O resto da tarde passa arrastado. Tento me concentrar no livro aberto à minha frente, mas as letras se embaralham, a ansiedade crescendo no peito. Checo o relógio pela terceira vez em dez minutos. Meu pai trancado no escritório, minha mãe entretida ao telefone, e Marcello supervisionando o turno de treinamento de outros capangas no quintal dos fundos. É agora ou nunca.
Pego minha jaqueta de couro preta, amarro o cabelo em um coque displicente, e guardo um batom vermelho na bolsa, meu pequeno gesto de rebeldia, sempre escondido dos olhos do meu pai. Troco o salto por um tênis preto, confortável para correr se necessário, e pego o caminho mais longo pelo corredor, desviando dos espelhos e das câmeras que já aprendi a evitar desde criança.
No andar de baixo, dou um aceno discreto para Antônio, o jardineiro, que me conhece desde pequena. Ele não diz nada, só me observa passar, como quem compartilha um segredo sem palavras.
Saio por uma porta lateral, sentindo o vento frio da tarde arrepiar minha pele exposta. Respiro fundo e caminho até o portão secundário, onde o muro é mais baixo e coberto por hera. Escalo rápido, como já fiz tantas vezes, e caio do outro lado, sentindo a liberdade raspar meus joelhos. Dou risada sozinha, saboreando aquela sensação proibida.
No fim da rua, vejo o carro de Renato estacionado. Preto, com vidro escuro, o motor ainda ligado. Ele me espera com uma paciência que poucos teriam. Quando entro, sinto imediatamente o cheiro do perfume amadeirado misturado com cigarro.
Ele sorri de lado, olhando para mim com aquele jeito de homem que acha graça do perigo.
— Você está atrasada, princesa — provoca, os olhos escuros brilhando.
— Se me chamar de princesa de novo, vou embora a pé — retruco, jogando minha bolsa no banco de trás.
Ele ri, aquela risada rouca que eu aprendi a gostar. Pisa no acelerador e seguimos em silêncio pelas ruas menos movimentadas da cidade, fugindo dos olhares curiosos e dos carros dos meus seguranças, sempre atentos demais.
Paramos num beco isolado, perto de um antigo galpão abandonado. É sempre o mesmo lugar: escuro, esquecido, perfeito para quem não quer ser visto.
Renato desliga o carro e se vira para mim, o olhar faminto. Não é amor, nunca foi, mas é necessidade. Fome. Desejo. Liberdade. Ele se inclina, o rosto tão perto do meu que consigo sentir a respiração quente contra minha pele.
— Senti sua falta — murmura, os dedos percorrendo a linha do meu queixo até a base do pescoço.
Meus lábios encontram os dele com urgência, fome acumulada de semanas sem um toque verdadeiro. O beijo começa calmo, mas logo se transforma em algo mais violento, uma batalha de línguas e dentes. Ele prende meu rosto entre as mãos, me puxando para cima dele. Minhas pernas se encaixam em seu colo sem esforço, as mãos dele apertando minhas coxas por baixo da saia curta.
Sinto o calor do corpo dele queimando através da roupa. Minhas unhas deslizam por baixo da camisa, arranhando de leve, arrancando um gemido baixo.
Ele segura meu cabelo, puxa de leve, me obrigando a encará-lo.
— Sabe que está brincando com fogo, não sabe? — sussurra, a voz rouca.
— Sempre soube — respondo, mordendo o lábio inferior.
O beijo recomeça, ainda mais urgente. Sinto as mãos dele deslizando pela minha cintura, subindo por baixo da blusa, os dedos frios em contraste com minha pele quente. Arqueio o corpo, me esfregando contra ele, buscando mais contato, mais sensação, como se quisesse me livrar da pele, da culpa, do nome que carrego.
Ele rasga o fecho da minha blusa, expondo o sutiã rendado preto. Seu olhar escurece, admirando meu corpo como se cada pedaço meu fosse um segredo desvendado só por ele. Meus s***s se arrepiam sob o olhar dele, desejo latejando em cada centímetro.
Renato desce a boca pelo meu pescoço, beijando, mordendo, chupando até deixar marcas que ele sabe que vou precisar esconder depois. Meus dedos se enroscam nos cabelos dele, guiando sua boca, incentivando a brutalidade. Eu quero sentir. Quero doer. Quero esquecer de tudo que sou.
O banco do carro range sob nossos movimentos, abafando o som dos gemidos baixos que escapam. Ele desliza a mão entre minhas pernas, apertando a parte interna da coxa, empurrando a calcinha de lado com os dedos ágeis. Solto um gemido abafado quando ele me penetra com dois dedos, ritmados, enquanto a outra mão segura firme minha cintura.
— Você é linda quando tenta esconder o quanto gosta disso — ele provoca, o hálito quente no meu ouvido.
Não respondo. Só solto um suspiro arrastado, jogando a cabeça para trás, perdendo o controle. O vidro do carro embaça, meus quadris se movem no ritmo dos dedos dele. Quase esqueço que estou exposta, quase esqueço o risco.
Quando estou prestes a gozar, ele para de repente, puxando meu rosto de volta para um beijo profundo, invadindo minha boca com a língua enquanto me ergue e me encaixa em seu colo, já com o zíper da calça aberto.
Sinto ele se posicionando, me penetrando devagar, fundo, com força. Seguro nos ombros dele, cravando as unhas, as pernas tremendo ao redor de sua cintura. Os movimentos são urgentes, desesperados, como se o mundo lá fora fosse acabar a qualquer momento.
O prazer me invade em ondas, tirando o ar dos meus pulmões. Gemo alto, sem me importar com nada, perdida só nele, só no momento.
Quando termino, ainda em seu colo, os corpos grudados pelo suor e respiração ofegante, sinto aquela paz rara, a sensação de estar viva, de ser minha, nem que seja por poucos minutos.
Renato beija meu ombro, a mão acariciando de leve minhas costas.
— Um dia você vai cansar de fugir assim — diz, voz baixa, quase triste.
— Talvez. Mas não hoje.
Nos vestimos em silêncio. Troco o sutiã por outro guardado na bolsa, ajeito o cabelo, passo o batom vermelho. Antes de sair, Renato segura minha mão por um instante.
— Se cuida, Bianca.
Não prometo nada. Só sorrio e saio do carro, atravessando a rua como se não tivesse nada a perder. O perigo de ser descoberta me excita tanto quanto o próprio encontro.
Volto para casa da mesma forma: salto o muro, limpo a sujeira do jeans, entro sorrateira pela porta dos fundos. No corredor, o cheiro de café fresco. Meu pai está em casa. Paro por um segundo, coração disparado, esperando ser descoberta.
Nada. Estou segura, por enquanto.
No quarto, olho no espelho e vejo a marca roxa no pescoço, o cabelo desalinhado, os olhos brilhando de adrenalina. Sorrio para mim mesma. Ainda sou prisioneira, mas, pelo menos, por algumas horas, pertenço só a mim.