A minha escolha

1355 Palavras
Ao ouvir a proposta absurda, uma risada involuntária escapou dos meus lábios. Gargalhei, não acreditando no que acabara de ouvir. Como alguém podia sugerir algo tão surreal? Qual a diferença entre ser uma prostituta ou uma noiva de aluguel? Em ambas as situações, eu teria que me envolver com um homem desconhecido, sem nenhum tipo de conexão emocional. E, mais importante, eu tinha uma filha. Isso era errado em tantas camadas, que nem sabia por onde começar a refutar. Fui estúpida por vir até aqui. Não deveria ter confiado em alguém que conheci no ensino médio. As pessoas mudam. Dará, provavelmente, mudou também. — Eu acabei de dizer que não sou prostituta, então você quer me "alugar" por temporada para alguém? Que tipo de absurdo é esse? Qual a diferença? Esqueça. Foi um erro vir aqui. — Eu estava tão irritada que quase podia sentir o calor da raiva subindo pelas minhas veias. Não tinha tempo para esse tipo de conversa. Minha filha estava na escola, e eu precisava urgentemente buscar ela. Precisava de uma solução, de qualquer jeito. Talvez até tivesse que vender nossa casa. A ideia de me envolver em algo assim me parecia uma tentativa desesperada de dar a volta por cima, mas era um erro. Franklin, ao contrário de mim, parecia estar convencido de que sua proposta era razoável. Ele sorriu como se estivesse me oferecendo uma oportunidade incrível, algo que eu deveria estar grata por receber. — Depende da interpretação, não é? Você agiria como noiva de aluguel por um período determinado, faria a mãe dele te odiar... e pronto. A cada mês, você receberia 5 mil reais da nossa parte. Ou seja, em seis meses, teria quitado sua dívida. Se conseguir antes do prazo, vou te dar um bônus de 10 mil reais e a dívida quitada. Não vejo nada de absurdo aqui. — Ele falava com tanta convicção que parecia achar que sua proposta era até tentadora. Mas, para mim, era uma piada de mau gosto. — Agradeço pelo tempo, mas meu objetivo não é esse. Quero pegar o valor emprestado e pagar de maneira honesta, trabalhando normalmente, como qualquer pessoa faria. Não quero envolver minha vida nesse tipo de negócio. — Eu sabia que a sugestão de aceitar sua proposta era uma ideia absurda. Trabalhar como noiva de aluguel? Para ele, parecia simples. Mas e quanto à minha dignidade, e o que faria de mim uma pessoa respeitável? — Claro, claro. Podemos fazer isso. Mas, como não há garantia, o valor será 10 mil reais por mês, por seis meses. E se houver atraso, será cobrado mil reais a mais por cada dia de demora. Começando no próximo mês, no dia 5. — Ele entregou uma folha, que tinha tudo o que ele acabara de dizer. Mas as porcentagens, disfarçadas em números, eram enganosas. Para quem não entendia de finanças, aquilo parecia viável. Mas, de alguma forma, eu sabia que era um golpe. — O quê? Eu vou pegar 30 mil e acabar pagando 60? É o dobro do valor! Sem contar com a multa absurda por atraso! E, sinceramente, não tenho condições de pagar 10 mil por mês. Se eu tivesse esse dinheiro, não estaria aqui pedindo um empréstimo! — Fui tomada por uma sensação de impotência. Como alguém que estava tão desesperada para sair dessa situação poderia acabar afundando ainda mais? — Bem, essa é a proposta que temos. Quanto maior o valor do empréstimo, maior o risco, maior o juros. O acordo é simples: você fica com o dinheiro que precisa e eu fico com o meu. Agora, você tem duas opções: aceitar a vaga de noiva de aluguel ou pagar o valor. A escolha é sua. — Franklin pegou o cartão de sua mesa e me entregou. — Me ligue quando decidir. Mas, sinceramente, já perdi mais tempo com você do que esperava. Preciso contar as novidades para seu futuro noivo. Tenho certeza de que ele vai se surpreender. Ele passou por mim sem olhar para trás, indo em direção à porta e me convidando a sair com um gesto impessoal, como se eu fosse mais uma de suas negociações. Saí dali, sem