capitulo 28

918 Palavras

Fechei a porta do quarto com força, mas o eco da risada do Beto ainda ficou rodando na minha cabeça. Desgraçado parecia ter o dom de cutucar meu limite e, no mesmo passo, arrancar riso que eu nem lembrava que existia. Deitei de novo, mas o sono não vinha. O barulho da panela ainda vibrava no ouvido, misturado com lembrança, com plano, com raiva. Fiquei olhando pro teto, cigarro aceso no escuro, cada tragada acendendo meu rosto vermelho na sombra. Levantei de novo. Não adianta: Lobo não dorme de verdade, só cochila como fera na toca. Entrei no banheiro, lavei o rosto, a água fria descendo como tapa. Olhei no espelho: olhos fundos, barba cerrada, corrente pendendo no pescoço como peso de ferro. “O lobo não cansa”, pensei. Mas às vezes até eu sentia o corpo pedir trégua. Desci as escadas.

Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR