meu pai sempre me disse que ele morreria se a gente se unisse com as outras facções e, no fundo, eu sabia que isso era verdade. Mas eu me apaixonei pela Penélope e me deixei levar, e o meu pai tomou três tiros nas costas por minha causa. Eu nunca vou me perdoar pelo que aconteceu na Rocinha há um ano. Eu me afastei de todas as atividades ligadas ao tráfico de drogas e vim viajar. Eu precisava colocar a cabeça no lugar; na verdade, eu precisava me perdoar pelo que aconteceu, mas eu não consigo. O Rio de Janeiro virou um verdadeiro caos e a única coisa que eu consigo pensar é na minha mãe e nos gritos de dor dela em cima do corpo do meu pai.
Depois daquele dia, eu não consegui encarar ela novamente porque eu consigo ver a dor nos olhos dela, e a culpa tomou conta de mim de uma maneira que eu não consigo voltar atrás. Eu nunca mais vou ser o mesmo. Se ele tivesse morrido em combate, tudo bem, eu iria aceitar, porque a gente vivia em uma guerra. Mas eles não podiam ter aceitado um acordo de paz para matar ele de forma covarde pelas costas.
Às vezes eu penso na Penélope, porque eu ainda estou apaixonado por ela, mas eu sei que não posso ir atrás dela e nem posso voltar atrás em relação ao nosso término, porque foi o amor que eu senti por ela que fez o meu pai aceitar um acordo de paz, e foi esse mesmo amor que arrancou a vida dele. Eu sempre falei que a pepeca do m*l da outra facção iria acabar com a minha vida, só que eu não sabia que ia ser de uma forma tão pesada assim. O Sanguinário assumiu a facção no meu lugar, mas, ao contrário de mim, o que tomou conta dele não foi a culpa, e sim a raiva. E, depois de um longo tempo de luto, ele resolveu atacar. Ele disse para mim que nenhum deles vai ficar de pé até eles entregarem a cabeça de quem atirou nas costas do meu pai. Ele me ligou várias vezes implorando para eu voltar, mas eu não quis. Por enquanto, eu ainda não consigo encarar a minha mãe e nem os meus aliados, e tudo isso porque eu me apaixonei. Olha como a vida é injusta.
Sanguinário
Um ano se passou desde a morte do meu pai e eu confesso que sofri muito no começo, não porque o meu pai foi morto, mas sim porque eles foram covardes. Eles aceitaram um acordo de paz e atiraram no meu pai, e na minha mãe. A minha mãe não morreu por sorte, e o meu pai... bom, eu sinto muito. Chorei várias e várias noites me perguntando quem teria coragem de fazer isso, e a verdade é que todos eles teriam. E é por isso que eu quero sangue, e eu só vou parar quando a cabeça do assassino do meu pai estiver nas minhas mãos. Sim, o meu pai matou muitas pessoas do lado deles, e se eles tivessem matado meu pai em confronto, eu iria aceitar. Isso é uma guerra, só que eles aceitaram um acordo de paz para poder matar ele de forma covarde.
Maitê:Eu posso saber para onde você está indo? Tem dias que você não para em casa. Você está muito inquieto. Eu não consegui falar com seu irmão ainda. Será que você pode pedir para ele me atender? Ele já está há muito tempo sem falar comigo. Eu fico preocupada. Eu sou mãe de vocês.
Sanguinário: Ele ainda está se sentindo culpado, mãe, e eu não sei quando esse sentimento vai passar, mas uma hora ou outra ele vai voltar para casa e vai voltar para o posto dele. Bom, eu estou indo começar a minha vingança. Até agora eu esperei porque todos nós estávamos sofrendo muito, mas agora chegou a hora de eu matar todos aqueles desgraçados. Ou eles entregam a pessoa que atirou nas costas do meu pai, ou eles vão implorar pela vida deles. De uma forma ou de outra, eles vão me pagar por tudo que aconteceu. Eu não sou o Ferrugem. Eu não vou deixar a culpa tomar conta de mim e eu não vou sair do meu morro para poder me livrar da sombra do meu passado. Eu vou lá e vou acabar com a vida de todos eles. Eu mandei reforçar a segurança aqui no morro e quero que a senhora fique dentro de casa com uma arma carregada, de preferência, porque eu vou para cima deles e eles com certeza vão voltar para cima de mim. Mas não se preocupe, eu só saio de lá com a cabeça de um deles ou com a cabeça do assassino do meu pai.
Maitê: Nós não vamos descobrir quem matou o seu pai. Eles não vão entregar um deles, até porque o seu pai tinha errado muito.
Sanguinário:Se eles não entregarem o culpado, eu vou acabar com todos eles. Eu não ligo se tiver que matar todo mundo. Eu vou começar tomando a Babilônia para eles entenderem que eu não estou de brincadeira.
Maitê:Eu estou preocupada. Eu não quero perder mais ninguém da minha família e, por mim, a gente deixava essa guerra para lá. Mas eu confesso que também quero a cabeça do desgraçado que acabou com a vida do seu pai. O pior é que ele também atirou nas minhas costas e eu sei que era um homem, mas eu não consegui me virar para ver o rosto.
Sanguinário: A senhora não precisa se preocupar com isso, porque esse rato não vai conseguir se esconder no bueiro dele durante muito tempo. Ou será que ele é tão covarde assim que vai conseguir ver a família dele sendo destruída por mim sem fazer nada? Ele deveria se entregar, porque assim eu mataria só ele, mas já que ele não vai, eu vou matar todo mundo.
Maitê: Toma cuidado.
Sanguinário: Não se preocupe, eu estou preparado para essa guerra, mas eles com certeza não estão.
Perigosa
O ano que se passou foi o pior da minha vida. A minha família, que antes já não era muito unida, se separou de vez. As três facções se dividiram porque um ficou acusando o outro, e até hoje ninguém sabe quem matou o BN. Depois da saída do Bagdá da facção, as coisas ficaram um pouco estranhas, e algumas separações vieram de forma muito aleatória. Eu ainda estou com o Miragem e gosto muito dele; ele me trata como uma princesa. Às vezes, ele some, mas sempre me dá satisfação e manda mensagens avisando que vai viajar ou que vai fazer alguma coisa. É uma relação muito diferente da que eu tinha com o Rei, porque agora eu consigo dormir em paz. Não fico desconfiada e nem com medo de ser corna; eu simplesmente durmo sem me perguntar se tenho que ficar preocupada se ele está transando com outra pessoa, porque essa preocupação não existe.
Cachorrão: Acabei de fazer a troca de plantão e também fiz a contabilidade. Vamos almoçar em casa.
Perigosa:Vamos sim. Sabe como estão as coisas em relação às outras facções? Eu ainda fico com medo deles atacarem a gente. Eu sei que nós ficamos juntos durante muito tempo, mas agora é cada um por si e Deus por todos.
Cachorrão: Eu acho que ninguém está afim de uma guerra, até porque, se estivessem, a gente já tinha lutado. Já se passou um ano desde que tudo aconteceu.
Perigosa:E é por isso mesmo que eu estou com medo. Está tudo calmo demais; nem problema com a polícia nós temos tido.
Cachorrão: E eu espero que continue assim, até porque a polícia é muito chata.
Saímos da boca para almoçar em casa e passamos a tarde toda com os nossos pais. Quando nós estávamos voltando para a boca, os fogos começaram.
Peguei o meu rádio e perguntei quem estava entrando. Confesso que tremi quando escutei que era o Sanguinário.
Falcão: Droga, isso não é uma coisa boa. Será que ele acha que foi a gente que atirou no pai dele?
Perigosa: Eu não sei o que ele quer aqui, mas nós não podemos deixar ele subir, até porque, se ele subir, ele vai tomar a Babilônia. E isso não vai acontecer, não na minha gestão.
Gaby: Vamos pedir reforços para as favelas que estão do nosso lado e vamos lutar até o fim. Mas eu quero que todos vocês tomem cuidado; eu não quero ter que enterrar ninguém.
Cachorrão: Não se preocupe, coroa. Tá tudo sob controle. O que nós não podemos é perder a Babilônia, não para esse cara.
**Gaby:** É melhor perder o morro do que a vida. Eu prefiro todos vocês juntos do que alguém morto. Prefiro perder a Babilônia do que perder um filho, um marido. Prestem bem atenção: eles estão com raiva por causa da morte do BN e são perigosos.
Perigosa: Eu também sou.
Fomos correndo para a boca e pegamos os coletes e as armas. Fomos descendo atirando. Eu subi na laje para melhorar a minha mira, e eram muitos homens. Eu tomei um susto com a quantidade, então segui o conselho da minha mãe e pedi reforços. Eles iam demorar alguns minutos para poder chegar, então a gente teria que sustentar até eles aparecerem.
O silêncio tomou conta do morro e eu me assustei. Eles pararam de atirar, mas os meus homens não. Mesmo assim, estava silencioso demais; pelo menos foi isso que eu pensei até ouvir a primeira explosão. Quando eu vi as casas caindo, eu tomei um susto e pensei que os moradores tinham morrido, mas consegui ver eles correndo.
Do nada, eu ouvi o alto-falante da rádio do morro e tomei um susto.
Sanguinário:Moradores da Babilônia, eu vou dar 30 minutos para vocês saírem do morro sem tomar um tiro. Os meus homens não vão atirar, mas nós vamos explodir todas as casas aqui dentro para a gente chegar no nosso objetivo. Então, eu quero que todos vocês vão em direção à barreira o mais rápido possível, porque se esse tempo acabar, eu vou matar todo mundo. Eu não estou de brincadeira e os líderes da Babilônia não vão conseguir defender vocês. Eles não têm homens o suficiente e não têm a mesma sede de sangue que eu.
Rádio
Perigosa: Eu quero todos os vapores próximos à rádio. Esse desgraçado está lá e nós temos que acabar com a vida dele o mais rápido possível. Se ele morrer, o confronto acaba. Então, vamos!
Comecei a correr para cima em direção à rádio e vi o meu irmão e o meu pai. Estava acontecendo uma troca de tiro frenética ali e ouvi o Sanguinário de longe. No meio de toda essa situação, ele estava rindo.
Sanguinário: Eu vou dar a última chance para vocês se renderem. Depois disso, eu vou matar todos vocês. Eu não estou de brincadeira; eu só quero o assassino do meu pai. Será que é tão difícil assim vocês fazerem ele se entregar?
Falcão: O assassino do seu pai não está aqui, mas nós não vamos abrir mão do nosso morro. A Babilônia é a nossa casa e nós não vamos perdê-la para você.
Sanguinário: Poxa, Falcão, eu ouvi tantas histórias sobre você. É uma pena que eu tenha que acabar com a sua vida, já que você não vai desistir da Babilônia. Eu sinto muito. - Ele tacou uma bomba de gás na direção deles e tudo começou a ficar verde. Eu só conseguia escutar a explosão e os tiros. Eu não sabia para onde atirar; eu estava completamente perdida e a única coisa que eu consegui escutar foi o grito da minha mãe.
Gaby: NÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!
A fumaça foi sumindo e eu vi o meu pai e o meu irmão no chão. Eu comecei a atirar feito maluca na direção deles, mas quando eu vi, o Canibal já estava atrás de mim. Ele colocou uma arma na minha cabeça e disse:
Canibal: É melhor você se render se você quiser uma chance de salvar a sua família. O seu pai e o seu irmão estão feridos; levaram mais de um tiro e, se você não levar os dois para o hospital, eles vão morrer. E você também vai acabar morta. Coloca sua arma no chão e vai embora daqui com os vapores que sobraram. Vocês não têm chance de ganhar essa guerra; a Babilônia é nossa.
Perigosa:Seus desgraçados! - Eu falei, avançando nele, que me deu uma coronhada, o que me fez apagar.
Gaby
A trocação estava frenética; o bagulho estava muito doido e nós não tínhamos homens o suficiente. Eu sabia que essa guerra estava perdida, mas o Falcão é teimoso demais para recuar. Quando a gente escutou a voz do Sanguinário na rádio, nós fomos na direção dele. A maneira mais fácil de terminar uma guerra é derrubar o líder, só que quando nós chegamos lá, tinham muitos vapores. Nós começamos a atirar. Eles vieram para cima da gente com tudo. As coisas estavam muito loucas e nós estávamos perdendo muitos homens. Eu queria recuar; eu implorei para eles recuarem, mas eles não fizeram isso. Foi aí que eles jogaram uma bomba de gás. Tudo ficou verde e eles continuaram atirando na nossa direção. Depois de alguns minutos, eles jogaram uma granada, o que me fez voar longe. O meu filho e o Falcão também voaram longe com o impacto e eles continuaram atirando. Quando a fumaça começou a baixar, eu vi que o meu filho estava muito ferido e o Falcão também. Eu comecei a gritar desesperada e fui me arrastando até eles. Mesmo machucada, eu fui. Eu me aproximei do meu filho e percebi que ele não estava respirando. Então, eu comecei a gritar feito louca por socorro e comecei a chorar. Ele não estava se movendo. Eu bati no peito dele várias e várias vezes, tentei os movimentos que eu tinha aprendido para ressuscitar uma pessoa, mas não estava adiantando. Eu comecei a bater no peito dele com toda a força que eu tinha, gritando feito mais uma desesperada, mas ele não estava acordando. Eu peguei ele no colo e comecei a chorar. Eu não acredito que isso está acontecendo comigo, o meu filho, o meu bebê, não, não!
Eu estava muito desesperada; parecia que o meu mundo tinha acabado. Parecia que metade de mim tinha sido arrancada.
Falcão: Ele não está respirando; temos que ir para o hospital! - Ele gritou.
Olhamos para os lados e todos os nossos vapores estavam abaixando as armas. A Júlia tinha se rendido. Eles vieram na direção do meu filho e jogaram ele no carro. Saímos da Babilônia e fomos direto para o PPG, porque é a favela mais perto daqui. Ele foi colocado na maca e foi levado para dentro. Eu não conseguia parar de chorar; era como se meu mundo tivesse caído. Ao mesmo tempo que eu sentia que ele já estava morto, eu queria que os médicos conseguissem ressuscitá-lo. Eu estava tentando ser forte, o mais forte que eu conseguia, mas as lágrimas estavam escorrendo do meu rosto involuntariamente. A dor era muito forte; é a dor mais forte que eu já senti na minha vida, a dor preocupação misturada com o medo de perder o meu filho.
Perigosa: Ele vai ficar bem, não vai? - Ela falou, chorando.
Gaby: Vai, ele tem que ficar bem! - Eu falei, chorando.
Sanguinário
Tomamos Babilônia e a primeira coisa que eu fiz foi fazer uma limpeza. Eu não mandei nenhum morador embora, pois não tinha o porquê. Avisei a todos que as quedas que foram derrubadas seriam reconstruídas pela boca e disse que, por enquanto, eles teriam que ficar em um abrigo, mas que, daqui a uma semana, estaria tudo pronto novamente. Eu não quero brigar com os moradores, até porque eles podem acabar com a minha vida. Estou pensando em várias possibilidades e, no meu próximo ataque, eu não vou parar. Pelo visto, o assassino do meu pai não está na Babilônia, mas em uma dessas favelas, e eu não acredito que ele conseguirá ver esse rastro de destruição sem se entregar. Eu não estou pedindo nada demais; eu só quero saber quem foi o desgraçado que fez isso. Nem homem para tirar de frente ele foi.
Canibal: Você acha que a gente matou algum deles? Porque claramente nenhum deles era o assassino do BN, e eu confesso que estou um pouco preocupada. A gente vai invadir várias favelas e vamos acabar matando pessoas. Eu sei que eles fizeram um acordo de paz, mas não é isso que eu quero. Como eu vou invadir o Vidigal? A família da minha mulher mora lá, e eu não quero arrumar confusão dentro da minha casa, e você sabe muito bem disso.
