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Nunca pensei que minha vida pudesse ser decidida por uma assinatura.
Sentada naquela sala fria, com a luz do fim de tarde filtrando pelas persianas, eu sentia o peso do mundo nos ombros. Minha família, destruída pelas dívidas, sem mais opções, me entregava como se eu fosse uma mercadoria. Eu, Eleonora, com meus 19 anos, virgem e cheia de sonhos ingênuos, prestes a ser vendida para um homem que eu só conhecia de ouvir falar.
Dom Carlo.
O nome dele soava como uma sentença de morte para a minha liberdade, mas uma promessa de sobrevivência para a minha família. Um homem frio, calculista, envolvido com um cartel e uma seita que ninguém ousava questionar. O futuro dele era tão obscuro quanto sua fama.
Minha mãe chorava silenciosamente, tentando me convencer que aquilo era pelo nosso bem. Meu pai evitava olhar nos meus olhos, como se aquele momento fosse uma vergonha para ele. E eu? Eu só queria desaparecer.
Quando me trouxeram o contrato, foi como se o tempo congelasse. Li aquelas cláusulas sem entender direito, mas sabendo que cada palavra selava meu destino. Um casamento por conveniência, sem amor, sem escolha. Apenas um acordo para que Dom Carlo pudesse ganhar as eleições que dariam ainda mais poder para o seu império sombrio.
Eles me venderam. E eu, traída pelo sangue que deveria me proteger, aceitei o meu papel.
Naquela noite, enquanto arrumava minha mala para partir, senti pela primeira vez um medo que não cabia em mim. O medo de perder tudo, inclusive a mim mesma.
O carro preto de vidro escuro parou em frente à enorme mansão cercada por muros altos e câmeras de segurança. Eu olhei pela janela, o coração batendo tão rápido que parecia que ia explodir. Tudo era novo demais, estranho demais.
Quando ele apareceu, vestido impecavelmente, terno escuro que parecia moldado no corpo, olhos frios e penetrantes, eu entendi que não era uma mulher que ele queria — era uma peça em seu jogo.
Dom Carlo não sorriu. Não precisava. Seu olhar me desnudava, e por um instante, eu senti que não era mais dona do meu próprio corpo.
— Você é Eleonora? — A voz dele era baixa, autoritária.
Assenti, quase sem fôlego.
— Espero que saiba que este casamento não é um conto de fadas. Você me pertence agora. —
Naquele momento, uma mistura de medo e uma estranha excitação me dominou. Eu não sabia que poderia sentir isso — estar à mercê de um homem tão poderoso e sombrio.
O silêncio que se seguiu foi pesado, quase sufocante. Dom Carlo virou de costas, caminhando pelo corredor de mármore, seus passos ecoando pelo espaço grandioso da mansão.
Eu o segui com o olhar, sentindo cada músculo do meu corpo tenso. Não havia dúvida: aquele homem era uma tempestade contida, um perigo silencioso que eu não deveria desafiar.
Fui levada até um quarto que parecia mais uma suíte de hotel cinco estrelas. Tudo era impecável, frio, elegante demais para ser um lar.
Ele se aproximou devagar, parando ao meu lado.
— Não espere carinho ou gentileza, Eleonora. Isso aqui é um negócio. — A voz dele, áspera, raspou contra meus ouvidos. — Mas se você cumprir sua parte, poderá ganhar algo que nem imagina.
Meu coração disparou. O que ele queria dizer com isso? O que eu poderia ganhar?
Sem respostas, me deixei cair na cama de linho branco, já sentindo que essa noite seria o início de uma vida que eu jamais escolheria, mas que não teria como escapar.
A noite caiu pesada e silenciosa sobre a mansão, mas o turbilhão dentro de mim não dava trégua. Deitada naquela cama impecável, senti a solidão como nunca antes — uma prisão dourada da qual eu não sabia como escapar.
O toque do telefone que ele deixou no criado-mudo me lembrou do contrato, do destino que eu não podia mais mudar. Cada cláusula daquela papelada me amarrava mais forte a Dom Carlo, a um homem que m*l conhecia, mas que já dominava todos os meus pensamentos.
