As Sombras da Verdade
O dia seguinte chegou sem grandes mudanças, mas minha mente estava em guerra. A cada minuto, a cada respiração, a dúvida sobre o que estava acontecendo me corroía mais. O que Bruno estava realmente escondendo de mim? E por que eu ainda estava ali, em um lugar que parecia mais uma prisão do que um refúgio? Ele havia me deixado com Marcos, mas eu não conseguia entender o motivo de tanta cautela, de tanto sigilo.
Eu me levantei da cama, tentando afastar os pensamentos perturbadores. Olhei pela janela do pequeno quarto, e vi o movimento da cidade lá fora. Mas aqui dentro, tudo parecia parado. O silêncio era opressor, e a solidão me envolvia como um manto escuro.
Eu estava começando a me perguntar se havia algo mais por trás de tudo isso. Talvez Marcos estivesse certo, e essa situação fosse mais perigosa do que eu imaginava. Mas por que Bruno não podia ser honesto comigo? Por que ele continuava me tratando como se fosse frágil demais para saber a verdade?
O barulho de passos interrompeu meus pensamentos. Marcos entrou no quarto com uma expressão séria, como se carregasse o peso do mundo nos ombros. Ele me olhou por um momento, como se estivesse se preparando para falar algo que sabia que eu não gostaria de ouvir.
Marcos: — Isabel, precisamos conversar. O tempo está se esgotando, e as coisas estão ficando cada vez mais complicadas. O que Bruno fez não é simples, e você precisa entender o que está em jogo.
Eu me sentei na cama, sentindo o coração bater mais rápido. Sabia que esse momento tinha chegado. A verdade, ou pelo menos uma parte dela, estava prestes a ser revelada.
Isabel: — O que está acontecendo, Marcos? Eu não aguento mais essa incerteza. Por que Bruno me trouxe até aqui? O que ele está tentando esconder de mim?
Marcos suspirou, como se soubesse que a explicação não seria fácil. Ele se sentou na cadeira próxima à mesa e passou a mão pelo rosto, um gesto de frustração.
Marcos: — Bruno se envolveu com algumas pessoas perigosas. Ele fez uma série de decisões erradas, tentando proteger você, mas as coisas saíram do controle. Você está aqui porque ele fez um pagamento, um pagamento muito alto, Isabel. Ele... ele te vendeu para cobrir dívidas que não conseguiria pagar de outra forma.
Eu senti o sangue gelar em minhas veias. As palavras de Marcos ecoavam na minha mente como um martelo batendo no metal. Vender? Ele me vendeu?
Isabel: — Não... não pode ser. Ele me vendeu? Como ele pôde fazer isso?
A revolta tomou conta de mim, mas, ao mesmo tempo, uma sensação de vazio me engoliu. Eu estava sendo tratada como um objeto, uma mercadoria em um jogo de poder que eu não compreendia.
Marcos: — Não foi uma escolha fácil, Isabel. Ele fez o que pôde para tentar salvar sua vida, mas agora as coisas complicaram. Há pessoas que querem o que Bruno prometeu. Você... você está no centro disso tudo, e não podemos mais esconder isso.
Eu senti as palavras se afundarem em minha alma, como uma faca cravada com precisão. Mas, no fundo, eu sabia que a situação era mais complexa do que apenas um pagamento. Se Bruno me envolveu nisso, ele tinha suas razões, mesmo que eu não conseguisse entender ainda.
Isabel: — Então... o que vai acontecer comigo agora? O que essas pessoas querem de mim?
Marcos ficou em silêncio por um momento, olhando para as mãos. Era como se ele estivesse avaliando se eu estava pronta para saber o que vinha a seguir.
Marcos: — Eles querem que você fique fora de vista, longe de tudo. Há uma guerra acontecendo, Isabel. E Bruno fez uma aliança que o colocou contra poderosos inimigos. Mas ele não quer que você se envolva mais. Ele só está tentando proteger você de tudo isso. E por isso você está aqui... porque, enquanto ele resolve as coisas, você precisa estar longe de qualquer perigo.
Eu não sabia o que pensar. Proteger? Ele me vendera e agora dizia que estava me protegendo? Como eu poderia confiar nisso? Como eu poderia confiar nele, quando ele me tratava como se fosse um peão em um jogo onde eu não tinha controle?
Isabel: — Eu não sei se consigo mais confiar em você, Marcos. Ou em Bruno. Tudo isso é um pesadelo.
Marcos não respondeu de imediato, mas seu olhar era de uma compreensão silenciosa. Ele sabia o quanto era difícil para mim aceitar aquela realidade. Mas não havia mais como voltar atrás.
O som do telefone de Marcos tocou, interrompendo o silêncio que se instalara entre nós. Ele atendeu rapidamente, ouvindo por alguns segundos antes de sua expressão mudar para uma mais tensa.
Marcos: — Eu vou ter que sair. As coisas estão acontecendo mais rápido do que esperávamos. Fique aqui, e por favor, não saia. Eu volto logo, Isabel. Só não... não tente enfrentar tudo isso sozinha.
Ele se levantou, deixou o quarto e fechou a porta atrás de si, deixando-me sozinha novamente. O vazio tomou conta de mim.
E comecei a chorar, meu irmão me vendeu.