Sanguinário: Eu também não quero arrumar confusão. Eu só quero saber quem atirou no meu pai. Eu quero que você entenda que a intenção não é matar ninguém, ou é? Não tenho certeza. É só eles se renderem e meterem o pé. Eu não quero matar ele; eu só quero o assassino do meu pai, e por causa disso eles vão perder alguns morros, os principais morros. Eu sei que você não gosta dessa situação e que você só quer viver a sua vida em paz, mas eles erraram primeiro, e eu não posso voltar atrás diante dessa guerra. Eu não quero saber quantas pessoas vão sofrer por causa disso. Você pode me achar egoísta, mas não fui eu que aceitei um acordo de paz e depois briguei. Eu sei que você não gosta do Tenebro e sei que você não gosta de muitas pessoas desse lado de cá. Essa é a chance da gente se vingar por tudo que aconteceu. Eles podem sair vivos, mas vão ter que me entregar o assassino se quiserem o morro deles de volta. Eu não aceito menos do que isso nessa guerra, e eu vou lutar até o fim.
Terrível: Nós temos que te seguir porque somos da mesma família, mas eu quero que você entenda que não podemos sair por aí feito loucos. Nós tomamos a Babilônia e está tudo bem. Nós vamos tomar as outras favelas que você quer, mas eu não concordo em sair matando todo mundo sem saber quem é o verdadeiro culpado. Nós podemos ferir as pessoas, mas matar é demais para mim. Eu já me afastei da Hello Kitty por causa da morte do BN. Todo mundo aqui perdeu muito depois da morte dele, porque somos da mesma família, mas convenhamos que nem todos eles são culpados. Nós vamos sair matando inocentes? Porque se a gente sair fazendo isso, nós vamos estar nos igualando a eles. Eles não atacaram a gente, e eu não acho justo a gente sair matando todo mundo. A sede de vingança tem limites, e o meu limite é esse.
Sanguinário: Como eu disse, a única morte que me interessa é a da pessoa que matou meu pai. Uma hora ou outra, ela vai ter que se entregar, e enquanto isso não acontece, nós vamos continuar invadindo incessantemente. Se você não concorda comigo, você pode entregar o Complexo do Alemão e sair da facção. Você pode ficar até com a Hello Kitty se quiser, porque eu não tenho nenhum tipo de envolvimento com o tráfico de drogas. Só que eu não vou perdoar aquela família pelo que eles fizeram.
Terrível: Nós também matamos pessoas que estão do lado deles. Eles também sofreram como você está sofrendo, e nem por isso eles saíram matando todo mundo sem rumo. É isso que eu estou tentando te dizer. Será que vale a pena lutar essa guerra tendo que passar por cima de tudo e de todos, tanto que passar por cima das nossas felicidades?
Sanguinário: A pergunta não é essa. A pergunta é: você confia neles? Você quer se unir novamente a eles? Você tem certeza de que eles não vão dar um tiro nas suas costas? Ele atirou na minha mãe também para matar, e a única pergunta que eu tenho para te fazer é: o que a minha mãe tem a ver com toda essa guerra? A minha mãe nunca foi envolvida com o tráfico de drogas. O único erro dela, ou acerto, foi se envolver com o meu pai, e mesmo assim atiraram nela. Eles foram covardes com uma mulher que nunca se envolveu com o tráfico de drogas. E quem garante que eles não vão dar p***a de um tiro nas suas costas? Você está aqui gritando comigo e surtando porque eu invadi um morro. Eu entendo que você esteja chateado com essa situação; todo mundo está. Mas eu não vou conviver com essa pessoa porque eu não sei quem ela é. Eu só quero que eles entreguem uma cabeça, mas ao invés de fazerem isso, eles preferem lutar uma guerra que não vão ganhar. E a única coisa que eu posso te dizer é que, se você não quiser ficar do meu lado, eu te libero. Eu te libero para sair do tráfico, eu te libero para sair do Complexo do Alemão. Mas isso não vai mudar o fato de eles serem traidores e não vai mudar o fato de um deles ter atirado nas costas do meu pai. Seu pai nunca vai confiar neles também. Eu garanto que ele prefere lutar essa guerra até o fim do que se render a eles novamente. Sinto muito, Terrível. Você acha mesmo que eu não queria ter ficado com a viúva? Você acha mesmo que eu não queria ter sido feliz, que eu não queria ter uma vida normal, que eu não queria que tivesse dado certo? Você acha mesmo que eu não queria que o Ferrugem estivesse aqui, que ele estivesse feliz com a Penélope? As coisas estão de uma maneira torta porque eles começaram essa guerra, e você quer que eu pare depois de tudo o que eles me fizeram perder? Se meu pai tivesse sido morto em combate, eu não estaria precisando lutar para descobrir quem é o assassino dele, e eu garanto que seria muito mais fácil ser feliz, porque a gente estava no meio de um confronto direto em uma guerra. Mas mataram ele porque ele queria ver a gente feliz, e você quer que eu aceite? Você quer que todo mundo engula e que todo mundo aceite esse relacionamento que a gente criou? A única coisa que eu quero é o assassino. Você acha que estou pedindo demais? Você acha que é muita coisa? Eu pedi para eles entregarem o homem que atirou no meu pai. Quando eles fizerem isso, a gente volta a ter paz no Rio de Janeiro.
