capitulo 07

1072 Palavras
n***o narrando Depois daquela visita da Paloma, o Red me ligou falando que ela pegou as coisas dela e tacou marcha. Não posso obrigar ninguém a ficar comigo… mas também não vou esquecer dessa parada. No momento que eu mais preciso dela, a mulher me vira as costas e me abandona. Isso eu vou guardar. Peguei o celular pra ligar pro Red e saber se hoje a tal advogada ia aparecer. Preciso trocar um papo com ela, entender qual é o plano pra me tirar daqui… e já deixar avisado do que vai acontecer se ela não conseguir. Ligação on — E aí, n***o… falei com a advogada ontem. Tá tudo certo. A qualquer momento ela deve brotar aí pra vocês trocar ideia — o Red falou, com aquela calma dele. — Mas tu deixou ela ciente do que vai rolar se ela não conseguir? — perguntei na lata. — É a única advogada que aceitou essa p***a de caso. Então ela tem que conseguir, porque se não… eu vou matar o Moraes. — Fica tranquilo. Ela me garantiu que conhece uma juíza… só que parece que as duas tiveram um atrito há uns dois anos e não se falam mais. Mas, na moral? Eu tenho certeza que pra proteger quem ela ama, essa mulher vai fazer o que for possível. Se isso acontecer, a gente consegue te tirar daí. — Agora sim… uma informação que presta. Vamos pressionar ela então, porque tenho certeza que essa juíza aí é a chave pra me tirar daqui. — Essa é a ideia. Tô levantando a ficha dela pra ver o que descubro. Mas provavelmente tudo dará certo. Agora é só esperar a doutora fazer o resto. — Beleza. Vai me mantendo informado. Se a Paloma aparecer por aí, me avisa. Agora vou desligar… acho que os guardas tão vindo. — Já é, fé aí — ele respondeu, e eu desliguei. Ligação off A conversa ficou martelando na minha cabeça. A Paloma me largando, a advogada com a tal juíza, e o tempo correndo contra mim. Uma coisa é certa: daqui eu só saio livre… ou saio levando alguém junto pro inferno. Mal desliguei o telefone e já ouvi o barulho das botas ecoando no corredor. O som seco batia no ouvido, cada passo mais pesado que o outro. Dois guardas pararam na frente da cela, um com aquela cara de que queria arrumar confusão, o outro só cumprindo ordem. — Bora, n***o… revista de rotina — disse o mais alto, batendo no ferro da grade. — Revista? De novo? — respondi, encarando ele sem pressa. — Vocês tão achando que vão encontrar o quê aqui dentro? — Cala a boca e vira de costas. Mão na parede. Eu respirei fundo, controlando o sangue quente. Sabia que se desse um passo errado, os caras iam aproveitar pra me ferrar ainda mais. Fiz o que ele pediu, mas sem deixar de lançar aquele olhar de quem já tá marcando o rosto do inimigo. O mais baixo começou a mexer nas minhas coisas, revirando a cama, virando o colchão, jogando minha roupa no chão. Quando ele chutou meu chinelo pro canto, a paciência começou a escorrer. — Vocês tão procurando o quê, parceiro? — falei, sem virar. — Porque se for problema, já tão arrumando. O mais alto riu de canto, aquela risada de quem sabe que tem a lei do lado dele. — Só fazendo meu trabalho, n***o. Mas se quiser, posso deixar mais divertido. Eu apertei a mandíbula. Não ia dar o gosto de me ver perder a cabeça… ainda. A advogada precisava vir, o plano precisava rodar, e eu precisava estar inteiro para quando a porta abrisse. Quando terminaram, saíram sem dizer nada. Mas o recado ficou claro: tão tentando me desgastar antes da hora. Só que eles não têm ideia do que um homem como eu é capaz de fazer quando é encurralado. Por sorte, os filhos da pu.ta não acharam o celular. Faltou pouco. Se aquele guarda baixinho tivesse virado o colchão com mais atenção, já era. Mas Deus sabe o que faz… esse telefone ainda vai ser minha carta na manga. A comida chegou logo depois, e como sempre, mais uma vez estragada. Respirei fundo, peguei a marmita e joguei no lixo. O cheiro azedo já tava me embrulhando o estômago, e a fome só aumentava. Fazia dois dias que estava vindo assim. Se não fosse a água, talvez eu já estivesse fraco de verdade. A última vez que eu comi bem, foi no dia da visita que a Paloma trouxe as comidas para mim. Mais cedo trouxeram um pão duro com um café ralo, que parecia mais água suja do que qualquer outra coisa. Resolvi ir tomar uma ducha pra ver se aliviava o incômodo no estômago. A água gelada bateu e, por uns minutos, serviu como anestesia pra fome. Saí da cela e fui pro banho de sol. Foi aí que o Machadinha encostou. O moleque mordeu o pão que tinha na mão e me ofereceu um pedaço. — Não é muito, tá ligado… tô tentando racionar porque essas marmitas que tão vindo tá f**a — disse, com um olhar cansado. O menor tem só dezoito anos, chegou aqui tem uns dois meses. Matou o próprio pai depois de pegar o desgraçado abusando da irmã. Já falei pra ele que tem meu respeito, e que assim que eu sair daqui vou ver o que posso fazer pra ajudar. — Valeu, menor. E como tão as paradas na sua cela? — perguntei, pegando o pedaço de pão da mão dele. — Depois do esculacho que você deu nos mano, pararam de pegar no meu pé — ele respondeu, com um meio sorriso. — Tendeu… vê se fica na disciplina, já é? Qualquer parada, me aciona — falei, e ele confirmou com a cabeça. Nesse momento, vi o arrombado do guarda se aproximando de novo, com aquele ar de autoridade. — n***o! SUA ADVOGADA ESTÁ AQUI! JÁ SABE COMO FUNCIONA, ENCOSTA NA GRADE E COLOCA AS MÃOS PRA TRÁS! — gritou. Levantei do chão, dei um toque de mão no Machadinha e caminhei até a grade. Encostei, coloquei as mãos para trás e deixei eles me algemar. Graças a Deus essa mulher chegou. Agora é a hora de passar a visão pra ela. Porque se ela fizer merda e não me tirar desse inferno… vai conhecer o inferno de perto também.
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