Jun-ho estava sentado na sala de espera do hospital, com as mãos cruzadas junto à boca e os braços apoiados sobre as pernas, que balançavam nervosamente. Faziam exatamente 7 horas e 34 minutos que não recebia uma única notícia, e isso o estava angustiando. Toda aquela espera era sufocante.
JUN-HO ON
— Senhor Min Jun-ho?
Ouvi a voz do médico e prontamente me levantei.
— Me diga… como ela está? — Perguntei aflito, sentindo minhas mãos suadas.
— Eu preciso conversar com o senhor em meu consultório…
— Não! — O cortei, alterado. — Eu quero que me diga aqui e agora como minha esposa está! — Falei firme, sentindo o nó na minha garganta.
— Então… — O médico me olhava com um ar triste. — Sinto muito, senhor Jun-ho, mas não há mais nada que possa ser feito. Os exames mostram que o tumor tomou 30% de todo o lóbulo esquerdo e que sua esposa está em estado terminal.
Senti meu coração doer a cada palavra que o médico dizia. Meu ar era escasso e sentia um buraco no estômago. Minhas pernas fraquejaram por um minuto, e eu me forcei a ficar em pé. Senti o choro iminente preso à minha garganta e respirei fundo tentando controlar a vontade de chorar.
— P… posso vê-la? — Perguntei, sentindo a voz embargar.
— Claro. É por aqui, me acompanhe, por favor.
Segui o médico até o segundo andar, e lá estava eu, parado sozinho em frente à porta de número 27. Apertei minhas mãos, que ainda tremiam, e, reunindo coragem, bati duas vezes antes de abrir a porta lentamente.
Ao entrar, vi minha Ah-ri quase sentada na cama, olhando atentamente as páginas de um livro que eu não sabia qual era.
— Senhora Min Ah-ri? — Falei, disfarçando a voz falha.
— Meu amor! — Ela exclamou, sorrindo, fechando o livro e o colocando de lado enquanto eu me aproximava. — Eu pensei que tinha ido para casa.
— E deixar a mulher mais linda do mundo sozinha em um hospital, sendo que ela morre de medo de agulhas? — Falei, sentando-me numa cadeira ao lado da cama e pegando em sua mão, que estava estranhamente fria.
As mãos de Ah-ri costumavam ser tão quentes e macias. Afaguei-a, tentando disfarçar toda a angústia de vê-la naquele estado.
— Ainda bem que você me conhece então. — Respondeu, rindo e colocando a mão esquerda sobre a minha.
— E como você se sente?
— Um pouco tonta… mas razoavelmente bem. E as meninas?
— Estão bem, amor. Deixei-as com minha mãe. Não se preocupe, logo você estará em casa para vê-las. — Falei, forçando um sorriso.
— Eu amo quando você faz tudo ficar tão lindo, mesmo quando tudo está desabando. — Ela afagou meu rosto e eu fechei os olhos.
“Deus…”
— Eu amo tanto você… — Eu sussurrei, sentindo sua mão me fazer carinho.
— E eu muito mais a você. Amor? — Ela me chamou e eu a olhei. — Eu quero que você cuide de nossas filhas…
— Não fale assim. — Pedi, segurando sua mão direita com força.
— Amor, por favor… — Ela fechou os olhos quase em uma súplica e voltou a olhar para mim com o olhar marejado. — Me escuta, por favor, eu te imploro! — Ela me encarava.
— Ah-ri…
— Jun-ho… deixa eu falar. Olha, o médico já me falou tudo e nós sabíamos que era uma questão de tempo até isso acontecer. Então agora eu vou acabar morrendo…
— Não! — Levantei-me de uma vez, passando as mãos pelo cabelo. — Não fale isso! — Supliquei.
— Jun-ho, meu amor, você tem que ac…
— Pare… pare… — Andava de um lado para o outro no quarto. Eu sentia meu ar falhar.
— O que você quer que eu diga? — Ela perguntou, e eu parei de andar, ainda de costas para a cama. — Quer que eu diga que tudo vai ser como antes? Que eu diga para minhas filhas que eu estarei com elas? Que eu diga a você que eu estarei todas as manhãs na nossa cama?
“Meu Deus…”
— Por que está fazendo isso? — Indaguei baixinho.
— OLHE AO MENOS PARA MIM! — Ela gritou, e eu me virei.