Terrível: Você tem razão, só que você está colocando a sua dor acima de tudo e de todos, e nem todos eles são culpados. Só uma pessoa que estava na Rocinha matou o seu pai, já atirou na sua mãe, e nós temos que focar nela, não em matar todo mundo.
Canibal: Eu só quero viver em paz. Se você quer apertar eles para a gente descobrir quem é o assassino do seu pai, suave. Nós vamos apertar, só que nós precisamos do Ferrugem de volta, porque ele pensa mais antes de agir. Se continuar assim, você vai matar todo mundo e nós vamos acabar morrendo também. Ou você acha que a gente só vai matar sem levar nenhum tiro?
Sanguinário: Eu só quero resolver as coisas. Eu fiquei um ano pedindo para eles entregarem o assassino, e eles não conseguiram chegar a um acordo. E agora você simplesmente quer que eu ignore e que eu converse com eles como se nada tivesse acontecido? Se eu conversar, eles não vão entregar do mesmo jeito. Eu já tentei dessa forma e não adiantou. E o Ferrugem vai pensar da mesma maneira que eu: ou eles se rendem ou eles morrem.
Terrível: Você não sente falta da viúva? Porque parece que todo mundo está sofrendo menos que você, e às vezes eu fico me perguntando se valeu a pena e se vai valer a pena matar todo mundo no meio dessa guerra.
Sanguinário: Eu sinto muita falta dela, mas eu também sinto falta do meu pai. E como eu disse, eu não vou conseguir conviver com ele sabendo que tem um assassino no meio deles. Essa pessoa pode matar qualquer um de nós a qualquer momento, e nós não vamos saber quem foi. Eu estou pedindo o básico. Enquanto isso não acontece, nós vamos lutar.
Penélope
Quando eu soube do ataque à Babilônia, eu fiquei destruída. Então, eles realmente começaram a atacar. Depois do ocorrido, a minha família saiu da facção. Por mais que a gente não gostasse muito do BN, nós não queríamos que ele tivesse sido morto desse jeito. O Ferrugem terminou comigo logo depois do enterro, e eu sofri muito. Eu chorei todos os dias tentando falar com ele, mas ele não me atendeu. Então, eu resolvi dar um tempo para ele, só que esse tempo já está durando demais. Eu descobri que ele não está no Brasil e não quis ir atrás dele em outro país. O que te dá espaço, as coisas estão sendo difíceis para ele, e eu nem consigo imaginar o quanto. Por isso, todos nós concordamos com a saída da facção. A minha família nunca teria atirado no BN.
Giulia: Está tudo bem? Você está com o pensamento longe de novo.
Penélope: Eu estou ótima, e você?
Giulia: Bem, na medida do possível, mas eu ainda não consegui conversar com o Tenebroso. Depois da nossa briga, ele ficou estranho novamente. Se eu soubesse, eu teria evitado. Eu ainda não contei para ele sobre o bebê e estou com medo de passar tempo demais.