Minhas lágrimas caíram silenciosas no travesseiro enquanto eu tentava, em vão, imaginar como seria minha nova vida ao lado dele. O que significava ser propriedade de um homem tão implacável? Eu, que sempre sonhei em amar e ser amada, estava prestes a aprender um amor que doía e queimava.
E, apesar de tudo, uma chama diferente começava a acender dentro de mim — uma chama perigosa e proibida que eu ainda não compreendia.
Na manhã seguinte, acordei com o sol tímido entrando pela janela. O quarto, que parecia tão imponente à noite, agora era apenas um espaço vazio onde eu me sentia ainda mais sozinha.
A porta se abriu sem aviso e Dom Carlo entrou, seu olhar frio fixo em mim.
— Levante-se — ordenou ele, sem cerimônia.
Eu me levantei devagar, sentindo o peso daquelas palavras como uma corrente invisível.
— Hoje começa a sua nova vida — continuou, sem um pingo de emoção na voz. — E não haverá espaço para fraquezas.
Engoli em seco, sabendo que a partir daquele momento, cada passo meu seria vigiado, cada palavra medida.
— Eu não sou uma mercadoria — arrisquei, com a voz trêmula.
Ele me encarou por um instante que pareceu eterno e, finalmente, falou:
— Para mim, você é exatamente isso.
Os dias que se seguiram foram um borrão de ordens, reuniões e olhares que não me deixavam respirar. Dom Carlo era um homem de poucos gestos, mas cada um deles carregava uma autoridade inquestionável.
— Você precisa aprender seu papel, Eleonora — ele disse em uma dessas manhãs. — Aparecer bonita, ser discreta e, principalmente, não atrapalhar meus planos.
Eu concordava em silêncio, guardando cada palavra para mim. A humilhação e o medo me moldavam, mas algo dentro de mim resistia.
A noite, quando tudo ficava silencioso, eu me permitia sonhar — sonhar com uma liberdade que parecia cada vez mais distante.
— Não deixe essa chama apagar — minha voz sussurrava para mim mesma no escuro.
Dom Carlo nunca soube dessas minhas pequenas rebeliões internas.
Foi numa dessas noites que ouvi uma conversa que mudou tudo.
Dom Carlo falava ao telefone em seu escritório, sua voz baixa mas cheia de ameaça.
— A eleição está próxima. Não podemos permitir erros. O casamento é apenas uma peça no tabuleiro.
Eu escutei, escondida na porta entreaberta, o peso daquela revelação caindo sobre mim. Eu era um peão, um meio para um fim obscuro.
No entanto, uma faísca de algo diferente cresceu dentro de mim. Se eu era apenas uma peça, então precisava aprender a jogar.
— Se vou ser usada, que seja com poder — pensei, sentindo uma determinação nascer da minha fragilidade.
Nos dias seguintes, mergulhei de cabeça nesse novo papel. Aprender a andar nas sombras, a usar meu olhar como uma arma, a ser misteriosa e desejada.
Dom Carlo se tornou uma presença constante, tanto ameaçadora quanto inexplicavelmente atraente. O frio na voz dele escondia segredos que eu queria desvendar, mesmo sabendo dos perigos.
— Você tem potencial, Eleonora — disse ele uma noite, quando nossas mãos se tocaram brevemente. — Se aprender a controlar isso, pode ser muito valiosa para mim.
Eu não sabia se aquilo era um elogio ou uma advertência, mas algo em mim se incendiou.
À medida que a noite avançava, a mansão ficava silenciosa, exceto pelos passos contados de Dom Carlo se aproximando do meu quarto.
Ele parou na porta, seu olhar fixo no meu corpo que tremia com uma mistura de medo e desejo.
— Não é fraca, Eleonora — murmurou, quase para si mesmo. — Apenas precisa aprender a usar sua força.
Eu senti o calor da sua presença invadir meu espaço, uma tensão elétrica que prometia perigos e prazeres que eu ainda não estava preparada para enfrentar.
E assim terminou o primeiro dia da minha nova vida — uma vida onde o medo e a paixão começavam a se entrelaçar, onde eu aprenderia que o preço de ser sua poderia ser alto demais para pagar, mas impossível de recusar.