Capítulo4

1560 Palavras
Gabriel Encontrar Heloisa fisicamente bem tirou um peso enorme do meu coração, mas só por tempo o suficiente para que ela nos contasse o que realmente tinha acontecido, e voltar quebrar o meu coração em milhões de pedacinhos. Ouvir da boca de uma mulher a perda de uma criança era f**a, mas ouvir aquilo da boca da mulher que você ama conseguia ser infinitamente pior. Ver Heloisa naquela situação, partia o meu coração de uma forma desesperadora. O único desejo que eu tinha naquele momento, era de embala-la em meus braços até que tudo aquilo passasse. Eu queria protege-la de tudo e de todos, mas, ao mesmo tempo eu sabia que aquilo não era possível. E a prova viva de que eu estava de mãos completamente atadas, estavam bem ali na nossa frente. Nos encarando entre a curiosidade e o espanto. Merda! Logo depois de tomarmos o café da manhã entre amenidades e um leve constrangimento, eu podia dizer, com toda a certeza, que estávamos passando por aquilo melhor do que o esperado. A minha maior preocupação era com dona Ana, e ela estava se mostrando mais curiosa do que chateada, então estava tudo okay, por enquanto. A conversa que se seguiu na sala da casa de Helô podia ser considerada, até mesmo, agradável. Tínhamos uma perspectiva diferente depois de termos assumido nossos sentimentos, e enquanto eu ouvia da boca daquelas duas pessoas como estavam se sentindo com tudo o que tinha rolado, escutando-os falar sobre toda aquela trajetória, eu precisava admitir que tínhamos sido um tanto quanto idiotas. Aquele mês angustiante poderia ter sido evitado caso tivéssemos tido coragem de nos expor. Porém eram águas passadas agora... Estávamos bem, na medida do possível. Mas o mais importante era que estávamos juntos! Helô estava entre a gente e um pequeno sorriso nascia no canto de seus lábios hora ou outra, sempre que um de nós compartilhávamos alguma lembrança, explicando para dona Ana como tudo aquilo começou. Até a porta da sala da casa de dona Ana ser aberta e por ela passarem Daniel, Cauê e Jean. — Não abriu o restaurante, tia? — Jean tinha sua testa franzida em direção a dona Ana, mas sempre acabava virando-a em direção a Helô, Bernardo e eu, olhando-nos num misto de confusão estampada em sua cara, enquanto ainda nos mantínhamos na mesma posição. — O que está acontecendo? — Que merda é essa?! Tira as mãos da minha prima, Bernardo! — Dani já foi mais enérgico, dando um passo para mais perto do sofá e puxando Heloisa com brusquidão pelo braço. Meu sangue ferveu ao vê-la tropeçar em seus próprios pés ao ser puxada com força. Sem falar na sua pele branca que com toda a certeza teria ficado marcada pelos dedos de Daniel. — O que tá acontecendo aqui? Não tá vendo essa p***a não, tia Ninha? Me levantei no exato momento em que ele dava uma sacudida em Helô, e só porque todos ainda estavam completamente embasbacados pela entrada brusca dos três, foi que ninguém fez absolutamente nada. Bernardo também se levantou ao meu lado, pronto para meter a mão na cara de Daniel, que naquele momento estava sendo um escroto, mas um olhar severo de dona Ana foi o suficiente para que nos mantivéssemos parada. — Eu quem lhe pergunto, Daniel. Que merda é essa?! Larga minha filha agora mesmo. — dona Ana nem mesmo precisou se exaltar, como o i****a tinha feito, para que ele obedecesse e soltasse Helô, que estava mais branca que o normal. A puxei para perto da gente, notando que ela tremia levemente. E a minha vontade de socar a cara de Dani, se possível, triplicou. — Como vocês entram na minha casa dessa forma, sem nem bater na porcaria da porta, e ainda se acha no direito de exigir alguma coisa? — dona Ana continuou, fazendo com que Jean e Cauê desviassem os olhares para o outro lado, as expressões de ambos completamente envergonhadas, porém Daniel ainda mantinha seu olhar em nós. — Estávamos preocupados, tia. — Cauê foi quem respondeu, enquanto Dani ainda tinha seus olhos em cima de nós e a testa continuava franzida, tentando entender aquilo que não dizíamos em voz alta. — A senhora nunca deixa de abrir o restaurante e hoje não abriu. Pensamos que poderia ter... p**a merda! — ele continuou falando, revezando o seu olhar entre dona Ana e a gente, até que taquei o f**a-se e entrelacei meus dedos nos de Heloisa, fazendo com que Cauê arregalasse seus olhos. — Eu sabia! Para meu espanto aquilo foi tudo o que ele disse, mirando seus olhos