Capítulo 5

1224 Palavras
Gabriel — Então é verdade? — a mulher começou, seus olhos escuros se cravando em nós três. Mais precisamente em Helô, que ainda tremia escondida em meus braços. — Não acredito que está acobertando essa safadeza, Ninha. Eu mandei os meninos virem aqui para saber se estava tudo bem, já que não abriu o restaurante e, de repente, Dani chega em casa falando que Heloisa está envolvida com esses... Esses... Isso é uma pouca vergonha! Uma abominação! Menina, sua mãe te criou para ser mais do que uma vagabunda! — Agora espera ai... — dona Ana deu um passo para frente, seus olhos fumegando em raiva, enquanto encarava a irmã. — Você quer mesmo começar a falar sobre pouca vergonha, tia? — aparente, Paula também tinha algo a falar, pois calou sua mãe, enquanto encarava sua tia com puro desdém. — Quer falar de pouca vergonha, quando nem você dá o exemplo? — Olha como você fala, sua... — Eu falo como eu quiser! Se você acha que tem o direito de vir na minha casa para ofender a minha irmã, eu também tenho o direito de lhe dizer umas verdades. — meus olhos se arregalaram quando a voz de Paula subiu algumas oitavas. Ela também deu um passo em direção a tia, mas foi parada por dona Ana e por Dani, que entrou na frente da mãe pronto para defende-la. — Me larga, mãe! Ela tem que escutar umas poucas e boas também. Afinal, ninguém aqui foi julga-la quando saiu o boato de que ela e o pastor andavam desviando alguns dízimos... — Paula! — Dani gritou ofendido por sua mãe e eu olhei para a velha, vendo-a corar e desviar os olhos rapidamente. Eu tinha escutado essa conversa, é claro. Mas nunca tinha dado importância alguma, afinal, não era da minha conta. Sem falar que rapidamente a fofoca foi abafada e supostamente esquecido. Lembro que na época eu senti um pouco de dó da mãe de Daniel, afinal, éramos todos amigos e ninguém merecia cair na boca do povo. Mas agora eu só conseguia sentir uma gratidão e um prazer diabólico por Paula ter tocado no assunto e gentilmente ter lembrado a velha do porque ela não deveria julgar os outros. — O quê, Daniel?! Que moral você tem para falar alguma coisa? — a irmã de Helô continuou sem nem tomar folego. — Todo errado nessa merda e quer julgar a Heloisa? Vai olhar pro seu r**o, vai! — Eu só não quero que ela fique m*l falada! E ela vai ficar quando todos descobrirem. — Você deveria ter se importado com alguma coisa quando o filho da p**a do Henrique estava espalhando coisas sobre a sua prima! — não consegui me manter calado e o lembrei, atraindo as atenções para mim e alguns olhares raivosos. — Não se meta! Ninguém está falando com você. Meu papo com vocês será já, já. — Daniel rosnou aquilo em nossa direção e antes que eu falasse qualquer coisa, Paula estava soltando uma risada sarcástica. — Está achando isso engraçado? Você vai achar muito engraçado quando todos estiverem chamando a sua irmã de vagabunda! — Retire o que disse. — dessa vez quem precisou segurar alguém foi eu, pois Bernardo estava prestes a fazer com que Daniel retirasse aquelas palavras na base da porrada. — Por que ela seria vagabunda, Dani? Só porque ela está envolvida com os dois? Pelo menos os três estão de acordo nessa relação! Não é igual a coitada da sua mulher que precisa fingir não ver os chifres que você coloca nela com metade do bairro Esperança! — Como é que é, sua... — Dani deu um passo em direção a Paula, mas dona Ana a puxou rapidamente para trás, pois a mesma estava indo enfrente-lo também. — Chega! — gritou chamando a atenção dos dois. — Eu. Disse. Chega! — voltou a falar quando Dani continuou querendo chegar até Paula. — Maria, pega seu filho e saiam da minha casa. — Eu não acredito... — Pois acredite! Vão! — dona Ana cortou sua irmã encarando-a duramente, enquanto mantinha um aperto de ferro no braço de Paula, que encarava Dani com puro ódio em seu olhar. — Você é a minha irmã, mas elas são as minhas filhas! E eu não vou admitir que você e seu filho entrem na minha casa e as desrespeite de qualquer forma. Heloisa é adulta e ninguém tem que se meter em sua vida. — Ana, isso é uma pouca vergonha. — Maria ainda tentou argumentar, e naquele momento senti Heloisa se afastar um pouco de mim. — É uma pouca vergonha quando sou eu, mas quando é o seu filho largando mulher e filhas pequenas dentro de casa para sair com amantes é lindo, não é? Já que você fecha seus olhos para isso. — eu não esperava que ela dissesse aquilo, e eu não fui o único, visto que Daniel e companhia a encarou com olhares chocados. — É isso mesmo, Dani. Nunca quis falar dessa forma de você ou até mesmo te magoar, mas você também me magoou. Eu nunca te julguei por trair a sua mulher, que é uma pessoa ótima e não merece isso, mas você e sua mãe estão me julgando por me apaixonar por Bernardo e Gabriel. Você é meu primo, e eu te amo. Mas se não pode aceitar o meu relacionamento, cortamos relações aqui. Esperei que Daniel retrucasse aquilo, mas vi com espanto ele trincar os dentes e sair dali a passos rápidos. A mãe dele ainda encarou a irmã com uma expressão de nojo, mas quando Paula a encarou com tanto nojo quanto ela nos olhava, vi a mulher se virar e sair por onde seu filho tinha ido. — Eu sinto muito por isso. — Bernardo foi quem quebrou o silencio. Se desculpando primeiro com dona Ana e depois murmurando aquilo para Helô. — Não se desculpe. Aqueles meninos tiveram uma criação horrível. E estava na hora de alguém falar umas poucas e boas para minha irmã também. — dona Ana olhou para Paula cruzando os braços e bufando. — E você... Fique longe de Daniel por enquanto. Não sei o que sou capaz de fazer se ele triscar um dedo em você. — Paula bufou, mas acabou concordando com sua mãe ao assentir com a cabeça. — E quanto a vocês... — um suspiro cansado escapou de seus lábios quando ela nos olhos. — Bem vindos a família. É toda doida e problemática, mas agora é de vocês também. Aquela frase seria até mesmo cômica se o clima não estivesse tão pesado. Eu não queria chegar ao ponto de dizer que eu me arrependia por ter arrastado Heloisa para toda essa confusão, afinal, os dias que passamos com ela tinham sido os mais felizes de nossas vidas, e conhece-la tinha se tornado um presente. Mas eu estava preocupado em como seria a vida dela se aquela reação fosse somente o começo do que passaríamos quando todos descobrirem. Acabei apertando-a mais em meus braços sem nem perceber, e quando ela retribuiu e enfiou o nariz em minha camiseta, estremecendo um pouco contra mim, me peguei pensando tristemente se ela estaria chegando na mesma conclusão que eu. Nós três sempre presamos pela nossa paz de espirito, mas naquele momento, aquilo estava completamente arruinado.
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