Sua face estava molhada pelas lágrimas e os lábios tremiam. Eu não conseguia mais me conter e deixei o choro preso escapar pela minha garganta, emitindo um som alto.
— Me… me perdoe… — Falei entre soluços.
— Vem aqui… vem aqui, meu amor… — Ah-ri abriu os braços e eu fui até ela, subir na cama, deitando-me ao seu lado, abraçando-a enquanto chorava.
— Eu… eu não quero te perder…
— Vai ficar tudo bem, amor… — Ela afagava meus cabelos. — Você nunca irá me perder, eu sempre serei sua e você será meu único amor. Tudo o que vivemos, todo amor, sempre estará guardado dentro de você. Nossas filhas são a prova desse amor. As ame, ame por mim… por favor. E meu amor, meu Jun-ho — Eu podia ouvir sua voz embargada — Eu quero que você seja feliz, ame alguém que…
— Como me pede isso? — Levantei a cabeça para olhar nos seus olhos. — Eu já amo, você será a única. Você é a dona do meu coração desde o primeiro dia que te vi. Eu jamais vou trair você.
Ela dedilhou meu rosto delicadamente e beijou minha testa. Somente Ah-ri conhecia meu verdadeiro eu; ela sabia cada coisa sobre mim, sabia todos meus defeitos e ainda me amava acima de tudo. Ela era minha primavera.
— Você é sempre tão teimoso. — Ela sorriu docemente para mim. — Meu açúcar travesso… — Por um momento, eu sorri. — Você nunca me trairia sendo feliz. Eu peço que não deixe a solidão tomar conta de você, se dê uma nova chance; a única coisa que eu peço é que ame alguém que também ame nossas filhas.
— Minha Saem… — Fiz carinho em seu rosto e cabelo. Acariciei sua bochecha e ela beijou minha mão. — Eu amarei você para sempre.
— Eu amo você, Min Jun-ho.
E então Ah-ri sorriu, e foi a última vez que eu a vi assim…
Três dias depois, Ah-ri teve um derrame e, horas depois, eu recebi a notícia de sua morte. Entrei no quarto dela e vi minha esposa naquela cama de hospital sem vida, a pele pálida, os lábios sem cor e as mãos mais frias do que antes. Minha mente não queria processar o ocorrido e meu coração se recusava a aceitar. Saí do quarto, fechei a porta, e foi aí que meu mundo desabou. Eu senti o chão sob meus pés ser puxado como um tapete velho, e eu caí…
Caí naquele chão e chorei…
Chorei…
Gritei…
Sentindo a dor que dilacerava meu peito, era como navalhas me cortando por dentro, e eu estava morrendo lentamente. Meu peito queimava de tanto que eu puxava o ar para não sufocar em meio ao choro.
— Ei… venha, vamos… — Si-woo me chamou, sua mão em meu ombro. — Vamos, amigo, vem, eu te ajudo. — Si-woo me ajudou a levantar do chão no corredor.
Frio…
Era tudo o que eu sentia naquela manhã. O céu escuro e chuvoso fazia tudo parecer mais triste e agoniante.
Sufocado…
Era assim que me sentia desde ontem, quando recebi aquela notícia, a tão sombria dor pousada em meu peito como uma grande rocha me esmagando e comprimindo meus pulmões. Fechei os olhos, sentindo o vento gelado soprar em minha face pela janela aberta no meu escritório. Por um momento, me permiti lembrar das mãos aveludadas e quentes de Saem, os lábios macios tocando meu pescoço e sua voz…
Ah, a sua voz…
Doce e afável.
Dor…
Eu não queria acreditar, não queria sair daquela sala, não queria ver todas aquelas pessoas, não queria enterrar minha esposa. Eu não queria que a terra úmida fosse seu manto, que a madeira forrada em veludo fosse seu abrigo agora.
E assim, como se foram, as minhas lágrimas voltaram fortes e ardentes. A dor novamente cortava meu peito, me fazendo perder o ar que puxei desesperado, sem sucesso.
— Tudo vai ficar bem…xiiii…
A voz de Saem cantarolou em meu ouvido, me permitindo chorar ainda mais como um garotinho.
— Eu… eu não vou conseguir… — Falei, sentindo a voz falar em meio a um soluço.
— Vai, meu bem. Você é forte e eu estou aqui quando precisar de mim, o tempo todo.