arregalados em nossas mãos juntas e soltando um riso baixo ao final. Infelizmente eu não podia dizer o mesmo dos outros dois primos de Heloisa. Jean ainda estava em silencio. Seus olhos, tão arregalados quanto os de Cauê, ainda miravam nossas mãos entrelaçadas. E quando Bernardo respirou fundo e entrelaçou sua mão na de Heloisa, observei a boca de Jean se abrir, enquanto uma expressão de puro choque tomava seu rosto. Daniel, que até então estava congelado em uma expressão de choque, pareceu despertar naquele momento e pude ver em seu olhar furioso o que aconteceria ali em breve. Não posso nem mesmo dizer que eu não estava preparado para aquilo. Eu não seria inocente em dizer que não estava esperando uma reação negativa dos primos de Heloisa, porém eu lamentava profundamente aquilo acontecer na casa de dona Ana. Justo quando queríamos que ela gostasse de nós, agora estávamos prestes a brigar e possivelmente quebrar toda sua sala..., lamentei enquanto esperava pelo golpe de Dani. Golpe esse que nunca veio. Levei cerca de um segundo para perceber que Heloisa tinha se soltado da gente e agora se mantinha entre nós e Daniel. Ambas suas mãos espalmadas no peito do seu primo, que ainda nos encarava com raiva, mas que não fazia movimento algum para continuar a sua investida. — Dani, não! — Vocês são tão machos que precisam de uma mulher defendendo vocês? — dei um passo em direção à Dani quando ouvi aquelas palavras, porém uma mão forte me parou. Bernardo me segurava no lugar, mas eu podia ver em seu ollhar, fixo em Daniel, o quanto ele estava se segurando para manter o controle. — Chega, Dani! — Helô voltou a falar, ainda mantendo-se entre nós e seu primo, e quando os olhos de Dani se cravaram nela a vi olha-lo sem vacilar. — Não é da sua conta! — Não é da minha conta?! Não é da minha... — Daniel respirou fundo, pegando nos pulsos de Heloisa e afastando-a dele. — Você é a minha prima! É da minha família. Será da minha conta quando seu nome cair na boca do povo! Então Henrique tinha razão? Aquela foi a primeira vez que vi Heloisa vacilar. Todos notamos quando o peso das palavras de Daniel recaiu sobra ela e a machucou. Até mesmo o i****a percebeu e, apesar de toda a raiva que eu via em sua expressão fechada, pude ver também ele pressionar os lábios numa linha fina, impedindo-se de falar algo que pudesse machuca-la mais. — Agora já chega! — dona Ana esbravejou, aproximando-se de nós e observei Bernardo se inclinar e puxar Heloisa suavemente em nossa direção. — Sim, já chega. — a voz de Bernardo ecoou e o vi segurar Helô firme entre a gente. — Eu só não parti para cima de você ainda em respeito a dona Ana. Mas se continuar ofendendo Heloisa, eu juro que esquecerei onde estou e que um dia te considerei um amigo. — Ninguém vai brigar aqui. Ninguém! — dona Ana olhou para cada um de nós e reforçou quando Dani abriu a boca. — Daniel, isso não é mesmo da sua conta! Se não consegue aceitar, saia por onde entrou. — Eu não acredito que está concordando com essa pouca vergonha. — Dani ofegou olhando incrédulo para sua tia, e quando a mesma colocou ambas as mãos em sua cintura e o encarou impassível, o vi sair apressado da sala. — Mais alguém? — a mãe de Helô encarou o resto de seus sobrinhos. A boca dela estava fechada numa linha reta e seu olhar era firme, mas o peito subindo e descendo rapidamente denunciava o quão nervosa ela estava. Jean olhou para nós uma única vez, antes de se retirar sem proferir uma palavra, enquanto Cauê murmurava um pedido de desculpa para sua tia e para Heloisa, antes de seguir o mesmo caminho que seus irmãos tinham feito. Vi dona Ana suspirar audivelmente e puxei Heloisa para um abraço. O corpo pequeno estava tremulo contra o meu, e eu podia sentir o seu coração batendo acelerado dentro do peito. Estava prestes a me desculpar por tudo aquilo, quando a porta se abriu novamente e Daniel voltou a entrar, mas agora sua mãe vinha logo atrás. Puta que pariu mesmo! Só em ver as caras que Paula e dona Ana faziam, eu sabia que aquilo não iria prestar. Afinal, não era segredo algum que a mãe dos primos de Helô tinha a fama de ser uma mulher extremamente ignorante. — p***a. — aquilo tinha saído da boca de Paula, que ao ver a mulher adentrar a sala, não conseguiu se segurar o palavrão. E eu concordava plenamente com ela. Porra! Aquilo tinha acabado de ficar pior.
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