palavras, sem saber exatamente como me sentir. Eu caminhei pelo beco sem direção, perdida em meus próprios pensamentos. O céu escuro me envolvia, e, sem perceber, o tempo havia voado. Eu já havia perdido a aula de Cecília, e agora, tudo o que eu queria era sair daquele lugar. — Espero sua ligação! — Franklin gritou, ainda dentro do carro, enquanto acelerava, como se o fato de ter me feito uma proposta tão absurda fosse algo a ser comemorado. — i****a. — Respondi baixinho, enquanto sua velocidade aumentava, deixando-me ainda mais irritada. Respirei fundo, tentando manter a calma. Eu precisava de uma solução para minha filha, e não de mais um peso em minha vida. Eu estava tão atrasada que decidi pegar um Uber. O bairro era tão perigoso que a maioria dos motoristas recusava a corrida, mas, por sorte, encontrei um motorista corajoso que aceitou me levar. Em pouco tempo, estávamos a caminho da escola, mas o trânsito não ajudava. O engarrafamento parecia interminável, e a ansiedade me consumia. Cheguei à escola vinte minutos depois, meu coração batendo acelerado. Corri para dentro, onde encontrei minha filha dormindo no banco, com a professora acariciando sua cabeça, visivelmente preocupada. — Me desculpe pelo atraso. Obrigada por esperar com ela. — Disse, tentando controlar a voz trêmula. Cecília já deveria estar em casa há mais de uma hora, mas a professora teve a paciência de esperar. — Eu tentei ligar, mas o número estava fora de área. Mandei mensagens, mas não tive resposta. A Cecília passou o dia todo reclamando de dor e febre. Ficamos na dúvida se deveríamos levá-la ao hospital ou dar remédio. Acabamos dando um banho nela e a febre baixou um pouco, mas ela ainda estava muito m*l. Ela acabou adormecendo aqui, de tanto chorar. — A professora não escondia a insatisfação, e eu não a culpava. Era difícil encarar a mim mesma, principalmente quando a responsabilidade era minha. Não era a primeira vez que acontecia, e isso me dilacerava por dentro. — Meu celular estava ligado o tempo todo, não sei o que aconteceu. Agradeço por cuidar dela. — Eu estava apreensiva, tentando esconder a dor que sentia ao ver minha filha assim. Coloquei Cecília no colo, sentindo seu corpo quente como uma chama. Ela estava febril, e isso me fazia querer chorar. — O Uber está esperando. Vamos agora. Boa noite! No caminho para o carro, Cecília abriu os olhos por um instante e sussurrou "mamãe", antes de voltar a dormir. Seu cansaço era visível, e aquilo me partia o coração. Não queria que ela sofresse mais. Mas, ao mesmo tempo, sabia que precisava agir rápido. Sua saúde estava cada vez mais fragilizada. Dentro do carro, tentei acalmá-la, mas o medo apertava meu peito. Ela parecia tão cansada, mas, ao mesmo tempo, sua febre só piorava. Minha mente estava em um turbilhão. Preciso fazer algo. Ela precisa de ajuda. Chegando em casa, coloquei Cecília na cama, ainda com seu corpo quente e tremendo. Dei-lhe o medicamento que tinha em casa, tentando controlar a febre, e coloquei um pano molhado na cabeça dela. Mas, para minha surpresa, ela começou a gritar, acordando de repente. — Mamãe, faz parar! Dói muito! — Cecília gritava, e seu corpo tremia. Fui tomada por um pavor indescritível. Abraçava minha filha, tentando acalmá-la, mas era impossível. Algo estava muito errado. — Vó! Fica com ela! Vou chamar o Uber! — Fui até o quarto da minha avó, ainda sentindo o pânico tomar conta de mim. Acelerei, pegando meu celular. Precisava levar Cecília ao hospital imediatamente. Assim como o médico já havia me alertando. O corpo da minha pequena era uma bomba-relogio. E estava prestes a explodir a qualquer momento. E todas as vezes que isso acontecia, eu não podia deixar de pensar, que talvez fosse a última vez que visse minha filha. — Eu... Não tinha escolha afinal... — Pensei alto ao lembrar da proposta e ver o estado da minha filha.
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