— Mentira… — Solucei, passando as mãos pelo rosto— você se foi e não está mais aqui
…
A dor era tão intensa que meu tórax ardia toda vez que eu puxava o ar com força. As lágrimas insistiam em descer e eu sentia que ia desabar naquele chão novamente pela força que me faltava. Mas eu precisava ser forte pelas minhas filhas, precisava dar amor a elas e não deixá-las passar pelo luto sozinhas.
— Jun-ho? — A voz abafada de Si-woo passou pela madeira da porta após bater.
Enxuguei rapidamente as lágrimas, fechei a janela logo em seguida e o mandei entrar.
— Oi... está tudo bem? — Si-woo falou cauteloso e parecia querer analisar meu estado mental quando se aproximou da mesa.
— Sim... Apenas estava revendo alguns papéis antes de... — Minha voz falhou e eu engoli seco, sentindo a garganta travar com o choro.
— Jun-ho, não precisa disso comigo. Sabe que sou seu amigo e eu nunca julgarei você, muito menos seus sentimentos. — Ele puxou uma das cadeiras e se sentou à minha frente. — Chore, meu amigo.
Larguei os papéis, que nem sabia do que se tratavam, e apoiei ambos os braços na mesa, colocando ambas as mãos no rosto.
— ... — Tentei falar, mas nada saiu. Mordi o lábio, tentando segurar. Eu odiava chorar na frente das pessoas e não queria parecer um fracote quando deveria estar sendo forte.
— Está tudo bem. Vamos? Temos que ir. — Si-woo levantou e eu fiz o mesmo.
Fomos até a sala onde minhas filhas estavam. Choon mantinha um semblante sério, quase impassível, e Nari estava no colo da babá. Me aproximei.
— Posso pegá-la?
— Claro, senhor. — A babá me respondeu, entregando minha pequena de 1 ano em meus braços.
— Oi... — Sussurrei para a garotinha de cabelos negros na altura da orelha, as bochechas redondas e rodadas, com mãos gordinhas, enquanto brincava inocente com o elefantinho rosa que chamava de Nhonhô.
— Papai. — Ela disse, olhando e apontando o dedinho no meu nariz.
— Sim, meu amor, é o papai. — Sorri para ela, dando um longo beijo em sua testa.
— Vamos? — Olhei para Choon, que estava olhando para um canto qualquer do carpete. — Ei... — Sentei ao seu lado no sofá e a abracei de lado, colocando Nari em minha perna esquerda. — Tá tudo bem?
— É... eu acho que sim. — Ela me olhou e respondeu como se aquilo fosse a coisa mais fácil do mundo.
Minha filha tinha apenas 10 anos e, desde que contei a ela ontem sobre sua mãe, não esboçou nenhum tipo de reação. Sempre foi séria e madura. Ah-ri dizia que ela era como eu, forte e petulante, mas de bom coração.
— Que bom, amor. — Beijei sua cabeça.
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Ao chegarmos ao cemitério, o ar fúnebre era cortado pelo vento gelado e, enquanto as palavras do bispo eram proferidas, minha mente vagava nas lembranças de dias ensolarados e alegres. Lembrei-me com precisão do dia em que vi Ah-ri pela primeira vez.
Era primavera, o primeiro dia para ser exato. O sol iluminava o céu daquela manhã e minha amiga me chamou para tomar sorvete. Eu tinha 16 anos e não era bobo nem nada para saber que ela estava me paquerando desde que nos tornamos adolescentes. Ela falava coisas aleatórias enquanto caminhávamos degustando nossos sorvetes.
Até que...
— Jun?
— Eiii, Jun-ho!!! Eu tô falando com você!!!
Eu a ouvia, mas não conseguia desviar meus olhos daqueles cabelos dançando ao vento juntamente com o vestido florido de margaridas. Eu nunca havia visto uma garota tão linda em minha vida. Ela lia despreocupada uma revista na banca à frente.
— Ah... Aquela é Ah-ri.
— Como? — Finalmente olhei para minha amiga, que agora olhava para meu deslumbramento.
— Aquela garota, seu bobo. — Ela riu para mim, me dando um t**a no ombro. — Você está aí babando nela.
— Eu? Eu não! — Respondi sem jeito, virando o rosto que sentia corar.
— E por que está vermelho?
— Para. É só o calor.
— Então vamos falar com ela. — Ela sugeriu.