Penélope: Ele só tem 3 meses e vai adorar conhecer o pai dele. Eu acho que você deve contar logo, porque ele se isolou dentro da Rocinha, e uma hora ou outra vocês vão ter que se encontrar. O meu sobrinho não tem nada a ver com isso.
Giulia: Eu tentei falar com ele durante a minha gravidez, mas ele não me atendeu. Ele ficou com raiva porque eu falei que não achava justo atirarem no BN. Aquela nossa discussão mudou o nosso relacionamento.
Penélope: Mas ele te ama e não quer desistir de você, então fica tranquila, meu amor. Eu garanto que quando você contar que ele tem um filho, vocês vão voltar e vão ser felizes. Você não precisa se preocupar. Agora, você só precisa dar um jeito de conversar com ele.
Giulia: Hoje eu vou tentar ir até a empresa dele para a gente tentar conversar. Eu sei que fui cabeça-dura durante todo esse tempo, quando ele veio atrás de mim, mas eu realmente achei que ele tinha matado o BN e eu não ia perdoar um traidor. Eu sei que ele tinha muitos motivos para matá-lo, mas se ele tinha aceitado um acordo de paz, não tinha por que ele quebrar. Olha o que está acontecendo na Babilônia! Você acha que eles vão parar por aqui?
Penélope: Com certeza, eles não vão parar por aqui. Com certeza, eles vão tentar matar mais pessoas e vão tentar tomar mais morros. Mas a gente não faz a menor ideia de quem atirou no pai dele. Todos nós estamos sofrendo. O meu sobrinho ainda não viu o pai dele e ele já vai fazer 4 meses. Eu me separei do Ferrugem há um ano. Estou com muita saudade dele e não sei como ele vai reagir quando a gente se encontrar. Você tem noção da bagunça que virou a nossa vida? Você tem noção de tudo que está acontecendo? Eu não aguento mais essa guerra i****a. Se eu soubesse que iria acontecer, eu teria aceitado ir morar com o Ferrugem no morro dele. Teria sido muito mais fácil. Todos estariam felizes. Agora, o seu filho teria a família dele unida.
Giulia: Não foi culpa sua. Sendo a pessoa que atirou nas costas do BN, nós não podemos nos culpar pelos erros dos outros, e você sabe muito bem disso.
Bom, toma conta dele para mim enquanto eu vou tentar falar com o pai dele. Eu espero que ele esteja bem, porque as coisas estão muito ruins. Mas eu não quero que o meu filho cresça sem saber que ele tem um pai, não porque eu estou sendo cabeça-dura. Eu só quero que as coisas se ajeitem.
Penélope: Mas a pergunta que não quer calar é: você quer voltar com o Tenebroso ou você só está indo atrás dele por causa do bebê?
Giulia: Eu não sei. As coisas ficaram muito confusas entre nós dois. A nossa briga foi à toa e, quando ele veio atrás de mim, eu simplesmente quis ficar longe porque eu era cabeça-dura. E quando eu descobri do bebê, eu fiquei tão perdida. Mas vocês são testemunhas de que eu tentei contar para ele que eu estava grávida, e que ele não me atendeu. Ele ficou magoado comigo, e com razão, mas eu estava confusa. Todos eram suspeitos, e ele e o 22 estavam na lista principal porque eram os que mais tinham motivos.
Penélope: Pensa bem no que dizer.
Saí de Niterói, coisa que eu não fazia há muito tempo, e fui direto para a empresa do Tenebroso. Falei com a secretária que precisava conversar com ele, e ela perguntou se eu tinha hora marcada. Eu disse que não, mas pedi para ela avisar que era um assunto urgente e que era a Giulia que estava aqui.
Ela fez uma ligação e me mandou aguardar. Depois de alguns minutos, ela me mandou subir. Eu senti um frio na barriga ao me aproximar da sala dele. Ele estava sentado de terno, estava um pouco diferente, como se não estivesse dormindo há meses.
Tenebroso: fiquei surpresa quando soube que você estava aqui. O que você quer comigo? Fala logo, eu tenho um compromisso.