— Ahhh? Por quê? Não! Eu preciso voltar e estudar. — Disse, me virando para ir embora.
— Olá, Ah-ri! — Ouvi minha amiga gritar e acenar com a mão. Quando me virei, meu estômago gelou e tenho a certeza de que não foi o sorvete, mas sim o sorriso que eu vi.
A garota agora vinha em nossa direção e seu andar parecia gracioso como em câmera lenta. O sorriso nos lábios fazia tudo parecer mais lindo.
— Oi! — Ela cumprimentou alegremente.
E a partir daí viramos amigos, nós três. Ela passou a estudar em nossa escola e quase sempre estávamos juntos. Até que, um ano depois, após o baile de formatura, eu a beijei, confessando que a amava, e ela me retribuiu do jeito mais fofo.
— Por que demorou tanto?
A partir daí, nosso relacionamento ficou mais forte e, por fim, nos casamos 3 anos depois. Foram os anos mais felizes da minha vida e tudo ficou ainda mais feliz com a chegada de nossas filhas.
— Então, que neste dia nossa querida Ah-ri conheça o paraíso e esteja nos braços do Senhor, em Seu manto de glória e amor eterno, viva em nossos corações. — O reverendo terminou o discurso e todos soltaram um sonoro amém.
Sai do meu transe e fiquei em pé, juntamente com os demais, vendo agora o caixão ser baixado no buraco úmido. Imaginei o quão frio estaria ali e lembrei-me da sua pele sob minha mão, tão gelada. A trava na garganta voltou, mas eu segurei ao sentir Choon-Hee apertar sua mão direita na minha com força. Olhei para baixo, vendo lágrimas saírem silenciosas pelo rosto de minha filha. Ela não emitia sons, apenas fungou duas vezes antes de passar o lenço branco pela face.
Saem estava errada.
Choon não era como eu, ela era mais forte. Eu passei a noite inteira trancado em meu quarto, chorando e remoendo, enquanto ela estava inabalável, mantendo o couro. Eu queria que ela chorasse e me dissesse que estava triste.
Isso fazia de mim egoísta?
Não sei.
Mas ver minha filha tentando ser forte me destruía por dentro. Apertei sua mão em resposta e ela sorriu sutilmente. Olhei para o céu, vendo o manto n***o sobre nós, e voltei a olhar para o caixão, agora sendo coberto pela terra molhada.
Adeus, querida...
Não era um adeus de verdade, mas sinto que precisava pensar assim. Contudo, meu coração continuaria sendo dela e de mais ninguém. Eu amaria a minha Saem até meus dias finais e nada seria tocável, principalmente meu amor e devoção a ela.
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Voltamos para casa e, após colocar minhas filhas na cama, fui para meu quarto; precisava de um longo banho. Cheguei à porta, a abrindo devagar. O escuro lá dentro gritava; entrei devagar, fechei a porta atrás de mim e acendi a luz. Olhei ao redor e aquele lugar, apesar de familiar, era estranho. Faltava algo e eu sabia o que era. Não queria mais chorar; sentia que minhas forças iriam ruir se assim o fizesse, então fui direto para o banheiro, onde tirei as roupas devagar. Entrei no box e deixei a água morna descer pela minha cabeça, molhando todo meu corpo.
Assim, me permiti chorar mais uma vez, sabendo ou acreditando que a água levaria consigo minha tristeza e que não haveria mais lágrimas. Naquela noite, com aquela manhã de primavera, foi tão real, tão mágico, que senti tudo o que senti naquela época, tão vívido e quente. Eu pude ouvir sua voz, sentir suas mãos nas minhas, seu perfume doce e floral. Saem era minha primavera e seria assim para sempre. Sorri em meio ao sonho e me senti feliz, apaixonado novamente.
— Eu te amo...
— Eu também te amo...
— Sabe que sempre serei sua...
— Tenho a certeza, nunca duvidei...
— E por que está tão triste?
— Porque me sinto estranhamente só... tive um sonho ruim...
— Me conte...
— Sonhei que você tinha ido embora...
— Não seja bobo... — Ela riu.
— Eu estou sendo bobo?
— Sim, está... Porque sempre estou aqui... — Senti suas mãos sobre meu tórax e meu coração acelerado.
Então, à noite, naquela noite, eu consegui dormir e, não sabia por que, mas a partir dali não chorei mais. A dor calcificou, a saudade ficou e meu amor continuou firme.